terça-feira, 5 de junho de 2012

EUREKA

Ilustração Marco Joel Santos


Eureka foi o gritou Arquimedes, pelas ruas de Siracusa, ao que dizem do jeito que veio ao mundo, quando descobriu como poderia determinar a densidade de um determinado objecto composto de vários metais. No caso, a coroa do rei da cidade-estado siciliana. Descobriu isso no banho, daí ter andado pelas ruas nu a gritar Eureka. A partir desse momento, ou seja, desde o tempo das Guerras púnicas, que “Eureka” é sinónimo de descoberta, de compreensão de um facto que nos escapava ou coisa parecida.
Eu gritei Eureka. Está certo que não sou o Arquimedes, nem sequer sou matemático. Mas por vezes acontece-me, assim do nada, aperceber-me de factos, antes desconexos, que passam a fazer todo o sentido. Só não me acontece andar pela Santana nu a gritar, porque tenho mais vergonha que o Arquimedes e não estamos na Magna Grécia.
O nosso primeiro sinistro, que sabemos agora não ser o número um do governo, por ser o número dois (e quem diz dois diz treze) de um ainda mais sinistro que tem nome herbáceo, afirmou a pés juntos, o que é natural por se tratar de um roedor, que o desemprego é uma oportunidade. A princípio, até pensei que realmente ele já teria perdido demasiadas oportunidades, tanto de estar calado, como de ir para o desemprego. Até porque, como nunca levantou uma palhinha do chão, tendo sempre “laborado” nas empresas do padrinho, já deve estar habituado a aproveitar oportunidades de não fazer nada.
Mas eis senão quando reparo que o nosso governo tem por lá um sinistro da economia! Um homem (pensa-se que seja pelo menos aparentado com o orangotango) reputado a quem foi confiada esta difícil pasta da economia. O que tem isto a ver com o Eureka e com as oportunidades do nosso primeiro sinistro? Bem, é que antes de estar no governo, este sinistro estava desempregado! Ah pois, estão a ver como o coelhinho tinha razão? Como, de outra forma, este sinistro da economia, teria integrado o mais famoso governo europeu (a Grécia não tem, pelos vistos – resta saber se nós temos…)?
Pois é, o agora sinistro da economia, sendo que a nossa economia se resume a privatizações, essa sumidade chamada Borges, não só é o nosso ministro da economia, como é ainda consultor da Jerónimo Martins, aquela empresa que faz descontos de 50% em produtos que aumenta 60% no dia anterior. Ora, que se lixe lá essa coisa dos conflitos de interesses por trabalhar num grupo económico e ser encarregue de vender empresas do Estado a grupos económicos. Isso é amendoins…
O Borges foi funcionário do Goldman Sachs, a Mafia de Nova Iorque. E aqui é Nova Iorque, que isto não é nenhuma série de quinta categoria que fala de sapatos e tal. Isto é para quem tem vida própria. Depois, surpresa das surpresas, foi chefe para a Europa do FMI. Pelos vistos, a coisa correu muito mal ou bem demais, porque foi despedido da Fome e Miséria Internacional para vir para Portugal mandar bitaites sobre como é urgente baixar os salários. Ainda por cima vindo de outro gajo que ganha mais num mês do que eu ganho em… muitos, isto até pode parecer trágico se não fosse tão cómico.
Pão e água parecem ser o suficiente como salário para um mero trabalhador, para o amigo Borges. Uma pessoa reputadíssima, despedido da Fome e Miséria Internacionais, acha que melhoramos Portugal se piorarmos Portugal. Sim, já sei que é falácia barata. Na verdade, Portugal não é o povo português. Portugal é meia dúzia de espertos herbáceos. Pelo menos para o competentíssimo Borges, o nosso sinistro da economia.
Onde vamos desencantar estas aves raras, que nunca fizeram ponta de um corno na vida e que nasceram para fazer sexo ao juízo a todos aqueles que ainda têm de trabalhar para sobreviver é que não sei. Não sei mesmo. Até parece que não era para ser ele o sinistro da economia, que seria um tal Álvaro que quando estava no Canadá se fartava de mandar bitaites sobre como fazer as coisas em Portugal. Pelos vistos, o jet-leg induziu-lhe coma. E agora vem o Borges, a sumidade, dizer que 485 euros por mês são demasiados. O mais estranho é que ninguém o manda apanhar no recto.


4 comentários:

  1. A comparação do salário dele com o teu nem tem cabimento! Compara-o antes com o daqueles que ganham o salário mínimo! Muito bom, para esse sr., falar de barriga cheia!


    P.S. Comentário "à Malena": Nu e a correr pela urbe?? Huuuummmm... :P

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  2. Adorei!!!

    Só tu para me fazeres rir ao ler um texto cómico de tão trágico!!!

    E assim me mantenho informada da política nacional!

    Bom fim-de-semana!

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  3. Malena, não tem cabimento porquê? O meu salário é assim tão grande?

    Nu e a correr pela urbe? Talvez. Um filme de Allen...

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  4. SDaVeiga, obrigado pelo teu riso. É disso que eu gosto - de dar algo a alguém.

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