quinta-feira, 14 de abril de 2011

BANCA ROTA?

Foto Google

Ora então temos por cá o FMI, ou como diz o Cavaco, o “Fef... fê... é... fef... fê...” e estaria aqui mais uma hora a descrever os termos balbuciantes com que um reputadíssimo economista não consegue dizer FEEF. Dizem que agora não importa saber as causas deste resgate financeiro. Interessa mais obter um consenso alargado entre os partidos para estabelecer acordos de regime relativamente àquilo que nos vai ser imposto pelo FMI.
Não posso discordar mais. A única coisa que interessa saber é como chegamos aqui e não como daqui sairemos. E por uma questão muito simples. É que daqui já não saímos mais. Chegamos onde pudemos, esqueçam lá o resto. As políticas a implementar daqui para a frente serão as mesmas, caso haja ou não consenso entre os três partidos do espectro político português. Interessava mais saber o que se fez para que esta situação acontecesse. Mas parece que toda a gente está com pressa de passar à acção e não de analisar o passado recente.
Irrelevante. Nós não vamos passar à acção. Esqueçam lá essa ilusão. Nos próximos anos vamos ser governados independentemente dos seis pontos do CDS ou das 27 perguntas do PSD, indicativos óbvios de que acção não é coisa que interesse – e estou para ver quando serão constituídas as comissões de acompanhamento, que vão reunir uma vez por ano e receber ordenados todos os meses. Somos especialistas em comissões e comités, em reuniões e debates, em discussão e reflexão. Não somos grande espingarda a decidir nada. Mas por aí estamos bem – agora os políticos nacionais podem, de facto, fazer aquilo para que estão vocacionados – nada, pois alguém vai trabalhar por eles. A diferença é que antes dava mais nas vistas. Agora é bem visto.
A insistência dos partidos da oposição em saber toda a verdade sobre as finanças públicas tem esbarrado em várias oposições. A do Governo, está claro, é óbvia. Quem faz merda tenta esconder e não será por esse facto que vem algo de insólito ao mundo. Mais insólito e importante tem sido o facto de um presidente da República Checa roubar uma caneta. Mas o próprio presidente tem vindo a afirmar coisas mirabolantes. Primeiro queria uma ajuda interina, em inglês “interin”, quando isso é impossível, segundo assegura o reputadíssimo presidente da comissão europeia. Depois acha que uma auditoria exaustiva às contas deve ser evitada a todo o custo, para bem do país e seu nome internacional.
Ora quem não deve não teme, já dizia o ditado. E parece que Cavaco teme, logo, deve dever. Desenganem-se aqueles que acham que as contas de Portugal nunca foram marteladas no passado e que Sócrates inventou uma nova forma de esconder merda debaixo do tapete. Sim, essas manobras já vêm do tempo do Cavaco. Aliás, até já vêm de trás. O próprio Durão Barroso parece estar mais ansioso por saber quanto se pode cortar nas reformas do que propriamente qual o tamanho do buraco.
Uma coisa parece-me óbvia e daqui não arredo pé. Por muitos FMIs que cá passem, as elites continuarão a ser elites. A elite política continuará a afundar o barco alegremente, dizendo que todos têm de se sacrificar. E posso perguntar porque tenho eu de me sacrificar se não tenho culpa nenhuma disto? A elite social continuará a ser rica, e se não ganhar, como até aqui, dez milhões, passará a ganhar amanhã vinte. A elite financeira continuará igual a si própria, tendendo a inventar dinheiro onde ele não existe e a exigir que outros paguem as suas cagadas monumentais. A elite socretina continuará em volta do seu querido líder. A elite ultra-liberal passará a estar em volta de alguém que mexe os cordelinhos atados aos membros de Passos Coelho. A elite dos pobres continuará a ser pobre. De preferência um pouco mais que antes.
É que dinheiro há... mas onde está... não fala. E para que bolsos foi, não se prova. Cavaco foi pago por Oliveira e Costa por um favor. Qual? Ninguém prova. Sócrates recebeu luvas no Freeport. Quanto? Ninguém prova. Amorim foi indiciado para ir a tribunal por desvios de milhões de euros de formação profissional. Quantos? O processo prescreveu. A mesma coisa com o grupo Jerónimo Martins. Ninguém prova, o processo prescreveu. E até são estas pessoas que escrevem os programas de governo de alguns partidos... O mundo financeiro arruinou o país e o mundo. Presos? Não há processos.
Pelo contrário, quem nos afundou exige agora que paguemos para que eles não se afundem.

8 comentários:

  1. Um resumo muito esclarecedor.

    Há uma coisa que me faz confusão:
    - Como é possível planear seja o que for se não se souber qual o tamanho do buraco?!...

    Estranha esta minha mania de fazer contas com números... e só depois decidir...

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  2. Pronúncia, não interessa nem ao menino Jesus saber ou procurar saber o tamanho do buraco. Achas que o FMI está cá para quê?
    O próprio FMI vai descobrir em duas penadas o tamanho do buraco. E depois aplicar a cartilha já bem conhecida: desemprego, inflação, subida de juros... Que interessa a quem não manda uma ponta de um corno aquilo que agora se diz que se deve ou não? Só interessa ao FMI e se calhar nem isso... Por eles até podia não haver buraco nenhum - é preciso é fazer o país retroceder 20 anos, como fizeram na Grécia e na Irlanda - para depois crescer... Crescer a partir do zero nem sempre é difícil...

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  3. "Uma coisa parece-me óbvia e daqui não arredo pé. Por muitos FMIs que cá passem, as elites continuarão a ser elites. ". Certíssimo. Aliás, se há coisa pela qual o FMI é conhecido é pela aniquilação da classe média. Os ricos estão sempre sossegados e apaparicados. Como é possível chamar 'ajuda' ao FMI, que de fundo não tem nada e que de banco tudo tem.

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  4. Sara, a situação não vai melhorar para a arraia miúda. Mas para as elites, isto é uma lufada de ar fresco...

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  5. E lá vens tu destruir as nossas ilusões...

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  6. De que nos sairemos do buraco (irony alert).

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  7. Espera lá, mas qual buraco? O que nos escavaram debaixo dos pés, ou o buraco em que a alta finança caiu?

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