terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

CHEIRA A NOVO, CHEIRA A ESTADO parte 2

Ilustração Marco Joel Santos

            Que um fedelho, que nunca fez nada na vida exceptuando eventualmente colar cartazes nas paredes alheias em vésperas de eleições, e mamar da imensa teta das máquinas partidárias dos partidos do arco da desgraça, diga que todos os direitos são referendáveis não me choca verdadeiramente. Ouvi falar numa doença que faz com que o intestino grosso fique ligado directamente à boca, selando o ânus. Por isso, e tendo em conta que estes jovens fedelhos sofrem desta doença de forma quase congénita, não me choca.
            Outra coisa, bem diferente, é um homem feito, de longa carreira, ainda que eclesiástica, como o Cardeal Patriarca de Lisboa, dizer que todos os direitos das minorias são referendáveis. A Igreja portuguesa tem destas coisas, e anda sempre ao contrário do Vaticano. E já sabemos que o Vaticano anda em círculos. A Igreja portuguesa deve, pois, andar em espiral. Uma espiral crescente, que se há-de perder no tempo e no espaço, a tender para o infinito com uma dimensão infinitesimal. Se é que já não é o que acontece na realidade já hoje em dia. Ora, quando o Vaticano elegeu um “intelectual” para o cargo de ocupante da cadeira de Pedro, tínhamos nós um bacano cardeal que jogava cartas, fumava como uma chaminé e bebia uns canecos. Agora, que o Vaticano elegeu para Papa um bacano que gosta da bola, finta a segurança e parece gostar de uns canecos, elegemos nós para Cardeal Patriarca uma múmia “intelectual” – aliás, muito parecido com Bento XVI, atreito a proferir atrocidades e amigo dos “pobrezinhos”, sendo a caridadezinha a sua única preocupação social.
            Deve a Igreja ter preocupações sociais? Não sei se deve, mas pelo menos pode e, verdade seja dita, quase sempre as teve, ainda que sempre ou quase sempre canalizadas para a tal “caridadezinha”. Do mal o menos, estou convencido que de todas as religiões que conheço, a católica será mesmo a melhor. Deve ter a Igreja um papel sociopolítico? Tenho a certeza que não. E tenho essa certeza porque a doutrina oficial da Igreja (e das demais religiões, por vezes de forma ainda mais marcada) não é compatível com os valores democráticos. Esta atoarda do cardeal patriarca prova-o.
            Pode haver assuntos em que o patriarca tenha razão e que haja direitos de minorias que sejam referendáveis? Se calhar até há.
Por exemplo, gostava de ver referendado o direito dos habitantes do Porto (e quem diz Porto, diz outra qualquer cidade) de ter cidadania portuguesa. Afinal, os habitantes do Porto são uma minoria.
Gostaria de ver um referendo que avalizasse, ou não, o direito dos deputados do PCP manifestarem opinião na Assembleia da República. Afinal, os deputados do PCP são uma minoria.
            Era bom que houvesse um referendo sobre o direito de homens crescidos usarem saias e chapeuzinhos ridículos. Afinal, os cardeais são uma minoria.
Um bom referendo seria aquele que perguntasse a todos os portugueses se a Universidade Católica e os colégios católicos por esse país fora devem ser pagos, em parte, com o dinheiro dos seus impostos. Até porque os alunos destes estabelecimentos são uma minoria.
Outro grande referendo seria um outro, que perguntasse aos portugueses se concordam que, em tempos de tanta crise, e em que os sacrifícios abundam, principalmente da parte de quem menos pode, a Igreja Católica e todas as outras confissões religiosas não paguem impostos, até porque os membros das Igrejas são uma minoria.
Gostaria igualmente de ver referendado o direito que o Vaticano tem de excomungar ou de exilar padres pedófilos, em vez de os entregar à Justiça para julgamento. Afinal, o Vaticano é uma minoria.
Enfim, porque não um referendo sobre a aplicação da frase do mostrengo rei espanhol dirigida ao camarada Chávez, mas desta vez dirigida ao patriarca: porque não te calas, pá? Será mais um candidato a Cerejeira? Cheira… cheira mesmo… cheira a novo, cheira a Estado.


9 comentários:

  1. http://aluxuriadeulisses.blogspot.pt/2014/01/carta-aberta-ao-sr-padre-que-oficiou.html

    :)

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    1. Obrigado pelo comentário e pelo link. O seu texto é muito pertinente.

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  2. Não tendes de obrigadar!

    Passo por aqui frequentemente e gosto de te ler (embora não concorde com tudo, mas a vida é mesmo assim! LOL)

    Eu é que tenho de te agradecer por me fazeres disparar as sinapses...

    :)

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  3. O fascismo vem a caminho, agora com o apoio de uma parte do povo ( foi sempre assim) e com o apoio dos mesmos ( a igreja é um dos apoiantes). Por todo o lado vemos, na suiça ( o referendo), na França ( o apoio à extrema direita), na Ucrânia ( os nazis na rua com seus símbolos), na Inglaterra a extrema direita a mexer, em Portugal , com estes senhores eleitos pelo povo, na Russia com ataques a homossexuais e estrangeiros ( e com o apoio do Governo e e parte da população). Isto mete medo e é mesmo apenas o início e espero não vir a ter razão.... A história não se repete, mas quase!

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    1. Camarada, estou convencido disso. Tempos negros - ou mais negros - se aproximam.

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  4. A Igreja cheira a bafio e a passado. Sempre que há uma pequena luz ao fundo do túnel, logo é extinta!
    Este (ia dizer Sr. mas acho melhor não) badameco é um insulto à nossa inteligência!

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