terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DOS FILHOS DA PUTA


Ilustração de Marco Joel Santos
É provável que vivamos num país de gente forte. Como aquele do bebé fote e do bebé mago e do bebé que manda o outro bebé fazer-se sexo. Vivemos num país de gente galharda, de heróis inesperados, de muitos salvadores e poucos salvados. Até porque quem precisa de ajuda num país com tanta oportunidade de subir a escada social ou é coxo ou mentiroso, e bem sabemos que mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo. Não sei se é bem assim, porque conhecia um coxo que corria pouco e eu apanhava-o sem grande dificuldade. Se estivesse bêbado, ainda o apanhava mais rapidamente. Se ele estivesse bêbado, caía para o lado e deixava de ter graça. Por acaso era meu primo afastado e sempre lhe chamaram o “maneta”, coisa estranha para um gajo que só era coxo, mas tinha as duas mãos. Mas o facto permanece que quando nos encontrávamos um de nós estava sempre bêbado, pelo que ou o apanhava facilmente ou ele caía para o lado... Também acontecia defrontarmo-nos à paulada, mas nunca teve grandes consequências, pois ele já era coxo e eu estava bêbado.
Escrevia eu que num país onde as oportunidades para se subir na vida são infinitas não faz sentido alguém pedir ajuda. E essas possibilidades são tantas que só me ocorrem algumas. Subir na vida em Portugal pode ser conseguido através das escadas dos prédios, que é subir à custa do nosso esforço, ou de elevador, que é subir à custa dos chineses. Também se pode subir na vida se nos mudarmos para um andar acima daquele em que vivemos, se visitarmos a Serra da Estrela fora do Carnaval e se as estradas estiverem abertas do Sabugueiro para a Torre, se estivermos realmente perto de um bombista suicida no momento da estupidez, ou até mesmo se viajarmos num daqueles comboios de dois andares que há a circular ao redor de Lisboa. Também podemos subir na vida se dermos o real pacote e entrarmos para a Maçonaria, pois passamos de indigentes a donas de casa com aventais coloridos, coisa que não me atrai grandemente. Também se pode subir na vida se formos para a Opus Dei, mas ouvi dizer que as vergastadas doem como o catano e não estou para aí virado. Não sou Cristo nem Portas.
Por isso não percebo por que razão o Pedro Passos Coelho, que dizem ser primeiro sinistro de Portugal, e um excelente candidato à reencarnação do salvador da pátria, e não se iludam, que não é um rei desconchavado do século XVI desaparecido numa tarde de nevoeiro e com tendências floristas, mas antes um iconomista de Santa C*** Dão, resolveu chamar piegas ao povo deste país. Não entendo. Não é de salvador da pátria que se preze chamar nomes aos que salva. Durante uma operação de salvamento, devemos incutir confiança na vítima, e não chamar-lhe nomes. A menos que a vítima esteja morta, e nesse caso podemos descarregar o vocabulário futebolístico do fim de semana, que poupamos porque o árbitro até se portou menos mal, que ela não leva a mal. Na verdade, já terá levado durante a vida, mas não foi a mal nem a bem. Só porque é uma vítima portuguesa, o mais certo é já ter levado no cu umas poucas de vezes.
Além disso, “piegas” não é nome que homem que se preze chame aos outros. Não percebo. Se o gajo está genuinamente zangado porque alguns portugueses ainda dizem um “ai” sumido aquando da inserção da sua grande glande ideológica no buçal e calejado esfíncter plebeu do dizedor de ais compulsivos, podia enveredar eventualmente por um adjectivo menos colorido e mais másculo, como... sei lá... “Seu merdoso”, ou até talvez “Seu grande Cavaco!”.
Sim, e isto porquê? Porque não há pieguinhas maior em Portugal que o seu pseudopresidente (bate na madeira) e as suas dificuldades com as reformas parcas de 10.000 deles... Aguardo, pois, que na próxima audiência do pseudopresidente ao primeiro sinistro salazarento este último brinde o primeiro com um sonoro “Deixa lá de ser piegas, ò avô mija-para-os-socos cavaquinho!”
Tudo para dizer apenas uma coisa: como é belo este país! Como são corajosos os nossos líderes, que nos avisam que nos vão pôr a viver pior para que possamos viver melhor! Como é lindo e democrático quando as pessoas modestas com ordenados de seis mil euros, fora o que roubam por inerência ao cargo, insultam os mais ricos da sociedade, esses malfeitores dos trabalhadores que auferem o fabuloso salário mínimo ou pouco mais que isso.
Como é bom ser filho da puta neste país! Há países assim. Há países em que é insustentável a leveza dos filhos da puta.

32 comentários:

  1. Deixa de ser piegas, Cirrus! Há lá melhor que ganhar o ordenado mínimo e não saber o dia de amanhã!

    E nem imagino o gozo que será levar no rabo sem poder gemer sequer...

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  2. Noya, pois... Pois mesmo...

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  3. Ui, é bom ler-te zangado!:)

    Não vou perder tempo com tamanho jumento que andou toda a vida a saltar de empresa em empresa dos padrinhos do partido. Pouco perceberá de trabalho e de sofrimento.

    Deixo a letra da música dos Mata-Ratos que é adequada ao propósito:

    Toda minha a trabalhar
    Ao servido dos que estao no poder
    Curvando as costas dizendo que sim
    A tua e um inferno
    sem fim

    Refrão:
    O eterno enrabado... enrabado pelo estado

    eles e que sabem eles e que mandam
    eles eh que sao od donos da vida
    E tu tas calado e segues em fila
    Faz o teu trabalho e mantem-te na linha

    Refrão:Toda uma vida desperdicada
    A fazer o papel da ovelha castrada
    Mas tudo esta bem e assim a vida
    Continua calado e mantem-te na linha
    O eterno enrabado... enrabado pelo estado




    Refrao:
    O eterno enrabado... enrabado pelo estado

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  4. Eu nem me importava que ele me chamasse piegas, se fosse um gajo com curriculo relevante e estivesse efectivamente a fazer alguma coisa de jeito pelo país. Assim é só insultuoso... Mais uma vez.

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  5. Quando te zangas escreves ainda com mais garra!!
    Insultos merecidos, num texto que vai muito para lá do calão!!

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  6. Dylan, não estou zangado. Nem poderia estar. Não com o energúmeno. Ele não sabe mais, está lá porque alguém o empurrou e todos nós o consentimos. Ou pelo menos a maioria de nós...

    Quanto aos MR, o pessoal só se lembra do A minha sogra é um boi... Mas o facto é que o punk incomoda mesmos muita gente...

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  7. Eu cá acho muito mal o que escreveste...



    É um insulto ao Milan Kundera inspirares-te no título de um excelente livro (faz parte do meu top 5) para descreveres tamanhas misérias...


    A falta de vocabulário do sinistro é só uma pequena lacuna que ilustra todas as outras lacunas que tem (essas sim enormes e que muito me preocupam).

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  8. Sara, de insulto em insulto até... quando...?

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  9. Malena, como já escrevi aí em cima, não estou zangado com ele. Ele faz o seu papel o melhor que pode. Estou zangado com o povo português. Porque até merece mesmo que lhe chamem nomes. Mas não piegas.

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  10. Pronúncia, o Kundera que me processe... Além disso, a parte dos filhos da puta é totalmente distinta...

    A mim já preocupou. Já não me preocupa.

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  11. Falei em inspiração e não em plágio... :)

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  12. Eu só me inspiro com o Benfica... Isso de Milan é calúnia.

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  13. Falei no escritor... não no clube.

    (o frio está a afectar-te a compreensão) :D

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  14. Mas eu falei no clube e não no escritor...

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  15. Milan é muito fino. AC Milão, carago!

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  16. Dylão, o frio também te congelou a massa cinzenta?!... Milan, o Kundera... o escritor...

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  17. Ou AC Milon-e!!!

    E ela a dar-lhe com o escritor, como se fosse uma merda muito fina.

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  18. Não sei se é uma merda fina, grossa ou mesmo líquida... mas sei que vão continuar a dar-lhe em clubes de futebol, e só por isso... fui!

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  19. Calma Núncia,

    Todos sabemos que é esse Kundera. Só estamos a brincar, aliás, quem não deve gostar nada dele são os comunistas...

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  20. Já devias saber Núncia que o Cirrus é pouco romântico, pouco dado a pieguices!

    Ahahahahahaha!

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  21. Ora, toda a gente gosta do Kundera. É daqueles nomes aos quais é giro abanar a cabeça em concordância...

    Já a Pronúncia... teimosa, pá...

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  22. concordarás comigo Cirrus que abanar a cabeça só com cerveja checa, alí do nosso amigo Kundera!

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  23. Dou-te um galo de Barcelos feito em cerâmica!:)

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  24. Dou-te um bilhete para entrares no Paço dos Duques em Guimarães!

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  25. Um bilhete para ver o Michel Teló!

    Não?
    Então o Carreira, pai e filhos!...

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  26. Pronto, voltei... mas só porque pediste com jeitinho ( e não tens que me dar nada)... eu estou... piegas :D

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  27. Ora, logo agora que pensava estar a assistir a um belo suborno...

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  28. Cirrus,

    acho que há muitas críticas legítimas a fazer a Passos Coelhos (o que é que foi feito até agora para re-negociar as parcerias público-privadas?). E não sou um fã dele, muito pelo contrário acho que há muita gente dentro do próprio PSD que desempenharia melhor a posição de chefe de governo (Paula Teixeira da Cruz, por exemplo).

    Agora, vamos por partes:

    1. É preciso pagar contas. É preciso estancar a hemorragia financeira que sobretudo os governos de esquerda deixaram acumular.

    2. Concordo que falar em "piegas" por referência ao povo Português é infeliz. Mas não só é o mesmo tipo de declarações que o presidente Sampaio fez várias vezes como igualmente há que ter em consideração o contexto em que foram feitas.

    3. A imprensa e os media em Portugal são mais à esquerda do que à direita. Basta pensar na diferença de tratamento dispensada a Sócrates e a Santana Lopes. E a isto há a acrescentar que neste momento é muito fácil criticar o governo. Difícil difícil é evitar que Portugal caia no mesmo destino que os Gregos.

    Sei que nunca concordaremos em muitas coisas mas há que perceber o contexto em que se governa. Tu e eu na mesma posição faríamos diferente para melhor? em quê?

    (abraço, saudações de glória e boa sorte para nós amanhã)

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  29. Garcia, como dizes, muito dificilmente poderemos concordar em termos políticos. Até porque cada um de nós sofre de um mal que ter ideais. E isso não é bom nem é mau, é como é. Mesmo assim, e pelos mesmos pontos que tu referiste, debato as tuas ideias:

    1. O fim último de um governo é o bem estar do seu povo. Não confundamos a restrição com o objectivo, como dizia Mira Amaral. O objectivo é fazer prosperar o país, não empobrecê-lo. Pagar contas? Claro, vamos a isso. Basta que quem recebeu as toneladas de dinheiro e que endividou este país o devolva. Isto é, o sector privado, pois 70% da dívida é privada. Ora, eu não devo nada a ninguém, meu caro. E como eu, muitos.

    2. O Sampaio ainda é presidente...?

    3. O único orgão dos media de esquerda que conheço é o Avante!; essa ideia de que o PS é de esquerda é de alguma infantilidade. Já aprendi há muito tempo que a diferença entre PSD e PS é um D. Nada mais. Mas ainda bem que Mário Crespo, Medina Carreira, João Duque e tantos outros são de esquerda. Olha se fossem de direita!!! A propósito, tanta opinião, tanta opinião... E agora calaram-se todos. Será a isto que te referes? Não entendo. Este governo é de... esquerda???

    Em resumo, não tenho pretensões de algum dia governar o país. A crítica, no entanto, é saudável por ser sinal de vitalidade política. Até porque critiquei nos mesmos moldes a cambada socretina que nos levou para caminhos ignóbeis. Não sei se na posição de governo faria melhor ou pior. Não invalida, porém, que o que está a ser feito não está mal, está péssimo.

    O mal de tudo isto é nem todos podermos sobreviver com o ordenado mínimo.

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  30. nós somos um país de leva no cu!

    desde os outros tempos, que (des)governa tem sempre um valente bacamarte e o povo dá o cu, sem qualquer hipótese sequer de dizer, eu cá na gosto dessas paneleirices!

    temos tido dois tipos de primeiros ministros, uns que são mau gestores e lixam isto e outros que têm a mania que são bons gestores e que nos fodem.

    feitas as contas, nem uns nem outros são bons.

    o PPC arrepia-me, faz-me lembrar um qualquer verme rastejante, com aspecto somente peçonhento que ainda esconde um qualquer tipo de veneno mortal.

    basta ver as atitudes daquela perante os governados para não perceber que raio de fé é que eles têm que isto vai melhorar, quando são eles descaradamente que ainda metem isto mais para buraco onde nos enfiaram.

    as atitudes quase ditatoriais e prepotentes, decidir sem ouvir as pessoas (que por acaso já é moda vinda de outros (des)governos), ou quanto muito dizem (veja-se a Ministra [esse estupor de merda] da Justiça que diz em relação aos tribunais que vão fechar, que vai ouvir os interessados, mas está-se nas tintas para o que os autarcas lhe vão dizer e os tribunais vão fechar na mesma).

    as únicas medidas profiláticas é mesmo comprar uma boa quantidade daquele material usado para ajudar a deslizar

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  31. Imperator, quem assim escreve não é gago. Pelo menos de pensamento.

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LEVANTAR VOO AQUI, POR FAVOR