segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

REVIVER O PASSADO NO PORTO

Imagem Google

Não sou das mais piedosas criaturas deste país no que concerne aos clientes do BPP. Este banco não era um banco comercial no sentido do termo, não domiciliava ordenados mínimos ou emprestava dinheiritos para comprar um apartamento ou pagar uma boda. Era um banco de investimento. Assim sendo, os seus clientes não eram, ao contrário do que nos querem fazer crer, o "pé rapado" com três tostões guardados ao longo da vida de trabalho. Eram pessoas com posses, e procuraram o melhor investimento para o seu capital, decidindo entregar fundos na mão do senhor sorridente ali da foto. Um vencedor, um perito em mercados, o homem certo para dar conselhos para investimentos proveitosos.

Nada mais errado, como sabemos, o homem afinal só sabia era desviar esses fundos não se sabe bem para onde, iludindo a vigilância de um Banco de Portugal bonacheirão, quase simpático, mas que não serve verdadeiramente para nada, a não ser aprofundar o défice orçamental através dos milhões em ordenados todos os meses. A coisa correu mal, não só o retorno não surgiu como nem o dinheiro investido apareceu.

Mas tudo isto não implica que os clientes do BPP não possam sentir-se defraudados, indignados até, com a situação. E nada mais natural que protestar. E fizeram-no hoje, na sede do BPP no Porto. Ocuparam as instalações durante 11 horas. Até que a Administração do Banco (ainda tem uma??) decidiu chamar a polícia para normalizar a situação. Ora, se eu fosse polícia, que faria? Recusar-me-ia a acorrer? Não, não poderia fazer isso. Estaria a desobedecer a ordens e o ordenado mal dá para pagar as fardas. Mas se me passaria pela cabeça acorrer e virar o feitiço contra o feiticeiro? Sim, sem dúvida.

Acontece porém que a Polícia não só acorreu como acorreu de forma violenta, expulsando os clientes à bastonada e com recurso a sprays de gás pimenta. E como pimenta no dos outros é refresco, a mim não doeu nada. Mas deve ter doído àquelas pessoas que apenas foram exigir o que era delas. Podem acusar-me do que entenderem, de populismo ou demagogia.,pouco me importa, não tenho eleições para ganhar, pelo que me é igual ao litro. No entanto, não deixa de parecer, na minha óptica, que a força policial não só não puniu os verdadeiros prevaricadores como se pôs declaradamente do seu lado. Já sei, cumpriam ordens e nada contra isso. O protesto não era legal, também já sei. Mas fica só a ideia de quão distorcido pode ser o nosso sistema policial/judicial, protegendo os ladrões das suas vítimas!

Por outro lado, uma carga policial! Não faz lembrar o passado? Qual Reviver o Passado em Briteshead (grande série), isto foi mesmo Reviver o Passado no Porto. A democracia à portuguesa, em todo o seu esplendor!

20 comentários:

  1. Mas eu também concordo com o que dizes, e mais, sou contra a nacionalização do banco porque ao fim e ao cabo quem vai pagar somos nós todos e não me acredito que dali venham lucros, mas fazer o quê? Que se lixe não tarda morremos.

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  2. Mais um homem, eu penso que, apesar de tudo, punir os culpados desta situação devia ser a primeira medida. Não porque as pessoas reavessem fosse o que fosse, mas pelo menos para diferenciar os criminosos dos outros. É um dos problemas deste país. Nada faz de outrem um criminoso, eles andam por aí como se nada tivessem a esconder. E são tantos!

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  3. Enganaste-me com o título :)Julguei que irias abordar a série ,um verdadeiro luxo de produção,realização e interpretação.

    Quanto ao post a unica dúvida que me ocorre é a impunidade do crime...a que infelizmente nos vão "habituando".

    Rose

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  4. Rose, era de facto uma excelente série.

    É precisamente no sentido da impunidade que escrevi o post. Temi que alguns entendessem outras coisas. Mas é mesmo isso que quero realçar. Chegamos ao ponto de não só se verifica a impunidade dos criminosos como ainda à criminalização das suas vítimas.

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  5. São uns clientes pobrezinhos, pelo casaco de peles que a senhora das notícias ontem usava dá para ver que sim.
    Quanto a mim é invalidar o divórcio do outro senhor, pegar nos tarecos que estão em nome da esposa, vender e começar a devolver dinheiro aos clientes pobrezinhos.

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  6. Provocação, independentemente de serem ricos ou pobres, têm direito a reaver o seu dinheiro. Não tenho qualquer horror a pobre, mas também não tenho horror a rico. Para mim, aplica-se o mesmo direito, seja pobre ou rico, o dinheiro era deles. Frisei no post que, de facto, os clientes são de posses. Mas isso não invalida o que já disse. Mais rico ainda é quem ficou com ele.

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  7. Então é assim... como é evidente, acho que todas as pessoas têm direito a recuperar o que delas.
    Mas, convenhamos, quando nos oferecem juros bem acima do mercado, o normal é desconfiar, não?! Eu cá desconfio!

    Quem acreditou e arriscou... azar! O risco comporta isso mesmo, lucros altos e perdas altas.

    Isto faz-me lembrar o caso "Dona Branca", lembras-te?! Não difere muito...

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  8. Esqueci-me... "Reviver o passado em Briteshead" foi uma excelente série... muito à frente!

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  9. Pronúncia, como já disse, estas pessoas são, na sua maioria, pessoas de algumas posses, mas nem todas. Além do mais, é expectável perder dinheiro num investimento de risco. Mas não perdê-lo todo!
    Além do mais, a maior parte dos que vemos manifestar-se assinaram contratos de fundo garantido, ou seja, depósitos a prazo normais. Não me digas que manténs o... azar! É que então estás a reconhecer qualquer depósito em qualquer banco como um investimento em que se pode ter 100% de perda de capital. Das duas uma, ou má vontade ou distracção...

    ;)

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  10. Mau, mas eu falo grego Cirrus? Eu tb acho que lhes deve ser devolvido o dinheiro, só acho desnecessário estarem com a conversa, como já ouvi, de que precisam daquele dinheiro para comer numa tentativa de apressar as coisas pq isso é absurdo só no sentido em que até o podiam querer para jogar ao lixo, mas é deles e pronto. Não têm de se justificar para mais quando a maioria deles está bem acima de um cenário que transmitem.

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  11. Provocação, é bem possível que sim, mas não acredito, por um minuto que seja, que não tenham sido apanhados nesta situação clientes que ficaram virtualmente falidos. Claro, não seria necessário sequer que isso acontece, pois o direito assiste-lhes, mas por vezes nem tudo o que parece é.

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  12. Provocação, aqui não falas grego, mas olha que lá no teu blog não andas nada longe...

    ;)

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  13. Pelo que sei, os fundos foram desviados para as "offshore" entre as Ilhas Caimão e Virgens.

    Contabilisticamente, os "produtos de retorno garantido" são tratados como depósitos. Na prática, não é bem assim: o cliente sabe que o dinheiro entregue ao Banco será aplicado em produtos financeiros com vista a gerar ganhos, mas com o risco inerente. Portanto, não confundir isso com depósitos a prazo - indirectamente, uma aplicação sem risco, onde o Banco responderá pelo eventual uso abusivo do dinheiro do cliente. Todos sabemos que o dinheiro não fica a ganhar mofo nos cofres do Banco...

    Também sabemos que o BPP enganou as pessoas. Ao fazer-se um depósito normal, era vendido outro tipo de serviço (os tais produtos de retorno garantido).

    O BPP conta actualmente com uma nova admnistração, nomeada pelo Estado.

    Até posso ver a nacionalização do BPN como um mal menor pois podia cair-se num caos total e, por arrastamento, outros Bancos afundariam o País com as suas falências numa crise económica nunca vista. Agora, não posso concordar com a nacionalização do BPP, à conta do erário público. Os investidores e accionistas que paguem.

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  14. Dylan, obrigado pelos esclarecimentos. O que de facto se passou é que foram feitos investimentos de risco a partir de depósitos sem risco, levando estas pessoas ao engano. Por isso é que penso que os que estão a protestar não serão os mais ricos.

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  15. Ó Cirrus, ponho-me no lugar destes clientes e penso no que faria se não pudesse recuperar o que é meu. Que se lixe se o BPP era ou não um banco de investimentos, devia ser sujeito à observação das autoridades e, quando a bomba rebentou, sujeito às consequências legais. Neste país está tudo às avessas, e quem tem razão é que é punido.
    Esses sorrisos nas caras de senhores de colarinho branco, quando acabam?

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  16. Cat, é nessa perspectiva que escrevi o post: a justiça a funcionar ao contrário. Toda a gente sabe de que lado está a razão neste (e noutros) caso. Mas nem isso livra os clientes da injustiça.

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  17. De má vontade não sofro, já da distracção não posso afirmar o mesmo!
    Isto de pegar apenas numa palavra para responder a um comentário parece que está a ficar moda!
    Então e a minha primeira frase?! Não a leste, pois não?!

    Mantenho o azar, no sentido em que falo de investimentos de alto risco. Admito que haja clientes que foram enganados, não me parece é que esses tenham sido a maioria, e quando te oferecem juros muito acima da média, algo está errado, não?! Eu pelo menos desconfio e muito.

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  18. Pronúncia, o mínimo para abrir uma conta no BPP eram 200K. Não me digas que os juros para este tipo de capital teriam de ser 1%, como num Banco Comercial. Além do mais, o problema está mesmo aí, é que a maioria esmagadora dos clientes do BPP foi mesmo enganada.

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  19. Cirrus, venho fazer uma proposta, se estiveres para aí virado, publica um post mais completo sobre aquela coisa do relógio dos Maias que era muito preciso, fiquei curiosa e adoraria ler mais sobre isso.

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  20. Provocação, terás de me dar algum tempo... Mas pode sair!

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