segunda-feira, 16 de novembro de 2009

INFINITA VERGONHA

Foto JN

Há uma cimeira a decorrer. Trata-se da cimeira da F.A.O. Tem lugar em Roma. Quem melhor para fazer um discurso? Quem mora em Roma, claro. Ora, em Roma moram 2 milhões de pessoas, mas nem todas têm a notoriedade do Papa Bento XVI. Logo, o Papa fez um discurso na F.A.O. Já sei que estão todos à espera daquilo que daqui possa sair como mais uma achega ao chamado Santo Padre, uma vez que já assumi a minha antipatia por esta personagem há muito, custasse a quem custasse - e a algumas pessoas custou muito. Águas passadas não movem moinhos. Na realidade, nenhuma água move os moinhos, eles não se movem. Apenas fazem mover a mó... vem a propósito, acreditem!

Seja como for, o Papa discursou e disse algumas coisas interessantes e que merecem a minha reflexão e mesmo o meu acordo. Independentemente daquilo que dele penso, há coisas em que não posso deixar de concordar com o que o homem diz:
"É necessário contestar (...) o egoísmo que permite à especulação penetrar mesmo no mercado de cereais, pondo a alimentação no mesmo plano que todos os outros bens".
E é bem verdade! Como, em que parte de todo este processo chamado globalização, a raça humana decidiu colocar no mercado uma das poucas coisas absolutamente indispensáveis, a comida?
"A própria convocação desta cimeira testemunha, num certo sentido, a fraqueza dos mecanismos actuais da segurança alimentar e da necessidade de os repensar
".
Mais uma vez, estou plenamente de acordo. Fracassamos. Somos um embuste completo. Somos uma raça que nem com ela própria se preocupa. Como é possível gastarmos milhões em produtos de beleza, em roupas caras, em automóveis para subornar funcionários de empresas públicas, e até em produtos que nos ajudam na digestão, quando tantos milhões de pessoas (pelo menos 1000) não têm digestão para fazer?

O Papa Bento XVI tem toda a razão. Não é possível fechar os olhos a esta realidade. Não é possível que nós, aqueles que tudo têm, nos refugiemos numa pretensa crise, numa pretensa miséria. Sabemos lá nós o que é a miséria! Sabemos lá nós o que é o desespero!
Ainda aqui há dias vi um ser humano de 32 anos cometer suicídio, numa atitude cobarde, que deixou para trás mulher e filha, sós neste mundo. Mas esse era um herói e não um cobarde. Mas então o que são aqueles que perdem filhos uns atrás dos outros, que vêm toda a família desaparecer, esperando a sua vez de pertencer à estatística, desaparecendo indelevelmente, sem memória, sem nome, sem ninguém que o chore?

Como é possível que os bens alimentares sejam admitidos nos mercados das bolsas? Como podemos brincar assim com o destino da Humanidade? Quem dá a meia dúzia de crápulas esse direito? Até quando estaremos dispostos a assistir a isto? Não, não me venham com aquela velha conversa do idealismo e dos comentários do tipo "este quer salvar o mundo". Não, nem é nada disso. É apenas a constatação de que há causas pelas quais se luta neste país (e noutros) que são tão mesquinhas, tão comezinhas, tão insignificantes!

Não, não é vontade de salvar o mundo.
É apenas vergonha. Uma infinita vergonha.

58 comentários:

  1. Ó Cirrus, acrescenta aí: como é possível a "santa" igreja católica apontar tantos dedos a tanta gente, quando gasta balúrdios em construções de templos? Quanto gastou a igreja na construção da nova arena, desculpe, basílica de Fátima? Quantas bocas alimentava com os milhões lá desperdiçados? Quando é que os senhores do clero vendem os anéis para dar pão às crianças? Vão mas é levar onde o sol não brilha!

    Quanto ao restante do post, já o disse várias vezes, mas repito: os que se preocupam, sofrem comó car!"#$!
    Abraço.

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  2. Não tenho muito a acrescentar ao que escreveste, uma vez que concordo com quase tudo o que aqui dizes.
    F
    aço apenas duas ressalvas.

    A primeira tem a ver com o que o Papa disse. Concordo com o que ele diz, pena é serem só palavras, os actos não lhe ficavam nada mal, antes pelo contrário. Mas o Catsone já falou sobre isso também.

    A segunda tem a ver com o facto de considerares o acto de suicídio um acto cobarde, ainda por cima de uma pessoa que, pelo que se sabe, sofria de uma depressão profunda.
    Discordo por completo desta tua opinião.

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  3. Completamente de acordo, e se também quisesses ou queres salvar o Mundo? alguém vê mal nisso é que se vêm não é problema teu, é problema da falta de vergonha deles

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  4. Antes de mais, sei que ao escrever isto sem desenvolver corro o risco de ser visto como um retardado, mas aqui vai.

    Podes apontar também para os States (não, não é a típica perseguição ao "american way of life") por irem gastar 100 biliões de dólares para "escavar" a lua. Junta a isso os milhões e milhões gastos em guerras de m****. E agora somemos o conjunto de rios de gastos feitos da mesma forma com a Europa e chegamos a um número bem interessante, porventura.

    Bem sei, se não houvesse guerra não haveria avanço tecnológico (pelo menos tão rápido) e se não fossem as explorações espaciais estariamos bem atrasados. Há sempre um downside, certo? Os gajos que se lixem, desde que nos continuem a vender petróleo e diamantes...

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  5. Catsone,

    Não estão aqui em causa as acções da Igreja em caridade, mesmo sabendo que é uma das instituições que mais fundos distribui pelo 3ºmundo. Talvez em troca de fiéis, mas fica de qualquer forma essa nota.

    O que aqui está em causa é a valorização bolsista do trigo, do milho, da soja e do que mais te conseguires lembrar que se coma. E até terás de concordar que não é o Vaticano que advoga isso.

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  6. Pronúncia,

    o Papa não manda nas bolsas. O que ele referiu tem toda a propriedade, mesmo sendo ele um chefe de um estado rico em recursos, que, é preciso não esquecer, também reparte por diversas localizações.

    Quanto ao suicídio, qualquer um está no seu direito de se suicidar? Não será mais um fardo para quem fica? E a mulher dele, não ficou agora com duas razões para o suicídio? Ou será que, por ser mãe da miúda que morreu, não sofreu tanto como o pai? Cobardia.

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  7. Eu seria incapaz de julgar qualquer pessoa que cometesse um suicídio. As pessoas não podem ser culpadas pelo estado psiquico caracterizado por uma depressão profunda.

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  8. Forte, sabes como são vistos esses tipos de lirismo. Além do mais, está mais na moda falar de causas fracturantes... (gosto mesmo da palavra, quem terá sido a besta que a inventou??)

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  9. 13, não é só por se gastar mal gasto que as coisas acontecem. Até porque, esse dinheiro é gasto, é certo, mas não sai do planeta, continua cá, apenas muda de mãos. Os que querem ganhar dinheiro à custa da miséria humana, esses sim, preocupam-me.

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  10. Rose, muito bem, eu sou capaz, e disso não me vou penitenciar. Há milhões de pessoas a morrer à fome que se agarram à vida como podem. Não achas que esses também estarão ligeiramente deprimidos?

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  11. Cirrus,a cabeça humana é demasiado complexa tão dif´cil de entender que nem sei!E as pessoas são diferentes...Parece-me que o acto suicida deve ser de uma dor extrema e também me parece ser necessária uma força sobre-humana, para o levar até ao fim de uma forma sem retorno.

    Associo o suicidio à violência de um desespero sem limites

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  12. Rose, diz-me então porque não se suicidam todos os pais que perdem filhos... E são tantos! Por serem pobres, talvez?

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  13. Cirrus,não te zangues ,mas o que escreveste não tem muito sentido.Sabes por acaso a quantidade de pobres que se suicidam?
    O suicidio não obedece a classes.Pertence a todos os humanos,do camponês ao pintor,da desempregada à escritora,do jovem ao idoso...Ultrapassa a riqueza ou a pobreza...e olha que eu sei o que digo.

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  14. Rose, estou a falar daqueles ali de cima, do post, não estou a falar de camponeses ou desempregados, estou a falar de mães que vêm os filhos morrerem-lhes nos braços, de pais que perderam toda a família. Isso são pobres. Não confundas as coisas!

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  15. E quem te disse a ti que não há ricos a quem morreram filhos nos braços?Essa agora!Eu conheço.

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  16. Também eu conheço, Rose, e não se suicidaram todos, pois não?

    Mas já agora, penso que comparares as possibilidades de veres um rico a ver um filho morrer-lhe nos braços com a de um refugiado vítima de fome a acontecer-lhe a mesma coisa só pode ser brincadeira de mau gosto, desculpa-me que te diga.

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  17. em parte concordo com o cirrus, acho que o suicidio é uma cobardia já que quem fica é quem sofre, não quem acaba com a sua vida. mas tb é preciso ver que nem todos somos iguais psicologicamente e para além do mais há doenças de foro psíquico que alteram completamente a nossa maneira de ver o mundo, o fardo que vamos impor aos outros simplesmente não tem importância. há quem o faça por desrespeito à vida mas outros há que o desespero leva.

    em relação ao assunto mais importante do post, para mim é mais um passo para controlar aqui a gentinha pequenina, mais uma maneira de nos prender, de nos escravizar.

    It all ends in world domination..... tatatatammmmmmmm....
    mais uma teoria da conspiração. :)

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  18. Não Cirrus a morte de um filho é sempre a morte de um filho,de pais ricos,remediados ou pobres.A dor deve ser muito parecida,acho eu.Não consigo diferenciar a morte.È sempre a morte

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  19. Anne, penso que isto já passou a fase da teoria. Quando abres um jornal e consultas a "cotação" do trigo, isto não vai para melhor...

    Quanto ao suicídio, ninguém disse que essa pessoa não possa estar doente. Independentemente de estar doente ou não, como acto individual, é sempre um acto cobarde, ainda que o próprio não o sinta dessa forma. A dor que inflige não lhe diz nada, talvez por estar doente, sim, mas esse facto em nada adianta a quem fica a sofrer, nem retira minimamente a carga egoísta e cobarde do suicida.

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  20. Rose, refiro-me às probabilidades: qual é maior??

    Não brinquemos, em 99,99% dos casos, isso dá-se com aqueles que referi, até porque morre em todo o mundo uma criança subnutrida todos os três segundos. Achas que os pais dessas crianças não andam deprimidos? Ou encaram a morte como uma inevitalidade ou uma coisa normal? Não os vês, no entanto, a suicidar-se. Antes, agarram-se à vida e tentam sobreviver. A vida deles é muito difícil, Rose, é por isso que lhe dão valor. Não é por acaso que os países nórdicos têm as mais altas taxas de suicídio. O que é conseguido sem muito esforço tem pouco valor.

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  21. nisso concordo é preciso passar por muito para saber dar valor à vida, aqui a dor é igual para pobres e ricos no entanto os pobres já há muito que sabem lidar com a desgraça na vida deles.

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  22. Peço desculpa por intervir assim, descaradamente, na "discussão".

    Em 1ºlugar, relativamente ao que opinas no post, concordo com as declarações do papa e nesse caso, contigo também. E para que saibas, também não simpatizo nada com o senhor nem com a "instituição" que representa.

    Quanto ao tema do suicídio, embora seja ainda, muita das vezes, um assunto tabu, devo dizer-te, ou por outra, afirmar-te mesmo, com quase total conhecimento de causa, que só pode ser um acto de desespero. Não é mais ou menos justo do que qualquer outra forma de morte.
    A morte de um filho (sobretudo), mas também a de um familiar ou amigo muito próximo, dói com toda a certeza da mesma forma a quem cá fica. Já me morreu o pai e a irmã que adorava. Sou mãe de um adolescente que já se tentou suicidar por duas vezes e se auto-mutilou centenas delas. Será que a infelicidade ou o desespero se podem pesar numa balança? Será que ambas as formas de morte (as que referes)se podem considerar mais ou menos justas?...

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  23. Ana, ninguém falou em justiça na morte. Na minha opinião, é uma visão que nem sequer me atrevo a definir. A morte nunca é justa. Mas sinto que a vida perde valor de dia para dia. Ninguém lhe dá o devido valor, muito menos em sociedades em que temos tudo para sermos felizes. Sabes dizer-me porquê? Porque nos recusamos a ser felizes, sabendo que 9/10 da Humanidade nem sonha ter aquilo que temos? Falas em perder entes queridos? Mas, quem os não perdeu? Eu também vi um primo ser atropelado por uma avião! A mãe e o pai tiveram de lá ir, ao interior do carro, reconhecer o corpo... por um fio que trazia pendurado! Algum deles se suicidou? Sabes o que fizeram? Tiveram outro filho! Não para esquecer o outro, mas sim porque sabiam algo lhes faltava!

    Concordo com a visão de que somos todos diferentes, mas o desespero não é, não pode ser, causa de morte. Aliás, o desespero não deve ser causa de nada, deve mesmo ser um fim em si mesmo, o derradeiro sofrimento.

    Como achas que a mulher de Robert Enke se deve sentir neste momento? Feliz da vida, não? O suicida não parou sequer para pensar nos outros. Estava doente, pois estava, já sei. Mas isso não invalida que o seu acto tenha dado mais sofrimento a sentir aos outros do que provavelmente aquele que sentia. Mas isso, já sabemos, é da doença. É cómodo e limpinho.

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  24. Anne, é uma questão de perspectiva. Muitos sofreram tanto que não deixarão a vida escapar-se-lhes por entre os dedos. Outros não suportam que algo corra mal na sua vida, ficam doentes ou deprimidos, ou lá o que é, e estouram com os miolos. Não são heróis, e que me desculpem todos. Para mim, são cobardes!

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  25. Cirrus, só achei que devia alfinetar um pouco.
    Obviamente que sinto um nojo enorme sobre o facto dos bens alimentares serem produtos à mercê de especuladores bolsistas. Isso nem me atrevi a falar pq é de uma pequenês infame.

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  26. Cirrus,

    Tratar o suícido e a depressão como tratas, é uma acto de pura leviandade. Acho que saberás que a depressão é uma doença mental, logo...

    Para aqueles que acham que é uma cobardia o suícidio, associado à depressão, experimentem atirarem-se de uma ponte abaixo ou mesmo para debaixo de um comboio. Então, a coragem?!

    Espero que nunca faças parte dos 20% da população portuguesa que sofre deste problema.

    Quanto ao atleta em questão - sim -,era um herói. Já fez mais pela raça humana, através da solidariedade, do que muitos que falam muito, e como diz o outro, não fazem nada .

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  27. Cirrus e Rose

    Acho que estão a falar do mesmo duma maneira diferente. No entanto Cirrus, a doença mental é algo ainda muito pouco explicado e em que muitos se aproveitam da mesma para ter situações de excepção. Não invalida que Enke não tenha pensado na sua familia, mas já pensaste que ele pode viver num Mundo próprio? E não é o facto de ser rico que as coisas mudam, compreendo que te sintas revoltado pelo o acto que cometeu, mas é um somatório de coisas.
    Compreendo a tua apologia há vida, mas é algo complexo muito complexo

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  28. Catsone, eu percebi, mas enfim... eu hoje estou um mãos largas para o Bento!!

    :D

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  29. Não Cirrus, não é cómodo e limpinho!
    É puro desespero!

    Fico-me por aqui porque para mim, este não é um tema que possa discutir assim, com esta leveza...

    Todos nós já perdemos pessoas que amávamos, sei disso...
    Os teus primos, corajosamente, conseguiram agarrar-se à vida. Eu, se perdesse o meu filho, possivelmente "iria" com ele.

    Talvez seja uma cobarde, talvez...

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  30. Cirrus, eu sei que o Papa não manda nas bolsas e já aqui afirmei que concordo com as afirmações dele que aqui reproduziste. Ele devia era intervir muitas mais vezes, e sim também reparte em diversas localizações (aliás já referi isso neste blogue, pelo menos uma vez), mas acho que poderia fazer muito mais do que aquilo que faz, que mais não seja pela posição privilegiada que tem. Apenas isso.

    Cirrus, quanto ao suicídio, a mim parece-me um acto de desespero, pode ser egoísta, mas sempre de desespero, além de que no caso citado, havia uma doença por trás. Não lhe chamei herói, mas nunca lhe chamaria cobarde, era uma pessoa profundamente doente.

    As pessoas são diferentes e reagem de formas diferentes às adversidades e dores da vida.

    Falas dos refugiados, e com razão que se agarram à vida como podem, mas por acaso alguém saberá quantos refugiados são os que perante a miséria que vivem se suicidam?! Também os haverá com toda a certeza... mas desses ninguém fala e nem ninguém os conta... quando muito entram no infinito rol de mais um que morreu de fome, ou de cólera.

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  31. Dylan e Forte,

    Mas desde quando o facto de uma pessoa estar doente (e admito que ele estivesse doente, já o disse) faz do acto de suicídio um acto de coragem ou de heroísmo??
    Mas estamos a brincar ou quê?
    Imagina que lhe dava como dá aqueles maluquinhos na América que desatam aos tiros a tudo o que se mexe? Esses também não são doentes? São, julgo eu. Também vivem apenas no seu mundo. Logo, aquilo que fizeram, é bom?? Pelo amor de Rá!!

    O suicídio, seja por que razão for, é sempre mau, tenha ou não doenças na sua origem. Enke tinha a mente fraca? Provavelmente, a sua mulher também perdeu um filho e não se meteu debaixo de um comboio. Mas agora, graças ao acto do marido, tem mais uma morte na família a lamentar. Mas claro, isso é heróico e bom. Não, é mau e é cobarde! Não digo que Enke soubesse o que estava a fazer ou não, nem nenhum de vocês o pode dizer também, julgo eu! Mas o acto foi, por doença ou não, de uma cobardia imensa!

    Dylan, não considero que conduzir um 727 contra uma torre de aço seja heróico, porque hei-de considerar isto heróico?

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  32. Não é um acto heróico!
    Não é um acto cobarde!
    É um acto desesperado!!!!!

    Será tão difícil de entender....

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  33. Pronúncia, o acto é sempre cobarde. Pode ou não ter ideia daquilo que vai causar, da dor imensa que vai causar nos outros que cá ficam. Mas isso, nem tu nem eu nem ninguém pode julgar saber, apenas ele o sabia. Não é bom, não é heróico, é mau e origem de sofrimento, não de admiração. E o acto, em si mesmo, é eminentemente cobarde.

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  34. Ana GG, como te disse, o desespero não pode ser causa de morte! Nunca! É mau princípio pensarmos que sempre que estejamos desesperados, temos a solução fácil à disposição, o suicídio.

    É-me difícil entender que o desespero possa ser uma causa e não um efeito.

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  35. eu percebo o teu ponto de vista na medida em que a mulher dele tb perdeu um filho e nao se suicidou, no entanto pode ser uma pessoa que vê a vida de maneira diferente. o que esta situação me fez pensar a mim foi na dor inimaginável que eu teria se perdesse a minha D*. E simplesmente não me vejo num mundo onde ela não esteja. não estou a dizer que me suicidaria a seguir mas não posso prever as consequências que tal perda me iria trazer.
    E o desespero vê-se em todo o lado e desde que vi uma menina de 7 anos palestiniana que se queria suicidar por causa de todas as desgraças que tinha vivido até então (a mãe apanhou-a literalmente com a corda ao pescoço) é caso para pensar que não se trata apenas de força de vontade para viver mas de uma absoluta e irrevogavel desesperança.

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  36. Anne, e que te diz o desespero? Não é sofrimento suficiente? Não tenho filhos, nem sequer imagino a dor. Mas já a presenciei. E acredito ser difícil. Logo, devemos gerar ainda mais sofrimento a quem já sofre? Onde está a lógica disso?

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  37. nunca disse isso nem concordo. mas não posso propriamente julgar porque não sei o que se passa na cabeça dessas pessoas. tnh a minha opinião, mas isso não invalida o sofrimento deles. nem todos lidamos com a dor da mesma maneira.
    é egoista? é. é cobarde? a meu ver sim. mas não consigo julgar, apenas sentir ainda mais pesar.

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  38. Anne, a questão aqui não está em saber o que ia na cabeça dele. Até porque eu não sei, tu não sabes e cada um dos comentadores que comentam antes tão pouco hão-de saber. Trata-se de consequências, trata-se de sofrimento a gerar sofrimento. Independentemente do que estava a sentir, não pensou nos outros. Por doença? Talvez. Não interessa, o acto consumou-se na mesma e o sofrimento alastrou-se ainda mais. Só acabou para ele. Isso, para mim, inconscientemente ou não, tem um nome. Cobardia.

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  39. Anonimato por defesa contra agressões17/11/09, 01:36

    Assinem a petição em favor do fim da pipoca mais doce:
    http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2009N708

    Vá lá, façam esse favor à Humanidade.

    É que se um balde de pipocas no cinema já incomoda muita gente, vários pares de tamancos Louboutins a passear-se na blogosfera incomodam muito mais.

    Leiam. Se concordarem, assinem.

    Para que não se repitam situações como aquela em que Pipoca retalhou de forma arrogante e pretensiosa o comentário crítico de uma leitora descontente.

    Desculpem não assinar este comentário, mas vivo no pânico de que a Pipoca Mais Doce me lance juntamente com ela para dentro de um panelão com óleo a ferver. É que ela é rapariga capaz de vir a correr atrás de mim com uns tamancos de salto pontiagudo só para me neutralizar com uma pancada forte no cocuruto.

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  40. AHAHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!

    Eu até assinava, soubesse o que é isso...

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  41. Como é que tu conseguiste, com uma frase apenas metida pelo meio do texto do post, despertar atenções diferentes que não direccionadas para o tema do post? :)

    Bom, quanto ao tema do post, de pleno acordo contigo. E com mais alguns dos comentadores assim. Como é que um gajo que calça sapatos Prada ou lá o que raio terá legitimidade para falar da fome dos outros? Ah, pois, o já conhecido FAZ FAVOR DE OLHAR PARA O QUE DIGO E NÃO PARA O QUE FAÇO?

    Quanto à questão do suícidio, costumo dizer é preciso muita coragem e ser-se muito covarde ao mesmo tempo. O facto de os pobres se suicidarem menos, tem simplesmente a ver com o facto das suas mentes estarem ocupadas com outras prioridades. Sim, como por exemplo o que vão dar de comer aos seus filhos sobreviventes. Não têm sequer tempo para chorar os seus filhos mortos.

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  42. Dakota, precisamente, ambos os pontos de vista são extremamente válidos.

    Que queres, foi apenas uma frase, mas estava atravessada e tenho plena consciência do vendaval que iria causar. Nada a que não esteja habituado...

    Claro que o Papa não tem legitimidade para dizer tudo o que quer, mas a afirmação dele referente à cotação de alimentos básicos é pertinente e faz pensar.

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  43. Cirrus: não podia estar mais de acordo contigo! Enquanto decorre a CONFERÊNCIA sobre a fome no MUNDO, sua exa dá-se ao luxo de editar um disco onde não canta, só diz meia dúzia de palavras de circunstância, tudo isto "para vender a favor da FAO... Não é vontade de salvar o mundo, não! É comércio puro e duro, com os ossos à mostra dos pobres com fome! Enquanto essa coisa decorre em ROMA, vamos espreitar a mesa do almoço e do jantar e do pequeno almoço e da mernda desses "preocupados" com a fome dos outros?
    EnTRETANTO, vem nos meios de Comunicação social que 25% das famílias portuguesas estáo a cortar na alimentação... E quanto àqueles que já não têm onde cortar?
    TERIa tanto a dizer-te sobre esta matéria, que acho melhor não avançar.Não suporto certo tipo de capitalismo e muito menos do que vem dos "SERVOS DE CRISTO"!
    BEIJOS DE LUSIBERO

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  44. Maria, não deixa de ser absolutamente criminoso termos bolsas com cotações de alimentos básicos. Para mim é um escândalo. Mas para os que ganham dinheiro com isso, e à custa de milhões de mortes, não deve fazer senão bem.

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  45. Boa tarde Eusebio. A fome e a miséria convém ao capitalismo e também a igreja. Se todas os habitantes da terra fossem pelo menos remediados e desenvolvidos, nos tempos que correm, a igreja perderia muitos (MUITOS) devotos. Nao é segredo nenhum que a maioria dos homens se viram para as varias religioes, em desespero de causa. Mas isto sou eu a pensar alto...

    Quanto ao suicidio, mais do que cobardia, loucura, heroismo, a meu ver é um direito de qualquer cidadao.
    Ok, invocas aqui o egoismo de quem o pratica, em relacao a quem fica. Nao acho que estejas errado. Mas o egoismo é proprio do homem.

    Exemplo: Eu tenho plena consciencia que o tabaco me pode causar a morte em pouco tempo, no entanto, nao deixo de fumar por estar preocupado com o sofrimento que vou dar a minha Mae e as minhas filhas e a mais alguem, quando (nao se, mas quando) me for detectado um cancer. Antes da morte, vai ser o sofrimento que eles vao seguramente acompanhar. Se penso nisso de cada vez que acendo um cigarro? Penso. Mas nem por isso deixo de fumar. Sabes porque? Porque é um direito que me assiste. O de viver e de morrer, sao direitos que devem assistir ao homem, sem descriminacoes nem julgamentos.

    Desculpa o comentario longo.
    Um abraco

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  46. Boa tarde Francisco,

    A pobreza é indubitavelmente um grande negócio para alguns iluminados deste mundo.

    O suicídio é um direito que assiste a toda a gente, mas não é isso que ponho em causa. O que ponho em causa é uma pessoa ser martirizada, quase glorificada por ter praticado um acto que em si mesmo encerra cobardia, por ser apenas uma fuga.

    Mas onde é que eu disse que as pessoas não têm o direito de ser cobardes? Claro que têm. Agora não vou é chamar-lhes outra coisa que não seja cobarde.

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  47. Por esse ponto de vista sim, concordo contigo! Que nao lhe chamem cobardes, mas que tampouco lhe facam uma homenagem. Ate porque o acto em si nao tem nada de glorioso. Ate porque a pessoa que o pratica, a meu ver, se estiver no seu juizo perfeito, esta-se marimbando para o mundo e para o que pensem daquilo que vai fazer.
    Optou por isso e ponto final.
    Cobardia seria se levasse uns quantos com ele, que nao queriam ir, mas que tiveram o azar de estar por perto.

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  48. Francisco, e tens a certeza que não levou?

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  49. Tenho, Eusebio, porque a vida so acaba depois da morte. Quantas viuvas ja se atirarem para dentro da cova por quererem ir junto aos seus queridos? Essas sao quase sempre as primeiras a substitui-los, o que eu acho muito bem, porque ninguem tem de morrer porque outro morreu. Acredito no luto, na saudade, mas em pessoas normais, o tempo se encarrega de acertar oa ponteiros. Se falar-mos em filhos, aplica-se quase tudo o que eu disse, menos a substituicao, mas aprendemos a "viver sem". Isto para nao falar nos que os tem vivos e nao lhes ligam nenhuma, que aqui nao tem nada a ver para o caso. O ser humano tem a enorme capacidade de superar, de se adaptar.

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  50. No comentario acima leia-se "ninguem tem de deixar de viver, porque outro morreu"

    E aquele traco no falarmos foi sinistro :-)

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  51. Francisco, exactamente o que eu digo que deve acontecer. Não deve haver nada que o ser humano não consiga superar.

    Mas... Porque é que este ser humano foi atrás de quem morreu??

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  52. Eusebio, isso foi o que se disse, que como sempre sempre serviu para justificar umacto. Porque as pessoas querem saber...a verdade, so ele a sabia e creio que nao contou a ninguem, pois nao? E se foi esse o motivo (que eu nao acredito), fez mal. Eu nao faria. Mas continua a ser um direito seu, a meu ver.

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  53. Claro que ninguém sabia o que iria naquela cabeça, mas isso dá para os dois lados. Apesar de tudo, considero o acto de suicídio injustificável.

    A não ser que seja em determinadas circunstâncias, como no caso da eutanásia. Mas não era esse o caso.

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  54. Cirrus, isso é a tua opiniao e vale pelo que vale. Como em tantos outros temas, cada um encara-os à sua maneira.

    Sabes uma coisa? Ha assuntos sobre os quais evito pronunciar-me, exactamente por isso. Nao por nao ter opiniao sobre eles, mas por respeitar a relatividade das coisas. Mesmo as reaccoes a um acontecimento dessses sao sempre relativas.
    Sabes o unico que que considero como certo e absoluto? A morte. A morte e o amor incondicional da minha Mae. Mas isso sou eu. Outros nem isso podem dizer, porque nem as maes sao todas iguais.

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  55. Olá Cirrus

    mas para quê tanta admiração com o Papa e a igreije ?? sempre foram da maior hipocrisia, deslealdade e irresponsabilidade .
    Sempre , em todas as questões, em todas as épocas, e em todos os lugares do mundo


    bj
    teresa

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  56. Teresa, nada me admira na Igreja nem neste senhor. Mas a questão da cotação de bens alimentícios é sensível e pertinente.

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  57. E se fosse vontade de salvar o mundo?? Se todos fizemos um pouco para o salvar já não era nada mau! Se todos fizessemos um pequeno gesto todos os dias para ajudar alguém perto de nós, já eram muitos gestos bons, certo? Ou estou enganada na minha matemática?:X*

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  58. ADEK, absolutamente. Uma luta diária!! Uma avalanche de pequenos gestos!

    :)

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