domingo, 30 de setembro de 2012

IDEIAS



Ilustração Marco Joel Santos
Face ao descalabro económico que indubitavelmente enfrentamos, há que transpor a fase do lamento, e também aquela fase em que, confesso, eu próprio protagonizei do “eu avisei” e do “temos o que vocês escolheram”. O povo de um país não é apenas uma massa disforme ao dispor de alguns iluminados como Coelhos, Sócrates e Borges, personagens completamente alheios a esse povo. O povo é capaz de gerar ideias, é capaz de ver mais longe. No entanto, tem de ser capaz de o demonstrar.
Não nego, nem nunca negarei, a necessidade que Portugal tem de equilíbrio nas suas contas públicas. Mais do que procurar as razões, que penso por esta altura estarem claras, para esta situação, e das quais destaco a desregulamentação bancária, que fez disparar os apoios estatais a empresas deste sector, a situação internacional, que penso não ser actualmente já uma questão de somenos importância, e o desmando a nível financeiro do próprio estado, embarcando em aventuras cujo único propósito é enriquecer privados – a ver vamos no que dão as investigações às PPP – interessa agora propor soluções, pôr ideias cá fora. Podem até ser diarreia mental, mas talvez no meio de mil ideias que me trespassam o pensamento (assim o aniquilando permanentemente, mas isso é outra história) se aproveite uma. E seria já um contributo válido.
Não quero ser acusado de ser o velho do Restelo. Primeiro, porque penso não ter idade para tal, e segundo porque penso que o Belenenses devia ser absorvido pelo Benfica. Terceiro, porque ser acusado não é coisa que interesse muito seja a quem for. E quarto, porque de facto estou interessado numa sociedade melhor e mais justa, não no contrário.
Posto isto, não pretendo dar ideias porque sou um ideólogo do governo, até porque ser como o Borges é demasiado mau para ser verdade num ser humano. Apenas debater, apenas seguir em frente e apresentar alternativas. Isto no quadro de dívida que temos, agravado pelos desditosos Troika e Governo que, por esta altura, já todos percebemos, não nos querem fazer favor algum, mas antes mergulhar o país e a Europa numa espiral recessiva que elimine grande parte da concorrência e imponha oligo ou monopólios e escravize, efectivamente, um povo europeu que não sabe ainda o que o espera.
Por outro lado, não se iludam os possíveis leitores e todos aqueles que aqui quiserem dar um contributo. Este blogue é administrado por um defensor dos ideais de esquerda. Possivelmente, nem todas as ideias que tenho são de esquerda, mas também é possível que algumas o sejam em fortes tons de vermelho (o rosa é vermelho em decomposição, e já o é há décadas). Por outro lado, vou partir de um princípio com o qual não concordo inteiramente, que é o do crescimento económico. Numa altura em que é notório que os recursos planetários já não são abundantes, devíamos pensar em decrescer uniformemente, controlar as populações e garantir que não cresçamos para além daquilo que é razoável a nível planetário, e não procurar um crescimento a todo o custo, implicando inexoravelmente o declínio do modo de vida dos mais desenvolvidos e a estagnação dos menos desenvolvidos.
A ideia é transmitir uma série de textos curtos com medidas mais ou menos generalizadas, e refinar essas ideias por meio de debate. Há muita coisa em que podemos melhorar, mas para isso concorre, desde logo, a vontade de melhorar. E isso implica participar. Ora este blogue não é lido por milhares nem sequer por centenas, e duvido que as dezenas sejam muitas. É presunçoso pensar que pode fazer uma grande diferença. Mas pode fazer uma pequenina diferença, e é o que posso fazer. E quem quiser participar e divulgar, o prazer será todo meu.

11 comentários:

  1. Lido, assimilado (julgo), a aguardar os próximos textos.
    Divulgar? Claro!

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    1. Ah! Como sabes, gosto particularmente do vermelho! O rosa nunca colheu as minhas preferências, nem para vestir bebés do sexo feminino!

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    2. Assimilado? Não é isso que se pretende. Pretendo participação, não assimilação!

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  2. Cá estarei para ler e concordar ou rebater. abraço

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    1. Forte, não é isso que se pretende. Pretendo participação, não apenas análise. Pretendo ideias, não análise de ideias por si só!

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  3. Essa necessidade de controlar o crescimento já vem sido discutido há muito por um movimento de " onde world order" e desses gajos, não sou grande fã.
    Defendo uma maior igualdade nas distribuições de riqueza e sobretudo, uma reeducação dos valores pelos quais vivemos.

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    1. Marco, não defendo soluções extremas ou finais. Apenas uma regulação que o próprio Homem, como espécie, vai ter de fazer, mais tarde ou mais cedo. caso contrário, vamos ter, quer queiramos, quer não, os mesmos reguladores de sempre: fomes, guerras e doenças. E não é bonito de se ver.
      Também eu penso que deveríamos distribuir melhor as riquezas do mundo pelo mundo. O problema, e tu sabe-lo tão bem como eu, é que isso não se atinge sem um novo modelo económico e social - o que nos leva, inevitavelmente, a uma nova ordem mundial - ou seja, as soluções preconizadas por esses iluminados.
      Penso que a solução está na consciencialização. O crescimento económico pode e deve ser atingido apenas no que toca ao bem estar das suas populações e não no seu número.

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  4. Há quem diga que Portugal só é viavel com 3,5 a 4 milhoes de bocas.Os numeros até me parecem razoaveis....Penso que o Passos tem razão, emigrar é o caminho certo.Alias é uma constante da história de Portugal e uma medida eficaz..o problema é que quem emigra são os jovens e mais tarde ou mais cedo os velhos não tinham nada para comer nem sequer o Belmiro para lhes comprar as batatinhas.

    A situação de Portugal vai-se complicar e muito se a nossa querida europa não tomar medidas, sim porque isto já não depende de nós faças tu o que fizeres.

    Lamento mas Portugal está debaixo de controlo estrangeiro... neste momento é um país ocupado... mas mesmo assim alguns portugueses continuam a encher os bolsos e muitos continuam acomodados...como dizia o outro " nos por cá todos bem"
    O pior de tudo e que eu constato é a falta de ESPERANÇA em algumas camadas sociais mas que ainda não são significativas porque de uma forma ou outra ainda estam integradas no sistema social atraves da familia e não só (redes de solidariedade,etc) situação esta que já não aconteçe em paises mais desenvolvidos onde essas franjas são atiradas para a periferia social e marginalizadas economicamente.Aí sim o sistema tem medo desse paradigma porque esses sim já nada tem a perder, o que ainda não é o caso portugues pelo menos neste momento.

    Reviralho

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    1. Essa perspectiva da integração social é excelente e julgo ser (ainda) uma grande verdade.

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  5. Acho que a classe política deveria quebrar os grilhões partidários e expor claramente as suas ideias. Deixar o rebanho(partido) e usar de uma maior honestidade para com todos os intervenientes da cena política.

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    1. Dylan, isso, se calhar, queríamos todos nós. Mas os jogos do poder são demasiado poderosos para que tal aconteça. Só expõe quem não tem medo, e esses são muito poucos e normalmente apelidados ou de fala-barato, à direita ou de cassetes à esquerda...

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