segunda-feira, 8 de agosto de 2011

PES

Foto Google
PES é um jogo de computador ou consola, e não vou dizer que nunca o joguei e armar uma de intelectual que apenas usa o computador para pesquisar termos acerca do genoma humano ou da relação entre o período da baleia azul com a cor do mar vermelho. É verdade, também já joguei PES e admito que nunca fui o melhor do mundo naquela coisa. Quer dizer Pro Evolution Soccer, ou seja Futebol Pró-Evolução, seja lá o que isso for ou o que ia na ideia de quem inventou o jogo.
Actualmente, porém, PES quer dizer ainda uma outra coisa. Quer dizer Plano de Emergência Social. Levando à letra, é um projecto do governo que se destina a colocar no mesmo Plano todos aqueles que não enfrentam emergências financeiras, fazendo de um ponto de vista social aceitável. Ou melhor ainda, é um plano para instituir de vez a miséria a quem tem o azar de ser pobre.
A instituição da caridadezinha barata vai substituir medidas um pouco mais acertadas, como o incentivo ao emprego, mas é certo que é mais fácil e muito mais barato. A ideia é, basicamente, colocar aqueles que fazem o serviço social a ganhar rios de dinheiro, desde que dêem um prato de sopa a quem tem fome. Ora, sabemos, de antemão, qual o resultado destes planos, até porque décadas de experiências feitas em África redundaram sempre no mesmo resultado: a perpetuação da miséria e da dependência da caridade de outros para assegurar a sobrevivência dos necessitados.
Além de instituir a caridadezinha barata, ou talvez o aproveitar do sacudir da toalha de jantar dos ricos para alimentar os pobres, como é exemplo a distribuição de medicamentos cujo prazo esteja prestes a expirar aos pobres, coitadinhos, há depois algumas medidas que são do mais interessante, do ponto de vista humano, que pode haver.
A medida que o governo quer implementar de colocar a trabalhar os beneficiários do SRS não me choca minimamente. Mas parece que os querem colocar a trabalhar em instituições privadas de solidariedade social. Ora, sabemos que, destas, 99% são da Igreja e o outro 1% é das dioceses. Arranjar mão-de-obra grátis à Igreja Católica é sempre um bom sinal. Em vez de os colocarmos ao serviço das Juntas de freguesia, por exemplo, onde o seu trabalho poderia ser, de facto, relevante... Mas, e aqueles que realmente usufruem do SRS com fundamento? Não há? São, portanto, todos parasitas? Ok, sigamos em frente. Não há doentes crónicos, nem nada disso... É tudo ciganada que não quer é trabalhar.
Já um pouco diferente é fazer o mesmo aos desempregados, que usufruem do Subsídio de Desemprego. Parece que o governo os quer pôr a trabalhar nos mesmos moldes, com a diferença que estes até podem vir a trabalhar em empresas privadas. Uma maravilha! Uma invenção da roda! Por esta altura está o tio Belmiro a fazer contas a quantos empregados vale a pena despedir e pedir desempregados pagos pelo Estado para os substituir! Uma medida extraordinária, de visionário, pois reduz o desemprego! Não acreditam? Quantos de vocês aceitariam esta solução? Parece ter-se esquecido que um desempregado é um trabalhador que andou a descontar para que a Segurança Social lhe possa valer numa hora de necessidade, ou seja , no desemprego. Toda a gente esqueceu esse pormenor? Óptimo, então, dêem-me o desconto que faço todos os meses para a SS, que eu cá me arranjarei no futuro sem ela.
Além de tudo o mais, é bom lembrar que ninguém está livre de ir parar às listas de desemprego, por muito mais bem empregado que esteja agora, e os funcionários do BPN que o digam. Mas, segundo a visão do governo, a questão é que esses milhares de parasitas do Estado que andam a receber o Subsídio de Desemprego são uma cambada de calaceiros que não querem é trabalhar! Pô-los a produzir é que é importante, mesmo que trabalhem de graça. Ou melhor, de graça não, pois vão receber o Subsídio que pagam aqueles que estão prestes a perder o emprego porque os seus patrões preferem os que vêm do desemprego, já que não têm que lhes pagar! Extraordinária forma de diminuir o desemprego – basta aumentá-lo, que ele diminui.
Nem vou falar do imoral que é um patrão, tenha ou não dificuldades, ter pessoa a trabalhar para ele sem lhes pagar. Não é só imoral, isso tem um nome, um nome muito antigo, velho de séculos, e que foi abolido há uns tempos. Preparamo-nos para instituir a escravidão por Lei. O que é um avanço civilizacional considerável, uma vez que o governo tem o PES e garante um prato de sopa a cada pobre deste país, sem problemas. Até porque se prepara para injectar 400 milhões de euros nos bolsos de quem manda fazer a bendita sopinha. E a sopinha é igual para todos, quer se tratem de escravos ou de homens livres.
Estamos perto de recuarmos décadas na nossa história. Estamos perto do maior recuo civilizacional deste país no último século. Estamos perto de assistir de novo aos tempos em que se construíam palácios monumentais em vilórias do campo, à custa do suor e fome do povo, desde que se possa albergar numa modesta ala desse palácio uns quantos alvos de misericórdia. Que fazemos para evitar isto? Nada, absolutamente nada. A maior parte do povo quer um pratinho de sopa, a maior parte do povinho, que já se viu privado do seu subsídio de Natal, viu os transportes aumentar, ao mesmo tempo que em meio ano se teve de pagar 600 milhões de euros às concessionárias das ex-SCUTEP, lembram-se?), e enquanto vê 430 nomeações do governo para altos cargos, e ainda não estão lá cerca de metade delas, enquanto vê ser vendido um activo do Estado, que nos custou a todos cerca de seis mil milhões de euros, por um prato de lentilhas, ao mesmo bando que o roubou descaradamente, enquanto vê anunciado o fecho de 300 escolas, enquanto vê que não há dinheiro para a polícia funcionar, enquanto vê que o novo ministro da saúde já prometeu fechar urgências onde haja alternativas privadas (?!!!!) - o que quer este povinho? Quer um prato de sopinha. De letras, já agora – talvez ainda se consiga escrever liberdade no prato de sopinha...

18 comentários:

  1. Boa noite, Cirrus ))

    Sempre assertivo. Não me choca que os beneficiários do fundo de desemprego trabalhem. Até porque se evitava muita fraude. Mas sempre a bem da comunidade e nunca no sector privado. E se eu soubesse que o BPN ia ser vendido por 40 milhões depois do Estado lá por 500, também eu fazia uma proposta de compra. Até dava 490.

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  2. Friend, não é perfeito mas é o "que há cá".
    Relativamente aos medicamentos, porquê não aproveitá-los antes que o prazo expire? são 6 meses antes de expirar, não estão fora da validade nem perderam as suas propriedades.
    Acho bem que se ponham pessoas com RSI ou no fundo desemprego a trabalhar para a sociedade. Como tu, não concordo que sejam em instituições privadas ou na igreja. Para mim poderiam fazer voluntariado em hospitais, limpezas florestais, ajuda às juntas, etc, etc.
    Nem falo deste ministro da saúde...

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  3. Pobre que é pobre aceita medicamentos cujo prazo esteja a acabar, pão duro e sopa quase a azedar!!
    Então também não ouvimos o Dr. Paulo Portas a afirmar que o SRS deveria ser dado em senhas para alimentos em vez de em dinheiro?? Sim! Pobre que é pobre não deve ter dinheiro para decidir se come atum ou frango!! Pobre que é pobre não pode querer comer um pastel de nata porque é mais caro do que um pão com manteiga!!

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  4. Salvador, obrigado. Mas eu gosto de saltos altos.

    ;D

    Vá lá, até davas 490,0001... Não sejas forreta como o bando do pedaço de pau.

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  5. Cat, não é perfeito e não devia sequer ser pensado para haver em lugar algum. Os medicamentos são bons??? Maravilha, dêem-nos às Farmácias que eles vendem-nos outra vez! Porquê só para os pobres? Dêem uma oportunidade a que possam ser pagos por quem pode, antes.
    Tu és, eu não sou. As pessoas olham para um desempregado como um parasita, como tu agora olhaste. Uma despesa. Lembra-te que podes vir a ser um, nunca se sabe. Não descontas para a Segurança Social? Não tens direitos? Nasci num país diferente, hoje, de certeza absoluta. E se vão trabalhar, como vão arranjar emprego? Como vão ter tempo??? Alguém me explica como se eu fosse realmente burro?
    Beneficiários do SRS a trabalhar, sim, nas Juntas de Freguesia - apenas e só!! E aqueles que puderem, pois há muitos que realmente não podem. E esses? que fazer com esses? Eliminá-los nas câmaras e queimá-los nos fornos?

    Desculpa, Cat, mas penso que estás muito aquém do que estás medidas representam. Mas mesmo muito.

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  6. Malena, penso que tu estás bem à frente!...

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  7. Easy friend, não considero os desempregados parasitas, onde disse isso? Não os olho com desprezo! Isso de "discutir" coisas virtualmente dá nisso: mal-entendidos.
    Eu não cresci em meios ricos, daí conhecer a pobreza muito bem, infelizmente. Graças a alá nunca me faltou nada, às custas do suor dos meus pais.
    Existem, no entanto, muitos parasitas no país desempregados... e empregados.
    Relativamente aos medicamentos não acrescento nada. Dar à farmácia? Para darem (ainda) mais lucro? Eu dou imensos medicamentos aos meus utentes, medicamentos que passaram por outros e que, não fazendo efeito, passe-os a quem deles precisava. Infelizmente, mantenho-me rodeado de pobreza, física e de espírito.
    Não me parece que esteja aquém dessas medidas, não as encaro da mesma forma que tu, se calhar.
    Estar empregado inviabiliza a procura por outro emprego? Acho que não, podemos sempre encontrar outras possibilidades, certo?
    E até posso ficar sem emprego, mas sem trabalho nunca ;)

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  8. Cat, a questão dos medicamentos é simples. Se são assim tão bons, servem para todos, não? Então porque não revendê-los às Farmácias para que estas os vendam de novo a quem os possa comprar? Porque são apenas para os pobres? Entendes onde quero chegar?? A partir do momento em que se começa a diferenciar cidadãos com base nas suas posses, é apenas o começo. É o declínio da nossa sociedade.
    Quanto ao resto, tens razão, não invalida a procura de emprego, o trabalho, efectivamente. Se for em part-time.

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  9. Cirrus, friend, isto é muito complexo para ser conversado em caixas de comentários.
    Talvez um dia pagues mas é uma bejeca com mariscos do Eusébio e discutimos esta problemática (cada um com a sua visão das coisas).

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  10. Não se trata de complexos. Trata-se da realidade. isto já existiu em Portugal. Chamava-se Estado Novo. Também existiu na Alemanha, na Itália, na Espanha...

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  11. Relativamente aos medicamentos não acrescento nada. Dar à farmácia? Para darem (ainda) mais lucro?

    Catsone,

    Parece que tem de rever esse seu conceito de Farmácia...Parece-me um bocado desactualizado.

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  12. Cirrus,

    Alguns começam a ficar fartos. De repente, lembrei-me da proximidade de Londres, se aquilo será mesmo vandalismo ou o futuro pão nosso de cada dia na vida dos ibéricos...

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  13. Dylan, o que está a acontecer em Londres é um simples motim. E eu sou o Pai Natal. Venham elas, estamos a precisar urgentemente de mexer esta merda antes que as moscas se empanturrem demais.

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  14. jogo PES regularmente. Quanto ao resto, sabes a minha opinião.

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  15. Pulha, o joguinho vicia, não é??

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  16. Cirrus: parece que arranjei maneira de comentar!
    Olhe, amigo, EU SOU REALMENTE BURRA!Não percebo nada do que a tralha dos "bons tachos" anda as fazer, e já sei que vai sobrar para os "pobrezitos"...sejam sopas, restos de medicamentos, pagar impostos que os "tachistas abutres" não pagam...morrer na miséria...e continuar ,depois de morto, a pagar a taxa para ter saúde...
    Beijo
    Mª ELISA

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  17. Maria, parece-me ser uma mistura disso tudo, de facto.

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