quinta-feira, 23 de agosto de 2012

MOTIM


Imagem Marco Joel Santos

Ver gente a acusar Assange de necessitar de protagonismo diário é agora usual. Mas basta que nos digam uma vez. A gente acredita e não precisa de dar protagonismo a alguém que o ganha a acusar outros de querer protagonismo. O protagonismo é muito giro nos próprios, mas parece que os fere quando é nos outros. Estamos habituados, afinal este mundo é um mundo cão. Não sei bem o que quer isso dizer, e se calhar é por causa dos ataques de cães argentinos, que curiosamente passaram a ser a única raça a atacar humanos neste país. Mas o mundo ainda é mais cão para os cães, porque acabam todos executados.
Bem, Assange é o homem das wikileaks. Wiki quer dizer assim nada de especial. Leaks quer dizer fugas. À letra, são fugas não-sei-como-e-tal. É o homem que nos pôs a saber o que pensam os embaixadores americanos dos portugueses. O que não foi grande revelação, diga-se. Aliás, não penso que tenha vindo grande novidade seja sobre o que for da wikileaks. Eram já coisas que todos sabíamos, ou pelo menos desconfiávamos, e anunciávamos à boca cheia pelos cafés de Portugal inteiro. Seja como for, Julian Assange ganhou uma aura de justiceiro contra as grandes corporações e entre as nações. Uma espécie de Robin Hood da informação. Um informador.
E depois há as Pussy Riot, num caso em que se compara o protagonismo destas com o de Assange. Ora as moças russas não querem protagonismo. Querem apenas Putin fora do governo da sua mãe russa. E foram julgadas e condenadas e pronto, fim da história. Ou talvez não. Como protagonistas que são, muito se falou sobre elas. E as reacções, sinceramente, fizeram-me sorrir. De vez em quando, até rir à descarada. As Pussy Riot são, para muita gente, presas políticas. Não duvido. Em Portugal, uma imensa turba de excelsos comentadores depressa acusaram Putin de politizar o julgamento. Também não tenho dúvidas. Outros, aclamam as jovens russas de lutadoras da liberdade. Aceito. Outros ainda, acham que a Rússia ainda é uma república absolutista. Se calhar, não estão longe da razão.
Mas sinceramente queria ver, em Portugal, na Espanha, na França, ou até e principalmente nos EUA, uma missa interrompida por miúdas aos berros com gorros de assaltantes de caixas multibanco à la botija de gás, no mais sagrado dos templos nacionais (em Portugal, por exemplo, poderia ser em Fátima). Queria ver quais as reacções dessas mesmas pessoas. Além do mais, penso que muita gente falou disto mas poucos sabem o que quer dizer Pussy Riot. Quer dizer pita aos saltos. Grandes, enormes. Pitas não sei, mas os saltos. Tipo Superman a saltar por cima de edifícios, lembram-se? Pussy Riot quer dizer o Motim das Pitas. Isto para não utilizar linguagem ainda mais explícita.
Não sei qual a vossa opinião. Eu próprio tenho uma opinião ambígua sobre isto. Confesso que assim que vi a Madonna com a pita aos saltos escrita ao fundo das costas, quase formei uma opinião mesmo. Mas com a Madonna não há muito a esperar, protagonismo é mesmo com ela. Mas interromper um culto religioso com uma música punk, vestidas daquela forma, e seja o que for o que vociferavam, não me inspirou muita confiança. As próprias alegam que o estado russo está de mãos dadas com a igreja ortodoxa. O que é interessante, quando o estado soviético quase a destruiu e foi igualmente criticado.
Não sou religioso, abomino a prática de religiões. Não aprecio, no entanto, que quem pratique uma religião tenha de assistir a eventos como aquele a que assistimos. Seja qual for a razão. A liberdade religiosa só é efectiva quando deixamos as pessoas realizar os seus cultos e os objectos da sua fé. Não é por eu não apreciar a prática de religiões que vou desatar a interromper missas. E não é por eu não apreciar particularmente as políticas do nosso suposto governo que vou protestar em locais que são tudo menos próprios para o efeito. Igrejas são edifícios para actos religiosos. Para protestos, existe a rua ou até mesmo a Assembleia da República ou o seu equivalente russo.
Entretanto, três jovens russas vão passar mais um ano e meio numa cadeia russa. E já lhes deram todo o protagonismo possível e imaginário. Suponho que poderão agora fazer uma carreira decente no mundo da música. Mesmo que não saibam tocar uma pussy. Mas com uma madrinha como a Madonna, nada que não seja normal… Comparar Assange com as Pussy Riot é mais que brincadeira, é brincadeira de mau gosto. Elas arranjaram uma madrinha pop, ele arranjou um advogado cuja estatura moral é maior que o mundo. São coisas muito diferentes…


8 comentários:

  1. Em tudo parecido com o mundo da moda e das revistas cor de rosa...

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  2. mas tens dúvidas? xD graças a isto elas tiveram bastante protagonismo e são faladas em todo o mundo. se, porventura, nada se tivesse passado e nem julgamento tivesse havido elas continuariam invisíveis, por isso digamos que isto jogou e muito a favor delas... estou a pensar seriamente no assunto ahahahahahahahahah

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  3. Tenho sérias dúvidas que nos cafés se falasse das coisas que surgiram no Wikileaks. Talvez nos táxis, mas nos cafés, hum... não sei...

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  4. Malena, não me parece, sinceramente. Não ponho em causa a moral das pitas. No entanto, comparar com Assange é como comparar a batalha do Gungunhana com a Grande Guerra.

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  5. Ana, elas parece que estão a recrutar... Mas não me parece que fiques bem com um capuz daquelas pela mona abaixo.

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  6. Cat, ficarias admirado com algumas conversas de café...

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  7. Cirrus, trabalhei alguns anos nos cafés e vivo entre salas de espera de consultórios médicos, pelo que nada me surpreende... mas posso estar enganado :D

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  8. Já pareces o Indiana Jones, pá.

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