domingo, 29 de novembro de 2009

ANTECIPANDO

Foto Rolling Stone Magazine

Em 1977, os Pink Floyd estavam no auge da sua criatividade. Depois do poderoso Dark Side of the Moon de 73, passaram a ser a banda mais reconhecida do Mundo. Em 75, o álbum Wish You Were Here consolidou essa fama, misturando regressos intensos às origens, registados com Welcome to the Machine e Shine on You Crazy Diamond 6-9, com sons mais melodiosos em Wish You Were Here ou em Shine On 1-5, faixas que rapidamente se tornaram ícones da música contemporânea. Depois disto, o que havia para fazer? Bom, havia o Animals.

Animals é o mais brutal álbum de Pink Floyd, e ainda hoje um dos mais duros álbuns de sempre do rock. Não pelo seu som, mas também, mas mais, muito mais, pelas suas letras. Waters passou ao papel a sua ideia de sociedade de então, distinguindo os seres humanos em três raças distintas: as ovelhas, os cães e os porcos. Não cabe aqui uma análise mais profunda do tema, até porque já antes havia alguns modelos bem conhecidos deste tipo de associação. Mas os porcos passaram a ser mais um ícone da já vasta iconografia floydiana. Se em 73, foram as pirâmides de Gizeh, em 75 o Mar Morto, em 77 foram definitivamente os Porcos Voadores.

A Animals Tour foi pensada por Storm Thorgesson, o homem dos cartoons floydianos, e incluía dezenas de porcos voadores, como aquele que se vê na foto. Waters levou mesmo a moda ao extremo ao voar num dirigível com a forma de porco cor de rosa por cima de Londres. Num dos concertos londrinos, um dos animais soltou-se e causou sérios problemas de navegação aérea em Heathrow. Mas o facto que mudou definitivamente a vida artística de Roger Waters estava ainda por vir. No concerto Animals em Toronto, Canadá, um fã entusiasmado aproxima-se demasiado do palco, até um escasso metro de Roger. A reacção não foi nada simpática, e Waters cuspiu no fã. Já fora do palco, Waters ficou tão abalado pela sua reacção que desejou que essa tournée terminasse imediatamente, ou então teria de tocar atrás de uma parede que o não deixasse encarar a multidão. Além de tudo, achava que tinha chegado onde jurara nunca chegar, ao ponto em que uma estrela rock pudesse ter um poder quase ilimitado sobre uma multidão que se encontrava totalmente submissa à sua frente. Fazia-lhe lembrar outros estádios e outros protagonistas e isso angustiava-o profundamente.

A tour continuou e com enorme sucesso. A notícia do arrependimento e recolhimento de Waters trazia ainda mais gente aos concertos, mas Waters cada vez se sentia com mais medo de encarar a multidão e do poder que cada vez mais sentia nas suas mãos. Desejou muitas vezes tocar atrás da parede. Mas nesta tournée nunca chegou a acontecer. Depois de terminada a digressão Animals, os problemas na relação entre os diversos elementos da banda, nomeadamente entre Waters e Gilmour, que nunca foram famosas, agudizam-se. A banda parte para um novo álbum conceptual, mas desta vez totalmente (ou quase) da autoria de Waters. E conseguiu aquilo que queria... tocar atrás da parede.

11 comentários:

  1. ENA!Sou a primeira!
    Sabia da famosa cuspidela, do horroroso album dos animais e das zangas entre os dois.Desconhecia muitas coisas interessantes que disseste, neste artigo que é uma homenagem aos PINK FLOYD.Adquiri, no ano passado, o CD do GILMOUR , que oiço amiúde. Obrigada por tudo o que dizes...
    BEIJO DE LUSIBERO

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  2. Ainda há pouco tempo falamos sobre este concerto, tu e eu. Merece o destaque por ter sido um marco no panorama musical internacional e uma referencia para a nossa geracao.No entanto, permite-me que realce aqui o famoso gesto de Waters.
    Já disse muitas vezes que o cidadão comum tem a capacidade de idolatrar pessoas, mas também as consegue aniquilar, sem em ambos os casos se lembrar que qualquer uma delas são seres humanos iguais a ti, a mim e a todos os mortais.
    Muito ingrata a posição dos que de uma forma ou de outra se destacam. São adoptados como referencias, sem que ninguém se lembre que são apenas humanos. Essa condição torna-os vulneráveis e passiveis de passarem rapidamente de bestiais a bestas, ou vice-versa.
    Se todos nos lembrássemos disso e comparássemos as "estrelas" a mim, a ti e a qualquer outra pessoa, não os julgaríamos tanto. Não faríamos o que fizeram a um Michael Jackson, a um Elvis Presley, a uma Whitney Houston, a um Mário jardel e a tantos outros, a quem apontamos o dedo, sem tentarmos uma única vez perceber o que poderá ter motivado as suas excentricidades, devaneios e auto-destruição. Desculpa, divaguei um pouco e fugi ao tema, mas a mensagem está por ai, algures neste meu comentário.
    Abraço

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  3. E que bem que ele tocou por trás da parede... memorável!

    Deixa-me adivinhar! Amanhã temos post dedicado à "parede"... acertei?! ;)

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  4. Amigo Cirrus,
    o que uma cuspidela pode fazer.
    E com tudo isto tivemos a oportunidade de ouvir e apreciar o "the wall".


    Abraço Floydiano

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  5. Maria, não rotularia o Animals de horroroso. É simplesmente um álbum duro, e que não entra facilmente no ouvido, e que diz muitas verdades que muita gente não gosta de ouvir. Mas tinha de ser feito, para servir de antecâmara aos seguintes.
    Os diversos membros da banda nunca foram muito amigos entre si, e mesmo nesta digressão Animals, chegaram a usar t-shirts que diziam "Eu odeio (alguns membros de) Pink Floyd...

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  6. Francisco, penso que grande parte do The Wall é efectivamente sobre essa temática.

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  7. Sonhador, é a cuspidela mais proveitosa de toda a história, na minha opinião. Dela se fez uma das mais importantes obras de arte de todos os tempos.

    Abraço floydiano.

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  8. cirrus .... falas nos Pink floyd ... e eu inevitávelmente ...choro :( :)

    bj
    teresa

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  9. Teresa, e porquê??

    Não é propriamente o sentimento dominante quando se ouve. Ou seja, a tristeza. Pode haver muitos, mas esse é novidade!

    Explique lá porquê.

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  10. Olá Eusébio, gostei muito destas explicações todas sobre os Pink Floyd.Beijocas e bom feriado do 1º.de Dezembro.

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