terça-feira, 25 de outubro de 2011

O PONTO


Há muito que deixei de ver um programa de debate que acontece todas as segundas-feiras no canal público de TV. Deixei de o ver por diversas razões. Porque a moderadora é uma extremista comparável aos terroristas islâmicos, pelos santos convidados que andaram a fazer cagada atrás de cagada neste país, anos a fio de prumo e esquadro, instados a dar opiniões sobre tudo o que está mal, que para além do mais ainda apresentam uma candura extraordinária, como se tivessem aterrado neste país de para-quedas e nunca tivessem ouvido falar de nada.
Ilustração de Marco Joel Santos
É um programa em que de tudo aparece, é verdade. Também há algumas opiniões lúcidas. Mas é confrangedor ver tanta gente responsável pelo ponto onde chegamos apontar o dedo a tudo e mais um par de texanos para justificar a crise em que mergulhamos sem terem um único rasgo que possamos apelidar de solução, mesmo que não valesse um caroço de tremoço. Até um puto que dizia que andava a vender trabalho de porta a porta apareceu (pareceu-me um bocado assim para a prostituição pré-amigos de Alex), e afirmou que era necessário bater punho, expressão que eu ou muito me engano ou foi interpretada pela maior parte dos portugueses como narcisista e masturbatória ou puramente de pessegueiro esgalhado. É destes extraterrestres que eu gosto mais, daqueles que parece que vieram inventar a roda sem nada conhecerem do que realmente se passa por esse Portugal profundo fora, o Portugal da miséria.
Seja como for, a verdade é que de vez em quando vou fumar uma beata mal amanhada à cozinha ou à varanda e passo inevitavelmente pela TV. Ontem foi uma dessas ocasiões e ouvi um senhor, que não sei quem é, dizer uma das coisas mais ditas ultimamente: “Os funcionários públicos têm de perceber que trabalham para um patrão que está falido”. Ora as palavras são como as cerejas e os pensamentos como os tremoços, e dei por mim a pensar e a escrever sobre isso.
Ora, então, encadeando acontecimentos, os funcionários públicos têm de perceber que trabalham para um patrão falido. Assim sendo, e sigam o meu raciocínio senão ele perde-se por aí, atacado pelo Alzheimer como anda, se o patrão está falido, há que despedir gente. E comprar Ferraris, que é o que se faz quando se entra em insolvência. Esqueçam lá os chassos dos BMs e Mercedes, o Estado faliu! Como 80% dos funcionários públicos são técnicos altamente qualificados, como juízes, professores, magistrados, médicos, enfermeiros, contabilistas, engenheiros e ainda outros que não são tão qualificados, mas são altamente treinados, como militares e polícias de todas as forças policiais, desde a PSP até ao SEF, o Estado falido terá então de despedir gente qualificada. E os homens do lixo, não esquecer. Muita gente esquece mas se eles é que se esquecem de passar um mês à vossa porta queria ver-vos a todos a cuspir postas de pâncreas todas as manhãs a sair de casa.
Assim sendo, e como se diz por aí, que este país é um país de doutores e engenheiros, esta gente não vai encontrar no privado saída profissional alguma, a não ser a de desempregado licenciado. O mais provável é aqueles que estiverem em idade para tal arrumarem as botas para a reforma antecipada ou então emigrar para qualquer lado, nem que seja para o Eyfajafa... catano. Eu pensei que já soubesse escrever o nome da porra do esquentador. Seja como for, uns hão-de contribuir para as más contas do Estado, pela via da pensão, e os outros pouco ou nada contribuirão para a economia. Retiram-se assim milhões em despesas ao Estado mas também se retiram os mesmos milhões ao consumo privado da economia portuguesa. Isto partindo do princípio extremamente optimista de que Portugal ainda tem economia.
Mas, e o Estado? Ora, se eliminarmos a Educação, a Saúde e, quem sabe, a Justiça e a Segurança da equação, o Estado poupa uma pipa de massa e consegue sobreviver sem ter de abrir falência. Lá se vão os Ferraris, pá! É regressar aos malcheirosos BMs! Assim sendo, o Estado cessa as suas actividades nestes campos e torna-se solúvel. Quase como o Mokambo. Mas depois há outra questão: os impostos. Ora, o que mantém o Estado a funcionar são os nossos impostos. Mas, se o Estado já não garante qualquer serviço relevante aos seus cidadãos, porque carga de água estes teriam de pagar impostos? Mas alguém está a ver-se no futuro sem pagar os impostos que paga actualmente?
É aqui que entra aquilo que eu chamo o Ponto de não retorno fiscal, ou seja, o ponto em que o cidadão não recebe nada em troca dos seus impostos. Se pagarmos Educação, Saúde, estradas e tudo o mais, é legítimo pensar que pagamos impostos para nada. Para além do ponto do não retorno fiscal, há o duplo pagamento associado. Poderemos facilmente chegar a um ponto onde pagamos tudo duas vezes – através de impostos e através de pagamentos a privados que se substituem ao Estado. Não esquecer que na semana passada, duzentos milhões de euros portugueses passaram a ser de outra nacionalidade qualquer, provavelmente para aí Eyfajafa... cataneses, ou o camandro que os sexe. Ou seja, o retorno do dinheiro investido em pagar serviços raramente é reinvestido pela entidade privada. Logo, a economia mais se depaupera, resultado da fuga fiscal. Ou seja, pagar por nada é já mau. Pagar para ter o que já se pagou uma vez é duplamente mau. Ver esse dinheiro fugir para off-shores ou para as SGPS estrangeiras é triplamente mau. É muito mau. Quase tão mau como o ódio que o português nutre pelo funcionário público, ou mesmo quase tão mau como aqueles que se queixam dos serviços públicos esquecendo-se que não é por acaso que este quase país está como está... É que tem um pseudo-povo...

17 comentários:

  1. reclamam contra os fps mas , reclamam quando não há funcionários na escola, que são o quê? funcionários publicos. Hão de reclamar muito na saude, nas urgencias, nos hospitais, quando a ´destruição da AP estiver mais adiantada. Aí talvez seja tarde. Talvez não, nunca é tarde para mostrar aos senhores subvencionados que é perigoso brincar com a vida das pessoas! Como lhe contei tive o meu pai no egas moniz e francisco xavier e só tenho uma palavra: uma maravilha! E é com isto que estes senhores querem acabar... é nmuito caro!a luta continua e agora com mais convicção!

    ResponderEliminar
  2. O País não são números.
    O País são os idosos que merecem um fim de vida digno.
    O País são as crianças que merecem ter um futuro e poder ter esperança de o alcançar.
    O País são as pessoas do nosso Povo, com todas as suas limitações mas todas as Lusas qualidades.
    O País, senhores governantes, somos todos nós.

    Quando foi que nos esquecemos de governar para as pessoas?

    Vejam lá se entendem isto:
    O objectivo de um Governo é criar as melhores condições de vida para os cidadãos de um país.

    Quais são os desejos de um Povo? (infantilmente explicado)
    - ter um emprego que lhe permita condições financeiras dignas e um tecto
    - ter um bom sistema de saúde onde se possa cuidar
    - ter um sistema de justiça rápido e justo
    - ter um sistema de educação onde possa confiar os filhos
    - ter serviços públicos eficazes
    - ter um sistema cultural bem cuidado que conserve a identidade nacional
    - ter governantes que zelem por estes interesses e não sejam corruptos

    Senhores Governantes, parece-lhes que fazem alguma coisa disto?

    Acham que o Povo se interessa pela dívida, pelo défice, pela balança comercial e pelo raio que os parta a todos?

    Conseguem enfim perceber porque o Povo está divorciado da política e não confia naqueles que são eleitos para os representar?

    A vossa actuação política está dissociada do objectivo de vida do vosso Povo.

    Vocês não estão a governar para fazer cumprir as expectativas da sociedade que representam.
    Governam para defender os objectivos de quem?

    É tão difícil de entender?!


    Ou são incompetentes ou têm uma agenda própria.
    Já agora, choca-me que nos dias que correm apresentem todos os sacrifícios como inevitabilidades.
    Ou passamos fome ou o País fica sem dinheiro.


    Se eu sempre paguei os meus impostos como raio não têm dinheiro?


    E se o gastaram mal gasto... de quem é a culpa, caralho?!

    ResponderEliminar
  3. Nada mais se me oferece dizer excepto: Merda para isto!

    P.S. E não é para o teu texto!

    ResponderEliminar
  4. Tripalio, as necessidades básicas dos Hospitais aqui nesta zona já não são completamente cobertas. Há que reclamar, sim, e talvez seja tarde, mas nunca demais.

    ResponderEliminar
  5. Arame, o seu comentário dava um excelente post!
    Parece-me que infelizmente os governos já não governam os países e muito menos os povos. Aceitar que um governo pode ser bom enquanto piora a qualidade de vida de um povo é simplesmente lastimoso e uma subversão política completa.

    ResponderEliminar
  6. Malena, e se fosse???

    :D

    Bem, devo dizer-te que nunca pensei sequer tentar comparar o meu país com os mais miseráveis do mundo. Isso é o que o governo está a fazer para ver se cola a tendência da caridadezinha. Devemos sempre, mas sempre, comparar-nos com os melhores, e nunca com os piores. Isso é tipicamente português, e leva ivariavelmente à velha questão do "há sempre alguém pior que eu"...
    E bem sei que não foi nada disto que disseste, mas também sei que tu já percebeste...

    ;D

    ResponderEliminar
  7. Arame, já vi que sim, e já me inteirei da situação. Está feito.

    ResponderEliminar
  8. Penúltimo comentário que tiveste no blogue da Malena:
    “Fandango, Whiskas Saquetas ou é só blá-blá?”

    Respondi-te:

    Pois... ainda me lembro de um ditado antigo e apropriado para o momento: "gastar cera com ruim defunto"...e como a "discussão" já anda pelos parâmetros da inexcedível lucidez e incontrolável inteligência, o melhor, mesmo, é acender uma vela na esperança de que se faça luz... É mesmo nesse ponto que a gente gosta de manter o nível da conversa! O que, infelizmente, tal como fica demonstrado pela minha incapacidade para compreender o que dizes, nem sempre é possível...
    Elabora os raciocínios que quiseres mas não me chames para lá...isto de argumentos “ad absurdum” já deram o que tinham a dar...

    Teu último:

    “Não publiques este comentário.
    Fizeste muito bem. A coisa não termina bem, quando se dizem coisas pelas quais não se aceitam críticas. Quem fala deve ser responsável pelo que diz.
    Lamento a situação em que envolvi o teu blog, mas destes espertos de algibeira ando eu farto. E sabes porquê. Bem, só tenho que te pedir desculpas. Por isso, peço desculpas. E pronto.”


    Pareces ser uma ameba inteligente e sabes que te meteste com quem não devias e onde não devias. Este "esperto de algibeira" nunca interferiu comentando uma qualquer opinião tua ou de qualquer outra pessoa, à excepção do anfitrião do blogue. Nunca o fez nem fará a não ser que seja irónica e sarcasticamente abalroado num assunto tão delicado. O respeito é muito bonito. Fica sempre bem reconhecer quando se erra. É isso que nos dignifica. Não o pseudo- conhecimento que aparentas ter. Como elevaste a fasquia do desrespeito, eis-me aqui.
    É-se imbecil. Ou cobarde.
    Mas as consequências práticas são as mesmas...
    Acho que não preciso de utilizar mais Latim para ser recomendável manter sempre o cu perto da parede mais próxima quando eu ando por perto. Quem te avisa...
    Passar bem.

    ResponderEliminar
  9. Caro Fandango,

    Bem vindo ao Cirrus Minor. Espero que gostes. Obrigado pela visita, é sempre bom ter visitantes novos.

    A única coisa que quero dizer sobre a situação do blogue da malena, e por isso lhe pedi que não publicasse o comentário, é que lhe peço desculpas, a ela, Malena. Porque tudo se passou lá, no blogue dela. Quanto ao que tu pensas ou não que eu disse ou quis dizer, tanto se me dá como se me deu. cada um é responsável por aquilo que escreve, senão não escreve.

    Já te disse que não tenho pachorra e nunca identifiquei ninguém, e só por tua iniciativa é que provavelmente pensarás que será para ti a observação "esperto de algibeira". Obviamente, a responsabilidade fica contigo.

    Quanto ao facto de me ameaçares com cu, olha, deixa lá isso, sabes? O Rambo já teve o seu tempo, e isso apenas pode revelar alguma imaturidade, o que é compreensível. Mas sabes que para aparecer, há que crescer. Cresce, pois, e tem bom crescimento.

    ResponderEliminar
  10. Possa! O que eu fui provocar!! Ainda por cima não vi o teu último comentário a tempo de o apagar... Não tenho filtro aos comentários! Vá lá! Eu não tenho nada que perdoar a ninguém, não passo de uma mulher mais ou menos informada, mais ou menos provocadora que gosta de ver uma discussão civilizada!! Raios!

    ResponderEliminar
  11. Malena, deixa lá isso. O que aconteceu aconteceu. O que acontecerá é apenas responsabilidade de quem o fizer acontecer. As coisas são como são.

    ResponderEliminar
  12. E depois queixam-se da economia paralela...

    ResponderEliminar
  13. Pronúncia, já me queixei mais. Neste momento estou a tornar-me um acérrimo defensor da economia directa. Paralela é chavão feiinho...

    ResponderEliminar
  14. Chama-lhe o que quiseres, acontece é que estou farta de pagar tudo duas, três, quatro vezes...

    ResponderEliminar
  15. É esse o sentimento quando nos confrontamos com o tal ponto de não retorno fiscal...

    ResponderEliminar

LEVANTAR VOO AQUI, POR FAVOR