quarta-feira, 24 de agosto de 2011

ESCROTO

Imagem Google

    No dia 22 de Agosto de 2011, o excelentíssimo director do jornal Sol escreveu mais uma das suas famosas colunas de opinião no seu próprio jornal. De quando em vez, lá leio as crónicas do referido director, e por vezes lá me deparo com algumas joias, porque de facto dali saem pérolas do humor. Com certeza todos nos lembramos dos seus célebres conselhos de poupança para a classe média, que consistiam, entre outras coisas, em trocar os Audi A6 por Audi A4 ou então comprar sapatos de oitenta euros em vez de os comprar a oitenta contos. Numa tarde apenas, fui acometido de diversos sentimentos contraditórios, pois passei do puro histerismo perante as medidas propostas, para acabar o dia a pensar que , afinal, não passo de um miserável que deve começar a pensar em pedir o tal prato de sopinha nas filas das Instituições de Caridadezinha Laranjas.
    Assim sendo, de quando em vez, por lá passo os olhos e me deleito perante as capacidades cognitivas e literárias do senhor director do Sol. Devo dizer que tenho muito apreço pelo trabalho em prol da História do tio deste senhor - menos, obviamente, pelo seu trabalho em prol da política. Ora agora saiu uma crónica em volta de um artigo do DN, que tomo a liberdade de hiperligar aqui. “Dois Maridos” é como se chama a crónica, ou artigo de opinião
   O senhor director do Sol começa por achar extremamente estranho que o nome da mulher do “casal” em questão seja Carlos. Analisando a prosa, antes de mais, o autor devia ser um pouco mais polido. Já não se utiliza o termo “mulher”. Utiliza-se cônjuge ou esposa ou ainda companheira, no caso da união de facto. Vê-se que o senhor director ainda é daqueles que chega a casa e grita logo: “Ò mulher,...!”. Pois é, mas isso era no tempo dos nossos avós, senhor director. Estamos no século XXI, e o senhor director deve saber disso, pois o seu jornal até tem edição online e tudo... Logo assim, há que dizer que para o senhor director, um casal tem de ter uma mulher, senão passa imediatamente a “casal”. Ou seja, não é um casal de facto, mas sim um casal entre aspas, assim uma coisa estranha que homem nenhum que trate a esposa por mulher admite sequer conhecer.

    O trocadilho feliz, dizendo que o deputado em causa (ex-deputado) agrediu a mulher, completando com a joia nunca ouvida e completamente original “(ou seria o marido?)”, é de todo um exemplo perfeito do requintadíssimo sentido de humor do senhor director. Depois, a genuína estranheza que constitui o facto de os dois cônjuges (para o senhor director, marido e mulher) estarem já separados. Uma autêntica preocupação com a possibilidade de divórcio gay. Isto denota, primeiro, que o senhor director, numa perfeita conclusão cívica, acha que o casamento é para a vida, mesmo que haja maus tratos, infelicidade ou simplesmente que o marido se refira à sua esposa como “a minha mulher”. E faz muito bem, o casamento é um sacramento de Deus, é uma representação da união de Deus com o seu povo, e não fica nada mal dizer-se que o marido é Deus e a sua “mulher” seja o povo. Além disso, realmente tem toda a razão, então os gays andaram tanto tempo a reivindicar o casamento para agora desatarem a divorciar-se? Para isso não se casavam!! Tem toda a razão!!! Como o senhor director se casou, como conseguiu enganar a “sua mulher”, é que eu não sei... É que milhões de casais hetero separam-se todos os dias. Seria melhor nem se casarem, certo, senhor director? Certo. O casamento é para a vida. Mesmo que se apanhe no focinho todos os dias.
    O senhor director depois alude a um facto muito importante, que é o bilhete de identidade do marido (ou mulher? - como ele volta a referir) do deputado, apontando-o como uma das causas para a separação e violência entre os dois. Trata-se de um massagista venezuelano com menos dez anos que o marido (ou mulher? – como o senhor director gosta de dizer). Logo aqui ficamos a saber que uma pessoa dez anos mais nova, massagista e ainda por cima venezuelano não serve para ninguém. Não é pessoa de confiança, segundo a douta opinião do senhor director. Obviamente tem razão. Aliás, como bem sabemos todos, os milhões de casais com violência conjugal em Portugal têm todos em comum uma coisa: um massagista dez anos mais novo que o cônjuge, e ainda por cima venezuelano. Nada de espantar.
    Depois o senhor director estabelece um paralelo interessante com a situação do assassínio de Carlos Castro, pretensamente assassinado por Renato Seabra, pois Renato Seabra atacou Carlos Castro com um plasma e este atacou o marido (ou mulher, senhor director?) com um computador e um telemóvel. Ora aqui ficamos a saber realmente coisas importantes. Primeiro, que todos os gays são violentos e se matam uns aos outros, uma conclusão óbvia das palavras do senhor director. Depois, que têm uma estranha propensão para atacar com aparelhos electrónicos, talvez numa tentativa de assim a agressão ser considerada como virtual – quem sabe, senhor director? Por fim, ficamos a saber que o senhor director afinal sabe bem mais do que os pais de Renato Seabra, pois afirma que o jovem de Cantanhede é mesmo gay e mais nada. É bom ter destas certezas, não é, senhor director?
    O senhor director, depois, e estranhamente, afirma-se como sendo contra o casamento homossexual, e escrevo estranhamente porque nada nas suas afirmações anteriores nos poderia levar a tirar esta conclusão, o que eu não sabia é que o senhor director é homossexual. Não é? Ai é, é... É que eu não sou contra nem a favor do casamento homossexual, sabe porquê, senhor director? Porque não sou homossexual, por isso tanto se me dá como se me deu se os homossexuais se casam ou não. Não é nada comigo, eu só tive de decidir se estava a favor ou contra o meu casamento com a minha esposa. E estava a favor, até por razões fiscais. Mas no ano seguinte mudaram a Lei do IRS outra vez e ficamos a perder dinheiro. Fora isso... é cá comigo. Como os casamentos gay são com os gays, logo o senhor director é gay, pois tem uma opinião sobre o assunto, levando-me a crer que o pode de facto afectar de algum modo. Logo, deve ser gay. O que não tem mal nenhum, diga-se, é uma orientação como outra qualquer. Diga-nos, senhor director, já disse à “sua mulher”?

PS: o título deste post não se refere a ninguém em particular. Só o usei porque gosto da palavra, não porque pense que o senhor director do jornal Sol, o Sr.Arqº José António Saraiva é um saco de pele flácida que segura os tomates.

26 comentários:

  1. XD XD XD mt bom...

    o senhor realmente é uma abjecto ambulante... é uma "pessoa" e peras....

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  2. Coitado! Deve ser por causa dos sacrifícios que tem estado a fazer! A beber espumante em vez de champanhe francês e a alojar-se em hotéis de quatro estrelas em vez de cinco fê-lo ensandecer (ainda mais)! ;)

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  3. ADORO! Maravilhoso exercício de ironia. :D

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  4. Estou abismada. Em situações normais riria de um texto tão estúpido, escrito por um homem bronco e, perdoem a repetição, estúpido. Mas este senhor é director de um jornal e tem um espaço para nele escrever. E depois olho para tantos colegas no desemprego e pergunto-me como é possível...

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  5. Pois olha que eu tambem gosto. E o resto nem mereçe comentários.;)

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  6. Bárbara Rocha24/08/11, 17:13

    OBRIGADA!!
    Tá tudo dito!!

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  7. Só me ocorrem adjectivos nada agradáveis para classificar o "homem". Uma crónica abjecta e altamente insultuosa e cheia de preconceitos... um nojo.
    Estou com a Sara, tanto jornalista no desemprego e é isto que dirige um jornal...

    Só um aparte, eu não tenho nada contra o tratamento do outro membro do casal como "a minha mulher" ou "o meu homem", gosto até mais que esposa/esposo, marido ou cônjuge... não no sentido de posse, porque ninguém é dono de ninguém, mas antes no sentido de "entre todos/as os/as homens/mulheres, foi este/a que eu escolhi... é a minha escolha".

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  8. Esta "opinião" (entre aspas, seguindo a linha do JAS) chocou-me, enojou-me, envergonhou-me e ofendeu-me.
    Infelizmente, temos alguns directores de jornais que não merecem os cargos que detêm, mais não seja por não respeitarem os seus leitores. Veja-se o caso da igualmente abjecta Isabel Stilwell, do Destak.
    Enfim, infelizmente é a "qualidade" (mais uma vez, sigo a linha do JAS) muitos fazedores de opinião que temos.
    É triste. É muito triste.

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  9. Ana Duarte26/08/11, 04:28

    Não venho aqui chamar nomes à pessoa que escreveu o tal artigo que tanta revolta tem vindo a criar (e não terá sido intencional?). A meu ver, um jornalista não é só alguém que nos conta histórias do mundo, mas também alguém que nos põe a pensar e a opinar sobre elas fazendo-nos chegar a uma conclusão sobre os nossos proprios ideais.

    Apesar de concordar com muito daquilo que tenho vindo a ler sobre este assunto, não me parece correcto estar constantemente a chamar estúpido,idiota ou preconceituoso a alguém. Até porque é mais preconceituoso aquele que o faz. Aliás, segundo a
    linha de pensamentos que li nesta crónica, tal como JAS é gay por dar importância ao assunto, também eu serie idiota por dar importância a uma opinião idiota?

    Aquele senhor tem direito à sua opinião, tal como toda a gente o tem. Faz parte da evolução da humanidade haver uns com opiniões mais retrógradas e outro com opiniões mais progressistas. É com a discussaão de ideias que a sociedade progride.
    E por isso agradeço a José António Saraiva, que ao mostrar o quão diferente é a sua opinião da minha sobre os vários assuntos que tem vindo a escrever, me faz chegar à conclusão que o jornal que o dito dirige não se encaixa no meu perfil. E enquanto assim o for, jamais voltarei a ponderar comprá-lo.
    E aproveito também, para lhe fazer um pedido. Escreva um artigo sobre a dita "classe alta". Sobre católicos conservadores, a herança política e o nepotismo. Pois disso talvez o senhor consiga escrever um artigo mais credível. É que aqui o "povinho", que tem lutar para estudar, trabalhar e ser alguém e também gostava de saber mais sobre isso.

    E como um dia escreveu Saramago: "O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever"

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  10. O director do Sol não é contra o casamento gay, mas sim contra o uso do termo. Passo a citar: "casamento’ na nossa civilização quer dizer a união entre um homem e uma mulher, ou seja, o acto fundador de uma família. Querer que a palavra tenha outros significados é uma aberração que põe em causa as próprias referências do meio em que vivemos.
    Claro que dois homens podem viver juntos (...)"

    Ainda assim, isto não é desculpa para um dos mais preconceituosos artigos que já foram publicados no nosso país. Lamentável.

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  11. Ana, abstenho-me de adjectivar.

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  12. Malena, pois, a vida de sacrifício que deve levar agora deve estar a afectar o seu juízo. Deve ser isso.

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  13. Paula, bem vinda. Muito obrigado, vou tentando.

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  14. Sara, como já disse, abstenho-me de adjectivar o senhor. A realidade é que ele é, por direito, um grande jornalista - licenciado em Arquitectura.

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  15. LM, da palavra? Pois, não merece.

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  16. Bárbara, não sei porque agradece. Eu é que agradeço o seu comentário.

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  17. Pronúncia, abstenho-me de adjectivar a pessoa. Quanto ao termo "mulher" obviamente pode não ser depreciativo. Mas ao classificar qualquer um dos membros de um casal gay masculino como "mulher", não tenhas muitas dúvidas que vindo de quem veio, "mulher" é depreciativo.

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  18. Story, é triste e essa Isabel é outra senhora que... enfim...

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  19. Ana, é a sua visão das coisas. Se acha que o insulto gratuito é uma opinião a respeitar, quem sou eu para a desdizer?

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  20. André, deve estar IMENSAMENTE distraído, ou então não leu o artigo todo, mas eu faço uma colagem da parte que o contradiz, se não se importa:

    "Não é fácil descrever estas situações. Por essas e por outras, numa recente entrevista a Manuel Luís Goucha reafirmei a minha oposição aos casamentos homossexuais. «O casamento é entre um homem e uma mulher», respondi.". Palavras para quê?

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  21. Sem dúvida que sim. No caso de um casal gay masculino tratar um dos membros por "mulher" é depreciativo.

    Só um aparte, e relativamente ao comentário do André. Não se estará a fazer alguma confusão entre duas palavras diferentes, casamento e matrimónio?!

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  22. Pronúncia, não pode haver matrimónio gay. Pode haver casamento gay. Logo, não há confusão. Os gays podem casar, mas não podem contrair matrimónio.

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  23. Por isso mesmo é que falei em confusão. É que parece-me que há muita gente que confunde os dois termos...

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  24. Sim, mas no caso deste artigo não há qualquer confusão, uma vez que o autor do artigo nunca escreve, em momento algum, de matrimónio, mas sim de casamento, contra o qual se afirma tão categoricamente quanto eu transcrevi. Onde está a confusão?

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  25. Fiz o reparo a propósito da transcrição do artigo do AS feita pelo André Miguel, e (re)cito:

    "...e ‘casamento’ na nossa civilização quer dizer a união entre um homem e uma mulher, ou seja, o acto fundador de uma família. Querer que a palavra tenha outros significados é uma aberração que põe em causa as próprias referências do meio em que vivemos.
    Claro que dois homens podem viver juntos...
    "

    Acontece que o casamento é um acto civil, com regras civis, e neste é possível o casamento entre pessoas do mesmo sexo, enquanto que o matrimónio é um sacramento católico e este sim, só admitido entre pessoas de sexos diferentes.

    O que me parece é que muitas as pessoas que são contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e talvez na falta de outros argumentos, são contra o uso da palavra casamento quando aplicado a homossexuais, alegando, como fez o autor do artigo de opinião, que "... casamento na nossa civilização quer dizer a união entre um homem e uma mulher...". É nestes casos que eu contra-argumento se quem defende isto não estará a confundir casamento com matrimónio... é que são mesmo dois actos diferentes.

    (Está explicadinho o meu comentário ou vou ter que fazer um desenho?!) ;)

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  26. Pronúncia, eu percebi o teu comentário. Simplesmente, como o autor do artigo nunca refere preceitos religiosos, a que se referem o matrimónio, tenho forçosamente de deduzir que ele se refere exclusivamente ao casamento civil.

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