segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Portuguesismos


Estamos no Carnaval. É uma festa popular importante em toda a Europa e, particularmente, na Península Ibérica. As suas raízes remontam ao paganismo, se bem que, actualmente, marque o calendário religioso como o início da Quaresma, aquele período em que o Mourinho empresta jogadores portugueses ao Chelsea.

Os Lusitanos, maiores ascendentes históricos dos portugueses, tinham, ao que parece, uma cerimónia importante por estes dias, que marcam o meio do Inverno. Um dos principais deuses do panteão lusitano, além do todo poderoso Serápis (remonta aos antigos deuses egípcios Osíris e Ápis), era Endovélico, Deus que, aliás, foi amplamente aceite e venerado pelos romanos, que, à altura, adoptavam qualquer Deus que lhes fosse favorável, incluindo o Trapatoni. Ora, este Endovélico era nada mais nada menos que uma reminiscência do Deus pré-hebreu Baal, depois associado ao panteão de demónios da religião de matriz judaico-cristã. Há autores que afirmam que o Carnaval obteve o seu nome da contracção latina da expressão "carne a Baal", cerimónia de holocausto sacrificial que se realizava por estes dias do ano em homenagem ao deus Baal. Talvez por isso, e por causa do Alberto João, o Carnaval seja tão importante em Portugal.

Por estes dias, é ver as pessoas animadas, comprando máscaras para as crianças e para si mesmos, às vezes bem caras. Mas hoje não escreverei sobre consumismo, não vão aparecer por aí os seus apologistas, acusando-me de ser uma pessoa que nunca se diverte para poupar dinheiro. Não é o caso, divirto-me é de outra forma. Depois há essa tradição tão portuguesa que são os corsos carnavalescos, normalmente com actores e actrizes brasileiros, com ritmos de samba e tanguinhas reduzidas a desfilar. Como sabemos, o samba é de origem bem portuguesa, se não me engano, uma música tradicional alentejana! E as tanguinhas, no meio do Inverno português? Bela tradição. A brasileirização deste nosso pobre Carnaval é tão flagrante que me deixa atónito. Podemos importar tradições que não existem em Portugal, aceito e, se forem benéficas, incentivo. Mas importar o Carnaval?? Quando temos as nossas raízes tão completamente embrenhadas na história, no que diz respeito a este tipo de cerimónias? Não engulo.

Temos as cerimónias de Carnaval mais antigas do Mundo, as mais conhecidas, no Norte do País, nomeadamente em Podence e Lazarim, aldeias perdidas das zonas mágicas de Macedo de Cavaleiros e Lamego. Inclusivamente, os Caretos de Podence associam o Natal ao Carnaval, pois saem nas duas ocasiões. Esse é o verdadeiro Carnaval português. Há alguns anos, Salazar proibiu o uso do mirandês como língua falada no território português. Agora, alguém se interessa que o povo português desconheça até o seu próprio Carnaval, bem como outras imensas tradições.

Tradições que não dão dinheiro não interessam a ninguém...

17 comentários:

  1. A Galiza também tem uns carnavais bem interessantes, mais propriamente na província de Ourense. Muito semelhantes a estes, bem descritos no artigo.

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  2. Claro, era de prever, a matriz histórica da Galiza e do Norte de Portugal é muito semelhante. Eles têm tradições muito parecidas com as nossas, além de falarem português com menos sotaque que os brasileiros...

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  3. Cirrus

    Sabes que eu acho que este tipo de tradições ao contrário do que muita gente diz podem efectivamente dar dinheiro a ganhar. Se nós temos uma cultura tão rica, porque motivo não a divulgamos convenientemente. Turismo. Veja-se o que os espanhóis tem feito no desenvolvimento dos seus costumes. E nós???

    Mais outro texto extraordinário. Há sempre tanto para dizer que quando faço um comentário mais curto num texto com tanta substância, fico sempre com a impressão que estou a ser injusto.

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  4. As coisas que eu aprendo contigo!

    Ele é mitologia, ele são as raízes do Carnaval português.
    Conheço os Caretos de Podence, mas nunca tinha ouvido falar de Lazarim.

    Não sou apreciadora de Carnaval, mas o de Ourense (na Galiza) já é outra história. Já passei lá alguns Carnavais que gostei e onde me diverti imenso.

    Quanto ao Carnaval da Madeira, ele não é de agora, sabes?! Eles sempre festejaram o Carnaval. Há uns anos para cá é que resolveram "abrasileirar" a festa e "vendê-la". É um facto que têm atraído inúmeros turistas e têm a capacidade hoteleira quase esgotada nesta altura. Nessas coisas o Alberto João ganha-nos aos pontos, não brinca em serviço...

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  5. Fortifeio,

    Evidentemente que ganhar dinheiro com as tradições e, assim, ajudar a preservá-las, é um acto meritório. Diria mesmo que é uma das poucas saídas que temos para o nosso país, promover a nossa cultura e a nossa geografia para promover o turismo.

    Eu penso que sim, mas logo alguém nos acusará de estarmos a transformar Portugal no Inatel da Europa e mais não sei o quê. Sempre houve turismo, sempre irá haver. Porque não podemos ganhar com ele? Ou somos demasiado bons para esse tipo de trabalho?

    Obrigado pelos elogios.

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  6. Pronúncia,

    O nosso país é muito mais que um conjunto de pessoas aqui plantadas por obra e graça do divino. A nossa história começa na pré-história e não se sabe onde terminará. E não começou com Viriato. Começou muito antes.

    Quanto ao facto de se festejar o Carnaval na Madeira, é de sempre, mas essa foi a tradição levada pelo povo. Abrasileirar foi uma evolução natural na Madeira, pois não havia precedentes de ocupação humanas na ilha. No continente a conversa é bem diferente...

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  7. Eu sei que não começamos com o Viriato!...

    Sabia algumas das coisas que descerves, não sabia era com tanto pormenor...

    Como tu e como o Forteifeio, também eu acho que ou aproveitamos o que temos de bom... e temos tanto (e sem destruir, porque o que por aí há mais é património cultural destruído), ou então é melhor arrumarmos as botas e rendermo-nos a... sei lá... Espanha?!!!...

    (Tira aqui do blogue a verificação de palavras, isto é uma seca)

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  8. Pois é!! Mesmo!

    Rendermo-nos a Espanha?? Olha que ideia que me deste para escrever uma crónica histórica!!!

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  9. Eu sou uma mocinha muito "idiota".

    Já agora podes começar o post com a frase:

    "Um País que começou com o filho a bater na mãe e a fazer guerra ao pai... Uhm! A gente não vai longe!"...

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  10. Essa da idiota não percebi. Só agora me dei conta que a verificação estava on e também não gosto nada!

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  11. Idiota é ter ideias, e não dá-las de graça. Isso é generosidade!

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  12. 4 pessoas, 4 vidas diferentes, 4 portugueses que percebem que se deve preservar a cultura e a tradição de um País por todos os beneficios e mais alguns.

    E será que os alfabetizados analfabetos do turismo não percebem isto?????

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  13. Aceito a correcção de "idiota" é ter ideias...

    Mas também não é generosidade, porque dei sem saber que dava...

    Mas ainda bem que dei... porque já li, já comentei e... ADOREI!...

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  14. Fortifeio,

    É quando nos damos em países que consideramos do Terceiro Mundo a visitar monumentos milenares, entre milhões de outras pessoas vindas de todo o Mundo, que percebemos que Portugal e, de uma forma geral, toda a Europa, tem tanto a aprender! Com uma herança milenar ao virar da esquina, insistimos em modernizar o que deve ser preservado e a promover unicamente as praias portuguesas, esquecendo milénios de história, que estão à vista de todos. Assim levemos lá os turistas...

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  15. Pronúncia,

    às vezes, basta existir e estar num determinado local para sermos generosos.

    Obrigado!

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  16. Cirrus,

    Tambem já estou farta destas brasileirices, que ultimamente se têm vindo a implantar nos nossos carnavais.

    Por isso, é que ainda hoje, fui ver o corso aqui do Magoito, que é organizado entre 4 aldeias, e que continua a ser o verdadeiro carnaval português ou saloio, como lhe queiram chamar.

    E não foi preciso, andarem por ali todos descascadas, para terem gente por todo o lado a ver o corso. E mais consegue reunir pessoas de todas as idades, desde miudos de 5 anos até pessoas de 80 anos.

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  17. Tradição é tradição! E, só por isso, merece ser preservada e defendida das aberrações que vemos por aí em determinados corsos.

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