E
não parecendo, cá me aparecem coisas que ainda me surpreendem.
Convenhamos que em Portugal não é fácil haver coisas que me
surpreendam. Mas, por obra e graça não sei bem de quem, de vez em
quando ainda me surpreendo. Podia estar a falar da vitória do Rio
Ave em Alvalade, mas isso não é lá muito surpreendente.
Jorge
Moreira da Silva. Quem é o Jorge Moreira da Silva? Pois pouca gente
sabe ou, pelo menos, gente que interesse. Mas aparentemente o rapaz é
o 1º vice-presidente do PSD, um dos partidos que suporta o governo.
Na Universidade de verão do PSD, uma espécie de feira em que são
comprados pela JSD jovens adolescentes vendidos pelos pais, o nosso
Jorge teve direito a discurso. Sim, porque isto de ser o 1º
vice-presidente do PSD tem destas coisas. Não é só acordar e
constatar que o primeiro ministro é um Passos que nos passou à
frente porque colou mais cartazes.
Ora
o homem discursou e entre as balelas destinadas a terminar a
formatação das floppy disks dos jovens presentes, doutrinados na
crença dos Santos Mercados, desconhecendo que quando entrarem na
Universidade a sério serão bombardeados com toda a liturgia
mercantil, Jorge Moreira da Silva considerou que o governo está a
fazer um bom trabalho.
Faço
aqui um parêntesis. Eu também penso que o governo está a fazer um
bom trabalho. Isto é como no futebol, os defesas e médios
defensivos têm a vida um pouco mais facilitada que os avançados.
Porquê? Simples, os avançados têm de acertar no interior da
baliza, os defesas podem acertar em qualquer lado, desde que não na
baliza. O mesmo será dizer que é mais fácil destruir que
construir. É por esta razão que penso que este governo está a
fazer um bom trabalho. Está apostado em destruir. Destruir o Sistema
Nacional de Saúde, a Educação, o próprio povo. Nesse aspecto, o
governo está a cumprir.
O
Jorge disse que o governo está a cumprir no controlo das despesa, na
manutenção das exportações e em várias outras coisas. A única
coisa em que o governo não está a atingir os resultados esperados
pro ele próprio e pela troika que nos governa é a receita.
Dinheirinho dos contribuintes. Não está a entrar nos cofres do
estado ao ritmo desejado. Mas, atenção! Diz o Jorge que essa é
única coisa que não depende do Governo!! Logo assim, o governo não
tem culpa.
Vamos
lá analisar. As despesas do estado diminuíram 16% com o pessoal.
atendendo que a remuneração roubada aos funcionários públicos
representam 15 desses 16%, temos de convir que as despesas
diminuíram. Pelo menos 1% realmente. Mas tudo bem, 1% de redução
na despesa. E mais despesas desceram. Como agora cada turma tem 500
alunos, são precisas menos salas, menos professores e menos escolas.
E como o Sistema Nacional de Saúde deixou de existir, também é
algum que se poupa.
As
exportações portuguesas têm três pilares essenciais: a
Autoeuropa, o turismo e a gasolina. Sim, são as nossas três maiores
exportações. Sabido é que a Autoeuropa está a vender carros para
a China e a coisa parece que vai bem. O turismo tem sinais
contraditórios: mais turistas, mas menos bebedeiras. A gasolina é
exportada para os EUA. Ou seja, é comprada enquanto as refinarias
americanas não produzirem o suficiente para alimentar os monstruosos
SUVs das donas de casa desesperadas. As receitas da Autoeuropa vão
para a Alemanha, as do turismo vão para todo o lado e as da gasolina
vão para o petróleo. Atrevo-me a dizer que, dados os desincentivos
à produção da parte do governo, é um factor completamente fora do
seu controlo. Não a receita.
A
receita... TODA a gente sabia que isto ia acontecer. A economia está
a recuar aos 4% anuais. Como é possível gerar mais impostos? Quando
ainda por cima quem os paga é a classe que trabalha por conta de outrem ou que detém pequenos negócios, classe essa que está 23%
desempregada? Claro que há gente surpreendida. João Duque é uma
delas, Medina Carreira e Mário Crespo é a mesma pessoa surpreendida
(tenho uma secreta esperança que os três sejam a mesma pessoa sob
diversos disfarces). Ora, o que diz esta gente ao facto das receitas
estarem um desastre nacional, apenas comparável à morte de
D.Sebastião no meio do nevoeiro magrebino? Muito simples, é o único
factor fora do controlo do governo. Sim, até porque o IVA subiu por
vontade própria, aparentemente. Aliás, alguém já se lembrou de
elaborar um conjunto de leis que limite este movimento próprio do
IVA. A mesma coisa para o IRS e para o Paulo Portas. Bichos
carpinteiros...
Só
mais um aparte: qual o mecanismo essencial de controlo do défice?
Ora, o défice é medido em função do PIB. Ou seja, há três
factores que influem no défice: a receita, a despesa e o PIB.
Normalmente, se a receita sobe e a despesa e o PIB se mantêm, o
défice desce. Se a receita desce e a despesa e o PIB se mantêm, o
défice aumenta. E a nossa situação? Bem, a despesa está a
diminuir, e quiçá mais que a receita. Logo, o défice baixa... mas
acontece que isso não acontece. O que acontece é que o PIB está a
encolher 4%! Ou seja, a base de cálculo é 4% mais pequena! Nunca
ninguém tinha pensado nisto? O governo vai tentar diminuir o défice
até ao ponto em que nem interessem as oscilações de receita – a
base é tão pequena que um donativo de cinco euros ao estado é
suficiente para descer o défice três décimas de ponto! Brilhante,
não é? O governo está a fazer um bom trabalho – lá está,
destruir é mais fácil que construir...
Cambada...
ResponderEliminarNo meio da raiva, fizeste-me rir com a hipótese de o João Duque, o Mário Crespo e o Medina Carreira serem a mesma pessoa!!! Ideia digna dos Monty Phyton!!! :D
Digna dos Monty Python?!!
ResponderEliminarBLASFEMA!
Discordo que o IRS, o IVA e o Portas sejam bichos carpinteiros já que, aquele último joga por outra equipa...
ResponderEliminarO SNS tem mais vidas que o jason voorhees; eles bem tentam acabar com ele mas o SNS renasce de alguma forma!
Cat, falo da experiência que tenho tido ultimamente com o SNS. Está liquidado, na minha opinião. Mas as opiniões valem o que valem, tal como as experiências.
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