domingo, 24 de abril de 2011

O SINAL CERTO AOS SENHORES DO FMI

Foto Google


Estamos numa época perigosa. Tudo o que façamos hoje em dia pode ser mal interpretado. Pode dar um sinal errado ao FMI. Já pensei em não sair de casa a não ser para trabalhar, e mesmo assim comprar um par de patins ou coisa parecida para o fazer. Depois pensei que as calçadas são irregulares demais para andar de patins e, numa ânsia muito egoísta de gastar um pouco mais para evitar idas escusadas ao S. João, pensei numa bicicleta. Mas depois pensei que o troço entre Macedo de Cavaleiros e Mogadouro não é assim tão fácil de fazer em bicicleta. E subir o Marão é mentira. Tenho mesmo de ir de carro. Mas nada de preocupações. Para não enviar sinais errados aos senhores do FMI, saio antes de amanhecer e só volto depois de anoitecer, sempre de luzes apagadas, para não chamar as atenções.
Também não sei se irei de férias para algum lado. É certo que os meus destinos estão desgraçados, e penso que a Jordânia ou a Síria seriam destinos arriscados. O Farahat diz-me que no Cairo está tudo calmo, mas eu não sei se acredito. O gajo mora em Zamalek, é natural que veja tudo calmo. Mas... que estou eu a dizer? Não posso enviar sinais errados ao FMI... Pois bem, penso que vou ficar por Portugal mesmo. Mas não posso ir para o Algarve, isso seria enviar um sinal errado. É que houve uns duzentos mil portugueses a ir para o Algarve esta Páscoa. E apesar de serem apenas 2% da população portuguesa, os senhores do FMI pensam que está toda a gente no Algarve a curtir uma de sol, ou de chuva, no caso. Esses e os finlandeses, que pensam que passamos os dias na praia em vez de trabalhar. Da próxima vez que forem invadidos por outro país, lembrem-se de nos pedir pão, cobertores e sapatos (que nem tínhamos cá para nós) outra vez. Talvez levem umas belas caixas de merda. Com um bocado de areia da praia à mistura. Desculpem, mas sol não podemos enviar. Não nasce para todos...
Outro sinal que tenho de evitar enviar aos senhores do FMI é as compras. Não posso fazer compras, não posso ser visto num qualquer estabelecimento a comprar seja o que for. Já tenho umas ideias para os próximos meses. Tenho cá em casa uns móveis de que não necessito para sobreviver, um aparador e um sofá, dois bancos de cozinha extra, uma mesa e cadeiras de jantar e tal... Vou reduzi-los a serradura e com um pouco de água, parecem papas de sarrabulho. Para substituir o fígado temos o couro dos sapatos. Esta solução tem a vantagem de a gente depois cagar contraplacado e poder fazer novos móveis. Reciclagem. Muito ecológico.
Também não precisamos de comprar roupas, temos muitos sacos dos supermercados e podemos fazer umas farpelas catitas que ainda nos protegem da chuva. Que foi? A outra não andou com um vestido feito de bifes? Sapatos é melhor esquecer, voltamos ao tempo da outra senhora e enviamos os sapatos para os finlandeses para andarmos descalços. Tipo rancho folclórico. Muitos andam descalços e mesmo assim bailam e cantam alegremente, não é? Também quero o que eles fumam, mas isso é outra estória. De fumar não deixarei. Um cigarro em jejum e outros quando a fome aperta sempre dá para poupar no sofá e no aparador.
Que outros sinais podemos enviar aos senhores do FMI? Ah, já sei. E que tal um belo sinal de sentido proibido pelos cornos abaixo? Não? Pronto, ok, agora era eu a ser desagradável. E realmente a coisa nem dá para tanto. Os senhores só cá estão para ajudar. Como fizeram aos gregos. Esses não sabiam bem o que fazer aos ordenados que ganhavam e os senhores do FMI já trataram do caso. E aos meses extra também. Agora que a Grécia vai ter uma recessão de 3% em 2011, tudo há-de voltar ao normal. Mas isto da Grécia regredir 3% não é verdade, atenção... A nossa extraordinária Comunicação Social já nos tratou de dizer que Portugal será o único país do mundo que não vai crescer. Ou seja, os gregos até já crescem quando regridem! Assim sim, é trabalhar, nada de sinais errados aos senhores do FMI. A Irlanda também vai contrair, mas é também um crescimento. Porquê? Porque se não disserem isso, estão a enviar um sinal errado aos senhores do FMI. Quem não sai da merda é a Islândia, que apesar de crescer este ano 1,2%, está estagnada, para o FMI. Se dissessem que estavam em crescimento, provavelmente estariam a enviar um sinal errado aos senhores do FMI.
Como podemos facilmente depreender, a nossa Comunicação Social esforça-se imenso por enviar sinais certos aos senhores do FMI. Andam por aí todos os canais a auscultar a sociedade civil, o Portugal profundo, como eles gostam de dizer. Eu uma vez sentei-me para ver um programa desses. Onde? Tenho uma TV daquelas pequeninas a pilhas, chinesas. Só dá o canal 1 e a TVI a preto e branco. Não posso enviar sinais errados. E queria procurar uma marca portuguesa, mas não havia na loja dos chineses... Bem, sentei-me num dos dois bancos que restaram da cozinha e vi a tal sociedade civil. Um dia, o Belmiro, outro o Alexandre, noutro o Ulrich... Acho que devíamos auscultar também a sociedade militar, parece que já não há guito para os ordenados deles... “Emprego barato”, “ajuda financeira aos Bancos”... E pronto, está feito. E eu a pensar que iam entrevistar empregados de fábricas, agricultores, pescadores. Mas depois pensei que realmente a própria existência dessa gente é capaz de ser um sinal a evitar enviar ao FMI... Desliguei a TV a pilhas, apaguei a vela e fui-me deitar. O chão do quarto agora é mais frio, em cimento, desde que desmontei o chão para fazer mais papas de sarrabulho. E cobertores não há, os finlandeses podem vir a precisar e já os dei à AMI... Além de que tenho de enviar o sinal certo aos senhores do FMI...

29 comentários:

  1. Pergunto-me muitas vezes como seria colocar cá um alimão, um finlandês, um sueco e, já que têm a mania, um francês cá e voltar ao fim de 10 anos e ver o resultado.

    Se calhar teriam sorte e seriam diferentes. Vai daí e punham-se as respectivas populações e ver o que dava. Acho que daria uns resultados interessantes.

    (Isto não é, nem de longe, uma desculpa)

    ResponderEliminar
  2. Não sou ninguém ao entrar na tua "casa" e dar palpite muito menos em tom de agressividade... Todas estas especulações são de uma forma geral verdades, no entanto acho que o FMI está a tornar se num fantasma para muita gente. O problema não está em ti ou em mim, ou no vizinho do lado. Medidas extremas podem camuflar uma realidade que por si só já se sente faz algum tempo. A sociedade tem "consumido" o que pode e o que não pode, assim como o Estado.
    Não sei com quem falo, mas repara nos jovens! Telemoveis topo de gama, tennis de marca, ps3, nintendos...
    Quando abrirmos os olhos será tarde demais. E não precisamos de ir ao supermercado a correr para comprar velas, mas sim adquirir um pouco de disciplina.
    Pouco tenho, mas a necessidade ensinou me a viver. Só quando se passa por elas, é que se dá o valor.

    ResponderEliminar
  3. Noya, acredito que fizessem melhor. Ou não. Depois de destruído um país, é difícil reconstruir do zero. Que é basicamente onde estamos.

    ResponderEliminar
  4. Maxx, bem vindo. O seu ponto de vista é interessante e não o rebato. Vivi as anteriores entradas do FMI em Portugal e sabe bem que não foram passeios no parque. Tanto que só a nossa entrada na então CEE parecia ser solução. Pagamos caro, muito caro, tudo isso.
    É verdade que precisamos de uma revolução de mentalidades. Só não sei se é ao nível que mencionou. Quantos tennis de marca é que o Estado deu à Mota Engil só agora com as SCUTS? 900 milhões de euros? São muitos pares de tennis, convenhamos.
    Se não trabalhamos para que os nossos jovens tenham trabalhos qualificados, e possam usufruir de tennis e roupas de boa qualidade, mas podemos financiar buracos BPN de sete ou oito mil milhões de euros, o que andamos cá a fazer? A lutar por piorar as condições de vida? Por regressar a um passado recente de fome? Se é isso, é fácil de fazer. Basta seguir aquilo que já fazemos. Falar de consumos das pessoas (que não duvido sejam exagerados) sem analisar como só num ano damos 900 milhões de euros a alguém, do dinheiro de todos nós... Não lhe parece ser chover no inundado?

    ResponderEliminar
  5. A questão Estado... Concordo plenamente com o que disse, mas mais posso acrescentar. Os pagamentos estatais a empresas privadas, o numero sem fim de viaturas estacionadas na Assembleia e que também elas são ou foram financiadas, a vergonha dos custos para o ensino, a vergonha de custos perante uma instituiçao débil como são os Hospitais. A tudo isso pode se falar do TGV, dos submarinos, e por ai a fora.
    O que eu pretendi dizer, é que a se não podemos controlar os orgãos politicos, podemos sim controlar os nossos gastos pessoais. Olho por mim, mãe solteira, e as listas crescentes das despesas com as crianças são no minimo insólitas. Depois temos a questão das marcas e das consolas, do desporto, dos vicios, dos "beicinhos".... A disciplina pode ser algo muito bom. E tenho a noção de afirmar, que se os pais conseguirem dar bons valores às crianças, elas podem muito bem vir a ser pessoas diferentes de "nós".
    Não vem muito a propósito mas hoje li que os Americanos gastam 32 minutos por dia, em media, a preparar a alimentação. Alguém os habituou a viver da comida rápida pre congelada, ou não?
    A mudança está dentro de nós. Mas um, não consegue entrar dentro da cabeça de milhares. Portanto culpa se mais facilmente os Orgãos de Poder do que perder meia hora e ver o que pode mudar à sua volta.

    ResponderEliminar
  6. Pena só ter lido agora o teu post... hoje, os teus dois bancos extra da cozinha davam-me jeito cá em casa... ups! Isto é dar um sinal errado ao "MFI", não é?!

    Essa dos sacos de plástico a servirem de roupa fez-me lembrar um programa antigo do Herman, se não me engano, "O Tal Canal", em que uma das rubricas era de moda e chamava-se "Moda Crise 84" (isto lido com um ligeiro sotaque francês), em que alguns dos modelitos eram mesmo feitos de sacos de plástico, garrafas de plástico e por aí... curiosamente essa altura coincidiu com uma das vindas do FMI aqui ao rectângulo... parece que a crise é quase um estado crónico do ser protuguês...

    ResponderEliminar
  7. Maxx, e quem nunca teve esses hábitos? Que dizemos a essas pessoas? Que podemos dizer a quem sempre viveu regradamente e agora pagará como os outros?
    Repare que o maior mal deste país não está na economia. Pelo contrário, essa, para o aparelho que herdamos de Cavaco Silva, é notavelmente resistente. A crise é financeira. A crise não está nos gastos dos cidadãos normais que, acredito, possam ser exagerados. Mas o que é certo é que levamos com 25 anos em que se deu crédito ao gato lá de casa para ir passar férias às Maldivas. Com isto não enchemos os bolsos de mais ninguém que não quem nos emprestou. Agora que falharam em toda a linha nos seus investimentos, viram-se de novo para nós? Devemos salvá-los? Porquê? Se só nos fizeram mal, incluindo fazer-nos crer que tínhamos dinheiro para tudo? Nós falamos muitas vezes como se cada português fosse um especialista financeiro. Não é. Também não foi, em regra, poupado ou cauteloso. Não foi. Mas foram-se pagando as dívidas. As pessoas vão pagando. O Estado, ao invés, depois de bombear milhões no circuito financeiro, não consegue. Não é culpa nossa, mesmo que tenhamos gasto acima das nossas possibilidades, conceito que ainda não sei o que quer dizer. Se as instituições analisam o crédito, não deviam ser as primeiras a dizerem-nos isso? Não servem para nada?

    ResponderEliminar
  8. Pronúncia, ainda há quem acredite que esta vinda do FMI vai fazer muito bem "a alguns". Mas quais alguns? Não será a todos??

    Por outro lado, fico estupefacto pelo facto de qualquer coisa agora servir para dizermos que somos malandros. O povo português não é malandro! Pode ser mal usado, mal chefiado, mal dirigido, mas nunca foi malandro. Há excepções? Ai há? DENUNCIEM-NOS! Deixem de mandar bocas para o ar, dirijam-se ao ISSS e denunciem os abusos. Veremos se conseguimos poupar os tais 300 milhões de euros em subsídios - enquanto damos 900 à Mota Engil num só ano. Não brinquem comigo...

    ResponderEliminar
  9. Desculpa lá mas há portugueses bem malandros...

    ResponderEliminar
  10. Sinceramente, vou cortar no banho para poupar água, não vá o FMI fiscalizar o meu contador!
    E papel higiénico? Acho que o estou a desenrolar em demasia.
    Penso mesmo que o FMI deveria investir em preservativos usados, reciclando-os! (Lá vai a minha área de trabalho a caminho da ruína!)

    ResponderEliminar
  11. Vamos ter de dar sinais errados ao FMI, entre os quais resistir de forma diferente do que foi feito até aqui....sem pasmaceias. Tripalio

    ResponderEliminar
  12. Pronúncia, há? E que fazemos em relação a isso?

    ResponderEliminar
  13. Dylan, eu até já tinha um gajo para testar esses preservativos. Não dês ideias, pá.

    ResponderEliminar
  14. Tripalio, é o que temos feito, ou não? Infelizmente as mentes estão adormecidas. Acordarão tarde. Mas mais vale tarde...

    ResponderEliminar
  15. Cirrus, para começar não votamos neles... se bem que eu gostava era de os ver na cadeia (o lugar deles)

    ResponderEliminar
  16. Ah, esses... Pois, realmente. Cadeia não era pouco?

    ResponderEliminar
  17. EHEHEH... Não puxes mais pela conversa, ainda vai parar a alguma praça de touros...

    ;)

    ResponderEliminar
  18. A Pro toca num ponto interessante. Porque será que esta gente não é julgada e condenada? Porque será que os responsáveis (maiores) por termos chegado aqui pagarão (em teoria) o mesmo de todos nós? Triste sina...

    Reconstruir do zero é difícil? Neste país é mais impossível que difícil. Mas isto sou eu, um provável pessimista e descrente...

    ResponderEliminar
  19. Noya, não são julgados nem condenados simplesmente porque fomos nós que lhes demos legitimidade.

    ResponderEliminar
  20. Não somos um povo de malandros. Não somos melhores nem piores do outros povos da Europa. Talvez nos tenhamos deixado deslumbrar um pouco. E depois? Houvesse quem não nos desgovernasse ao limite!! Acho graça aos finlandeses que não nos querem "ajudar"!! Ai coitadinhos!! Até parece que nos vão dar dinheiro! Até parece que não vão chupar-nos mais um bocado com juros para lá de altos!! E a Alemanha!!! Já deixou para trás as memórias da guerra e da ajuda que teve para se reerguer... Curioso ser o FMI a popor juros mais baixos e prazos mais longos para nos ajudar em confronto com os nossos "amigos" europeus!!

    ResponderEliminar
  21. Malena, a Europa está morta e não sabe. Qualquer dia até a Espanha está a receber a visita do FMI e a Europa ainda quererá fugir para a frente.

    Como é que uma UNIÃO deixa partes suas depender da ajuda exterior? Não há UNIÃO nenhuma, isso acabou ao primeiro sinal de problemas na Irlanda!

    Quanto ao nosso povo, quem lhes fez as avaliações para os empréstimos e lhes disse que poderiam contrair dívida à vontade que fique com elas agora. Gastar o que não se tem? E quem não o fez? Quem não comprou casa? Ou somos todos santos?

    ResponderEliminar
  22. Cirrus, nós demos-lhes legitimidade para nos governarem e não para nos roubarem... e se roubar não é crime passível de punição, então isto ainda está pior do que o que eu pensava.

    ResponderEliminar
  23. Não demos??? Então o que fizemos?

    ResponderEliminar
  24. Demos-lhes o nosso voto para que nos governasse... eles usaram-no para nos roubarem. Abusaram da legitimidade que lhes demos.

    Onde erramos?! Em deixar que o roubo continue impune...

    ResponderEliminar
  25. E onde vamos errar, novamente? Vamos eleger quem nos prejudicou nos últimos 30 anos... Alegremente.

    ResponderEliminar
  26. Cirrus, e quem podemos nós eleger? São todos farinha do mesmo saco.

    ResponderEliminar
  27. Maxx, presumimos isso, de facto. Não sabemos se é verdade, mas presumimos sempre o mesmo na altura de votar...

    ResponderEliminar

LEVANTAR VOO AQUI, POR FAVOR