quinta-feira, 1 de novembro de 2012

OS DIAS DE TRIBULAÇÃO


Ilustração Marco Joel Santos
Na Bíblia é anunciado o Fim dos Dias, no Livro da Revelação, o livro profético do manual de costumes cristãos, precisamente o último. Não, não vou dizer que é um manual de maus costumes, porque não tenho pretensões de ser um Saramago nem de me ocorrer alguma das suas brilhantes tiradas. Com ele partilho apenas a cor.
Mesmo não sendo pretensioso ao ponto de me comparar sequer ao chão que Saramago pisou, volto aos dias do fim. Antes dos dias do fim propriamente ditos, é-nos comunicado que passaremos pelos dias de tribulação. E a que propósito vem isto? Provavelmente o nível de pretensão é elevado da minha parte ao querer metaforizar a situação do país recorrendo ao Livro da Revelação (e não do Apocalipse, como por aí se diz). Mas é mais ou menos isso. Os dias de tribulação começaram em Portugal. Restam poucas dúvidas que há muito começaram para o povo, mas parece-me que o acto institucional de hoje – a aprovação da Liquidação de Estado para 2013 – marca o início dos Dias da Tribulação para o próprio Governo.
Tal como na Bíblia ocorre com o Anti-Cristo, o governo parece secundado com quatro cavaleiros do Apocalipse. O primeiro é o Mário Duque, esse estranho ser acéfalo com duas personalidades que passava a vida a acompanhar o Medina Carreira na TV. Ou então eram o Mário Crespo e o João Duque, porque há quem diga que são pessoas diferentes. O segundo parece ser João Proença, presidente dos TSD/UGT, que trocou a luta pelos direitos daqueles que representa pela luta daqueles que o desprezam. Nem sempre as hostes diabólicas são leais entre si, razão pela qual, afinal, o Bem sempre triunfa. O terceiro cavaleiro do Apocalipse é o gestor do Pingo Doce, António Borges, que havia sido despedido pelo FMI por incompetência, mas é suficientemente bom para ser ministro da economia em Portugal, na “ausência” do amigo Álvaro, bem como para gerir as cedências aos privados de empresas do Estado (vulgo privatizações), mesmo sendo ele um dos interessados directos nesse assunto, facto realmente diacrónico e revelador do grau de corrupção evidente que se apossou deste Governo. O quarto cavaleiro do Apocalipse é estrangeiro, um tal de Ülrich, um alemão mal encarado com notável e surpreendente habilidade para falar a língua lusa.
O Ülrich, presidente de um Banco, sabe até quando o país pode aguentar em austeridade. Ninguém parece saber, e até a múmia presidencial já se calou há meses com o discurso dos sacrifícios, mas o alemão Ülrich sabe. Ele sabe.
Escrito em bom português, o sacana do Ülrich tem uma lata do camandro. É um dos principais responsáveis pela situação a que chegou este país, recebe dinheiro do Estado português a 1%, que o mesmo Estado português recebeu de uma Troika a 4%, recebe dinheiro do BCE a 1%, o mesmo BCE que empresta dinheiro a Portugal a 4%. Depois, empresta o dinheiro aos portugueses pacóvios a 5%, 6% ou ainda mais. Para cúmulo, recebe dinheiro do Estado português para equilibrar as contas internas, quase de graça, dinheiro que utiliza, de imediato, para comprar dívida pública portuguesa a 4% no mercado de dívida, para fazer o jeito ao Gaspar, que assim fez um brilharete no dia do anúncio das medidas de eutanásia em Portugal para 2013, ao anunciar igualmente que Portugal tinha vendido dívida a juros mais baixos. Pois, vendeu-a ao BPI, e não só. O Ülrich tem muita lata. Não esquecerei nunca a felicidade imensa de Ülrich na noite do anúncio do assalto da Troika a Portugal. Tem muita lata, este alemão de meia tigela, mas ficou-me atravessado na garganta.
Não que eu seja cliente do BPI. Não sou, nem quero ser. Nem vou aconselhar ninguém a tirar o dinheiro do BPI. Isso é treta. O Ülrich não precisa do vosso dinheiro, tem dinheiro a rodos dado pelo Estado portuguẽs ou pelo BCE. E não que apenas o BPI tenha comprado dívida portuguesa, agora ou em anteriores leilões. O BCP, o BES, o Totta, estão todos no mesmo barco.
Até a Segurança Social ajuda à festa. Ah pois, a Segurança Social... Ou esperávamos todos que os nossos descontos mensais serviam apenas para pagar reformas e subsídios de desemprego? Não, servem também para jogar na Bolsa, nos mercados... Tudo ajuda à festa do “competentíssimo” Gaspar. Acresce que não convém esquecer que 70% da dívida portuguesa não é pública – é privada. Se é privada, é dos Bancos, que emprestaram dinheiro que pediram emprestado ao BCE, a PRIVADOS. As operações BPN, GALP, PPPs, Sonae, Jerónimo Martins, Brisa... dizem-nos algo?
Voltando à metáfora bíblica, quem é, então a Besta? Quem é o Anti-Cristo?
Bem, estará de visita em breve. A única dúvida é qual a cor, pois o casaco que traz vestido já sabemos que corte tem...
De uma coisa não podemos acusar o governo de Gaspassos Vielho: o de não unir os portugueses em redor de um desígnio maior, tal como Camões anunciava nos Lusíadas. Esse desígnio é ver este Governo pelas costas o mais rapidamente possível. A luta ainda agora começou. E tenho a sensação que quando saírem as tabelas de retenção do IRS nos recibos de vencimento... aí estarão os Dias de Tribulação deste Governo...

13 comentários:

  1. um dia destes isto descamba... anseio por esse dia...

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  2. Assim seja... Comecem esses dias...

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  3. Quer-me parecer que ainda não há bem a noção do "que aí vem" (apesar de já se usar esta expressão no dia a dia, creio que ainda não bateu a sério na consciência), mas tenho para mim que não passa da altura em que tiver que se pagar o IMI. Vai dar m€$&@ da grossa, ai vai vai...

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    1. Não há, de facto. A realidade vai bater de frente para muita gente...

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  4. Cirrus, muitas pessoas ainda agora começam a sentir os efeitos deste saque. Reparam que perderam direito à isenções na saúde, que terão de pagar um aumento astronómico do IMI, dos combustíveis, do IC. Quando virem o que lhes vai acontecer com O IRS, tal como dizes no fim do texto, pode ser que, finalmente, acordem e expurguem esta parasitada toda da lusa terra!

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    1. Cat, também me parece que esse momento será decisivo... No entanto, há que contar com a habitual condescendência lusa...

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  5. Estou com muitas saudades
    como estou resolvendo no momento
    problemas pendentes que preciso realmente
    decidir.
    Com muitas saudades venho deixar meu carinho
    e agradecer sempre pela sua linda amizade.
    Quantas vezes ao me sentir sozinha entro
    no meu blog vejo um recado carinhoso
    minhas forças se renova a cada dia.
    Uma abençoada semana beijos na sua alma
    pra sempre sua amiga,Evanir..

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    1. Beijos na minha alma parece-me um bocado coiso, mas é evidente que poderá ser sempre minha amiga.

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  6. Eu também estou com saudades, pá!! Não respondes aos comentários, agora?? Ahahahah

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  7. CIRRUS: confio (SEMPRE!) que o "ZÉ Povinho" já sem "pano para mangas" ,ACORDE PARA DAR UMAS CACETADAS VALENTES A ESTES VÍRUS HUMANOS! ABRAÇO
    Lusibero

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