segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

JARDIM ZOOLÓGICO MUSICAL

Ilustração de Marco Joel Santos

23 de janeiro de 1977 ficou marcado pelo lançamento do décimo álbum de originais dos Pink Floyd, de seu nome Animals. A Banda tinha atingido o auge da sua carreira comercial com Dark Side, quatro anos antes, e conseguira manter um nível extremamente elevado com o álbum Wish You Were Here, de 1975. Dizem os mais puristas que o auge artístico tinha já passado, nos longínquos anos de 1969 e 1970. No entanto, 1973 era o ano da loucura e da inexorabilidade do tempo. 1975 o da nostalgia e da homenagem tardia mas sentida a Syd Barret. E deixava entrever, em Welcome to the Machine, onde poderia chegar a Banda em termos políticos.
No entanto, nada poderia fazer prever o que se seguiu. Animals é um álbum brutal. O mais brutal da Banda e um dos mais brutais álbuns de sempre. E é brutal porque não só tem uma abordagem política clara, mas também porque nunca ninguém a tinha esplanado de forma tão explícita e tão objectiva. Acima de tudo, tão realista e, para além disso, trinta e cinco anos depois pode verificar-se, tão profética.
Pegando no universo orwelliano, a Banda urdiu um álbum perfeito do ponto de vista técnico, mas difícil de ouvir. Pouco versátil, duro de som e até mesmo áspero. Mas a força do álbum está na mensagem. A analogia dos porcos, os seres invisíveis que controlam os acontecimentos a nível mundial, e queiram chamar-lhes o que quiserem – Maçonaria, Iluminati, Opus Dei… – dos cães, que representam os políticos e seu aparelho repressivo e por vezes ineludível no trato, e nós – os restantes, as vítimas, os escravos modernos – as ovelhas.
O decorrer da acção, mais do que uma descrição daquilo que se passava na sociedade britânica de há 35 anos, permanece antes como uma estranhíssima profecia 100% correcta para os dias que hoje vivemos. Vem daí a força inquietante de um álbum escrito nos anos setenta, em plena loucura do “Sex, Drugs and Rock n’Roll”, uma espécie de oásis psicadélico que internou muito mais a realidade do que aquilo que a geração dos nossos pais desejava ouvir. E muito mais do que a nossa podia ver, e muito mais do que a actual consegue abarcar. E, no entanto, nunca a informação tanto fluiu como nos dias de hoje…
Durante a esmagadora tournée de Animals, em Montreal, o célebre episódio da cuspidela de Waters num fã havia de desencadear uma enorme catadupa de acontecimentos a nível pessoal, que o levou a convencer a Banda a tocar por detrás de uma parede. Assim, de um acontecimento triste de uma tournée que por isso ficou célebre, mas que permanece uma das maiores da história do Rock, surge o ícone The Wall…

2 comentários:

  1. Há pessoas assim... visionárias. Mas não será isso um fardo difícil de carregar?...

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  2. Nada a acrescentar... :)Quando alguém nos esmaga com afirmações sobre o futuro que se tornam presente, resta-nos calar e ouvir.

    O visual de aniversário está o máximo!

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