domingo, 22 de janeiro de 2012

JESUS, MARIA E AS CORRENTES

Ilustração de Marco Joel Santos
Texto de autoria tripartida, entre Eusébio Santos, Pronúncia do Norte e Malena, a partir de um desafio lançado aqui há uns tempos. Depreendo que os outros autores lhe tomaram o gosto. A ilustração, como é hábito, é do quarto autor do post, o Joel Santos.

1.    E era que, naqueles dias, ninguém sabia do carpinteiro José; porque ninguém o encontrava em parte alguma de Nazaré;
2.    Podia ser que fosse porque Nazaré só havia de aparecer no séc IV, mas também podia ser porque simplesmente José nunca ultrapassou a noite da conceição;
3.    E porque, naqueles dias, os psiquiatras só receitavam ervas daninhas e os psicólogos ainda não perguntavam pelas mães e tal, José provavelmente voltou para o Egipto com vergonha do sucedido;
4.    E era que Maria, morando com seu filho Jesus, se encontrava sozinha em casa, tomada de tédio, pois havia-se esquecido de comprar o Extenso e a única coisa que passava na Judevisão era a circuncisão do filho do Herodes – o mesmo do ou succionas ou te sexas.
5.    E sabendo Maria que o circo estava na cidade, cedo entregou o filho Jesus aos cuidados do pai e abalou para a cidade; e Gabriel se resignou, pois o Senhor de Israel e de Judá o ameaçou com grandes males se assim não o fizesse, tendo igualmente pegado na faca para o privar da sua masculinidade angelical, caso assim não fizesse, dizendo:
6.    A Maria pode ser uma grande senhora de má fama, mas fama já ela tem, proveito já tu tiveste e o puto não tem culpa nenhuma que o pai não saiba guardar a… as asinhas atrás das costas!
7.    E assim Maria se dirigiu ao circo de Jerusalém. E era que, naqueles dias, a cidade tinha o circo, mas não com os palhaços e o Pai Natal num comboinho nem com o Catroga a extorquir massa nem com a Manela a matar velhos, pois que era um circo de gladiadores;
8.    E Maria viu o espectáculo, e se prazenteou no sangue, e retirou prazer do suor dos homens, e sentiu umas cócegas ao fundo do seu santo ventre, e sabia que não era nenhum Salvador que aí vinha – e decidiu descer às catacumbas após o sanguinolento espectáculo;
9.    Maria não estava ali apenas pelo espectáculo. Ela recebeu via Judenet, um pergaminho que lhe dizia que tinha que visitar o circo, e passar a missiva a leões e gladiadores, com quem deveria travar conhecimento bíblico. O pergaminho terminava com a ameaça de que se Maria quebrasse a corrente (ufa! finalmente apareceram as correntes), nunca mais na sua vida seria visitada pelo... espírito santo;
10.    Maria não acredita em bruxas, mas que as havia, havia.
11.    E Maria desceu às catacumbas e percorreu-as lentamente, determinada a cumprir a sua missão;
12.    E entrou Maria, na ala dos leões;
13.    Em vez do felino pujante e de juba farfalhuda (esta palavra dava um post), qual não foi o espanto de Maria ao encontrar apenas um gato escanzelado;
14.    Já naquele tempo, os animais falavam. E Maria perguntou ao gato onde estava o leão;
15.    E o gato lhe respondeu que o leão, como estava desempregado desde o início daquele ano, emigrou para parte incerta e deixou-o a ele, gato, a lutar pelo campeonato (que estava a ser dominado por umas aves de rapina);
16.    Maria, desiludida, seguiu para a ala dos gladiadores, onde esperava encontrar atléticos e musculados espécimes daquela raça, quem sabe o próprio Russelus Cru (o que até lhe agradava, porque Maria sempre preferiu a carne mal passada), com quem travar conhecimento e manter a corrente e fugir do agouro do pergaminho;
17.    Mas em vez deles encontrou apenas o José, e não era o dela, que esse tinha fugido para o Egipto, e uma múmia, era o Castellus Brancus e a Betty;
18.    E perguntou-lhes Maria pelos atléticos e musculados gladiadores com quem esperava travar conhecimento;
19.    E respondeu-lhe o José, o que não era o dela, que os gladiadores tinham emigrado para o bosque sagrado (que em Inglês se escrevia Holy Wood), e que depois de lhe crescer azevinho e ganhar um "l" (estava na moda ter dois l's no nome) passou a ser conhecido por Hollywood. Eles emigraram para lá, porque eram obedientes e seguiram os conselhos do senado romano para que emigrassem, e porque o cinema sempre pagou muito mais que o circo. E que eles, José, que não era o dela, e a múmia Betty, os tinham ficado a substituir, pois em circos eram doutorados desde um domingo e por Judefax;
20.    E perguntou-lhe Maria que se não havia leões, só um gato, se não havia gladiadores, como poderia ela manter a corrente e evitar o agouro do pergaminho que recebeu pela Judnet;
21.    E respondeu-lhe o José, o que não era o dela, que se queria manter a corrente ele e múmia Betty teriam todo o prazer em transmitir-lhe conhecimento, especialmente bíblico, e que não precisava de se preocupar, porque ele José, que já naquele tempo andava a cantar, lhe cantaria a canção que estava em nº1 do Judtop;
22.    E José começou a cantar-lhe: “ai, ai, si eu ti pego... delícia... assim você mi mata”;
23.    Maria atirou-lhe com o pergaminho e foi-se escada acima, pois que aquela canção era demasiado para os seus supostamente virginais ouvidos;
24.    E em subindo das catacumbas, muito lhe tremiam as pernas não sabendo se do susto se das comichões que de novo se apossavam das suas partes pudibundas;
25.    E sendo que da arena subiam os clamores dos amos cujos escravos ou tinham emigrado ou escapado à meia hora extra semanal, Maria foi em busca de um local silencioso;
26.    Eis senão quando, um raio de luz a encandeou e desse raio surgiu uma voz que lhe disse: “Vai e compra umas correntes que delas te virá grande gozo!”;
27.    E logo lhe acudiram as lembranças de José que tanto se aprazia em acorrentá-la à cabeceira das camas que construía para testar a sua qualidade;
28.    Lembrou-se ainda que fora assim, acorrentada, que o Anjo Gabriel a encontrara e que, como a voz dissera, disso retirara grande gozo;
29.    E porque, naqueles dias, não havia onde se vendessem artefactos de cariz sexual, as correntes só poderiam ser encontradas no mercado de escravos onde os clientes escasseavam devido à crise que um qualquer antepassado da Merkel provocara;
30.    E Maria dirigiu-se ao mercado pelo caminho mais longo, mas de ruas mais esconsas, em busca do tal silêncio e das montras de roupa BDSM que combinasse com as correntes;
31.    E em chegando ao mercado viu muitos homens e mulheres com grilhetas nos pés, unidas por correntes de ferro;
32.    E aproximando-se deles, perguntou-lhes: “Onde encontro os vossos donos, pois quero umas correntes como essas e não as arranjo em mais lugar nenhum?”;
33.    E os seus olhos se arregalaram de espanto pois os escravos desataram a linguajar de forma estranha, que uma compradora lhe disse ser Português, ainda que essa fosse uma língua do futuro;
34.    Logo se aproximou um dos mercadores, e os escravos murmuraram “ארנב! ארנב!” (Coelho! Coelho!, em Aramaico!);
35.    E Maria começou a correr, tomada de pânico, pois não havia fantasia erótica ou ameaça de mau agouro que a fizesse correr o risco de ouvir tal homem e, muito menos, de com ele travar conhecimento;

6 comentários:

  1. O melhor mesmo é a ilustração! Liiiiiiinnnnnnndaaaaaaaaa! :)

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  2. Penso que o texto tem as suas possibilidades de vingar...

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  3. Estou com a Malena, o melhor é a ilustração... o Joel apanhou muito bem as três partes do post.

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  4. O Joel apanhou três partes??? Olha a sorte do moço!

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  5. Ena! Escrevemos e comentamos!! Polivalentes, nós! ;)

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  6. já tinha dito à Pronúncia, vocês puseram mesmo a Maria a passar por senhora de índole duvidável XD

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