quarta-feira, 7 de maio de 2014

QUAL EUROPA?

Ilustração Marco Joel Santos

            Saída da II Guerra Mundial, a Europa sonhou erguer-se em uníssono, e esse sonho foi materializado no que deu origem ao que hoje temos, a União Europeia. Um espaço de democracia, de progresso, de liberdade. O sonho morreu. Não existe mais quem sonhe com semelhante espaço. A Europa tornou-se um emaranhado de burocracias enfadonhas, um aglomerado de instituições impotentes e ridículas, um espaço de muitos deveres e muito poucos direitos. Apenas o direito do capital permanece intocado, tudo o resto são regras e definições, leis e deveres.
            O facto de as leis eleitorais portuguesas não permitirem que se faça campanha eleitoral no dia e nas 24 horas antecedentes a eleições não diz nada aos senhores da Europa. Certo é que o FMI, e particularmente a senhora à la Lagardére, não tem preocupações políticas ou democratas, até porque desconhece por completo ambos os conceitos. Mas tanto o Presidente da Comissão Europeia como o Governador do Banco central Europeu deviam ter um pouco mais de atenção à gravíssima ingerência que vão cometer no dia das eleições europeias, ao atenderem uma cerimónia / conferência em Portugal. De muito mau gosto, e embora já estejamos habituados a coisas deste género - e às vezes piores - da parte do imprestável cherne, o hábito não desculpa o indesculpável.
            Mas das ingerências europeias havia ainda muito mais para dizer. O exemplo mais despudorado e completamente fora de tudo o que é politicamente aceitável foi a actuação europeia na crise ucraniana. Acusar a Rússia de ingerência na Ucrânia, quando são dirigentes europeus que aparecem nas manifestações pró-fascistas que levaram os nazis ao governo daquele país, como a tal senhora Ashton e um tal de Van Roto, ou Rompido ou o catano, alegremente se manifestando no meio da praça em Kiev como se estivessem num concerto rock, é no mínimo uma originalidade política.
            Este problema ucraniano mostra-nos até que ponto a nossa liberdade para pensar está condicionada no espaço europeu. Uma crise que começou por culpa da Europa, e da sua ganância e necessidade do gás russo que passa pela Ucrânia para os lares alemães foi de repente transformada unanimemente pela imprensa europeia numa investida russa para começar a terceira guerra mundial. A Europa está manietada pela Alemanha, sabemos disso. E a Alemanha é um país profundamente marcado pela sua história recente – até porque não tem outra para contar. Outros mais directos diriam que são um país de ressabiados. Não vou tão longe. No decorrer da II Guerra Mundial, foi na Rússia, ali até perto da Ucrânia, que a Alemanha hitleriana perdeu irremediavelmente. Vencida pela impensável política de carne para canhão de Estaline, mas sobretudo pelo seu maior general, o Gen. Inverno. Não deixa de ser engraçado que será pelo gás que mais uma crise começa, precisamente para evitar o mesmo Gen. Inverno.
            Putin e a sua pseudo-democracia, tal como o seu braço ucraniano que era o governo anterior da Ucrânia não me deixam confortável, de todo, para lamentar a queda desse governo. O que me deixa angustiado é a ascensão dos nazis ao governo ucraniano – e com apoio da Alemanha Europa. Mais ainda me sinto incrédulo quando tanto a Europa como os EUA instam a Rússia a não interferir na condução dos assuntos políticos ucranianos, quando despudoradamente se sentam à mesma mesa dos nazis e com eles assinam acordos. Ora, quais os interesses russos na Ucrânia? A passagem do gás, evidentemente. Mas também 50% da população, que é russa, quer étnica quer politicamente. Quais os interesses europeus na Ucrânia? População não é nenhuma, pois mesmo os chamados pró-ocidentais são eslavos. Económicos? Sim, Muitos. O gás, sem dúvida, mas principalmente, e é uma pena que ninguém saiba ver isto, a mão-de-obra barata às portas da Europa Central. Quem pagará tudo isto? Isso mesmo, os “periféricos”. E nós somos uma cambada de ursos. Mas não russos, pois se o fôssemos há muito que outros galos cantariam na Europa – para o bem ou para o mal. Mas nazis não seriam, como são agora. Como serão no dia das eleições europeias, algures em Portugal.


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