A antiga cidade de Petra, capital dos Nabateus, que controlavam as rotas de comércio do Oriente, foi eleita, não vai há muito tempo, uma das sete Maravilhas do Mundo Moderno. Não deixa de ser ironia que tenha uma idade tão avançada como algumas das Maravilhas do Mundo Clássico. O sítio fica na Jordânia, a escassos quilómetros da Palestina, ligeiramente a sul de outra maravilha, esta natural, o Mar Morto.
A cidade está, assim, promovida da forma mais eficaz. Muitos poderão pensar, e estão no seu direito, que o facto de ter sido eleita como uma das Maravilhas não implica que, por si só, seja digna de visita. É um facto. Para mais, encontra-se num dos mais ameaçados países do Mundo, pela sua perigosa proximidade dos lunáticos israelitas, e pelo péssimo hábito de abrigar os refugiados palestinianos. Tudo isso pesa. Muitos poderão pensar se, realmente, vale a pena.
Petra fica nas imediações de Wadi Musa, uma pequena cidade obscura perdida nas montanhas jordanas. Não fosse a cidade antiga, não passaria de um lugarejo esquecido. Agora, já tem hotéis em quantidade e qualidade. O hotel Taybet Zalman, de cinco estrelas, abrigou-nos por duas noites e é o mais perfeito exemplo de como se pode reconverter toda uma aldeia abandonada num projecto fabuloso, lá no alto da serra abrasada pelo calor imperioso. Aos seus pés, jaz a cidade perdida. Olha-se, mira-se e torna-se a olhar. Sabemos que está ali, à nossa frente. Mas não a vemos. Perde-se nos fundos desfiladeiros, e a sua entrada está tão dissimulada que nos escapa aos sentidos.
Uma vez transposta, depois de uma primeira caminhada de dois quilómetros ao sol, entramos num desfiladeiro, polido pelas águas que antes o esculpiram, estreito e sombrio. Tem dois quilómetros de comprimento, por vezes quase desaparece à frente dos nossos olhos, para depois abrir pátios com uma dúzia de metros de largura. As sua paredes são verticais, por vezes unem-se mesmo lá em cima, de cor vermelha, adornadas por inúmeros pequenos altares, aqui e ali, e tendo esculpidos os antigos canais de condução de água para a cidade, bem ainda hoje tão precioso que nem uma gota é desperdiçada.
Após esta caminhada admirável, que faria apenas para apreciar a frescura do desfiladeiro e a sua sinistra beleza, sente-se as paredes a estreitar, em curvas suaves. Mergulhamos numa penumbra fresca, e, de repente, a luz do sol surge numa brecha na parede. Ofusca os nossos olhos habituados à escuridão, fere os sentidos e vai abrindo aos poucos. Deve caminhar-se devagar, não vamos cegar com a luminosidade que quase não nos deixa vislumbrar o monstruoso Kazneh, o famoso Tesouro, que já serviu de cenário a Harrison Ford. Este templo esculpido na parede do desfiladeiro aparece de frente, inesperadamente. E não temos olhos para engolir toda a imagem. É gigantesco, imponente, quase perfeito nas suas proporções mágicas e na sua cor vermelha. Como quase todos os templos de Petra, apenas vemos os seus dois andares superiores, o térreo está debaixo do pavimento.
O assombro é tanto que quase não sentimos forças para continuar. O que pode ser mais belo em Petra? Na realidade, penso que nada. É o segundo maior monumento da cidade. Após muita contemplação, lá viramos para a direita e, umas centenas de passos mais abaixo, entramos na cidade. O teatro, imenso, as Tumbas Reais, centenas de templos e túmulos recortados na pedra colorida. E o calor, o imenso calor que se faz sentir, agora que saímos do desfiladeiro. Viragem à esquerda, mais um quilómetro e surge-nos a única edificação da cidade por escavar: o templo romano de Júpiter. Noventa e nove por cento da cidade está ainda enterrada pelas areias do deserto e pelos seus próprios escombros, resultado dos inúmeros terramotos que a atingem com frequência.
Lá bem ao fundo, dois restaurantes, e o objectivo de uma viagem: para ver o que nunca tinha visto, há que subir oitocentos e quarenta e quatro degraus escavados nas vertentes irregulares da montanha. A subida para o Al Dayr, o Mosteiro. A subida é penosa, quase impossível. Os degraus são mal desenhados e irregulares, por entre paredes a ferver. Extensos areais planos dificultam o andamento. Já perto do final da subida, a rocha estreita para um escasso metro ladeado de uma queda mortal de duzentos e cinquenta metros no vazio de uma fenda da qual não vislumbramos fundo.
Mas chega-se lá acima. Cansados, com os pés em brasa, escorrendo suor. Em frente, uma acolhedora esplanada explorada pela última família de beduínos que habita Petra. Sombra fresca e água. Melhor ainda, chá a ferver, o antídoto perfeito para o deserto e sua secura mortal. Quase corremos para as mesas e cadeiras típicas debaixo da tenda beduína que forma um tecto fresco.
Depois, algo incomoda e fere o canto do olho. Viramos devagar a cabeça, pressentindo o momento. É o Al-Dayr, o Mosteiro. É difícil abarcar as suas colossais dimensões. Como pode estar uma coisa destas num local tão remoto, de tão difícil e perigoso acesso? O piso térreo está debaixo das areias, mas os dois que se mostram orgulhosamente chegam. As pessoas que têm a coragem de percorrer os duzentos metros de areias amareladas e escaldantes até ao seu interior parecem formigas. E pode admirar-se sentado, bebendo um chá fervente. Apenas uma vez senti aquela sensação de esmagamento, e foi em Gizé, há muito tempo. Antes de nova subida, apenas mais umas dezenas de metros, para ver mais um monumento grandioso, este erguido à bestialidade humana: a Palestina.
A cidade está, assim, promovida da forma mais eficaz. Muitos poderão pensar, e estão no seu direito, que o facto de ter sido eleita como uma das Maravilhas não implica que, por si só, seja digna de visita. É um facto. Para mais, encontra-se num dos mais ameaçados países do Mundo, pela sua perigosa proximidade dos lunáticos israelitas, e pelo péssimo hábito de abrigar os refugiados palestinianos. Tudo isso pesa. Muitos poderão pensar se, realmente, vale a pena.
Petra fica nas imediações de Wadi Musa, uma pequena cidade obscura perdida nas montanhas jordanas. Não fosse a cidade antiga, não passaria de um lugarejo esquecido. Agora, já tem hotéis em quantidade e qualidade. O hotel Taybet Zalman, de cinco estrelas, abrigou-nos por duas noites e é o mais perfeito exemplo de como se pode reconverter toda uma aldeia abandonada num projecto fabuloso, lá no alto da serra abrasada pelo calor imperioso. Aos seus pés, jaz a cidade perdida. Olha-se, mira-se e torna-se a olhar. Sabemos que está ali, à nossa frente. Mas não a vemos. Perde-se nos fundos desfiladeiros, e a sua entrada está tão dissimulada que nos escapa aos sentidos.
Uma vez transposta, depois de uma primeira caminhada de dois quilómetros ao sol, entramos num desfiladeiro, polido pelas águas que antes o esculpiram, estreito e sombrio. Tem dois quilómetros de comprimento, por vezes quase desaparece à frente dos nossos olhos, para depois abrir pátios com uma dúzia de metros de largura. As sua paredes são verticais, por vezes unem-se mesmo lá em cima, de cor vermelha, adornadas por inúmeros pequenos altares, aqui e ali, e tendo esculpidos os antigos canais de condução de água para a cidade, bem ainda hoje tão precioso que nem uma gota é desperdiçada.
Após esta caminhada admirável, que faria apenas para apreciar a frescura do desfiladeiro e a sua sinistra beleza, sente-se as paredes a estreitar, em curvas suaves. Mergulhamos numa penumbra fresca, e, de repente, a luz do sol surge numa brecha na parede. Ofusca os nossos olhos habituados à escuridão, fere os sentidos e vai abrindo aos poucos. Deve caminhar-se devagar, não vamos cegar com a luminosidade que quase não nos deixa vislumbrar o monstruoso Kazneh, o famoso Tesouro, que já serviu de cenário a Harrison Ford. Este templo esculpido na parede do desfiladeiro aparece de frente, inesperadamente. E não temos olhos para engolir toda a imagem. É gigantesco, imponente, quase perfeito nas suas proporções mágicas e na sua cor vermelha. Como quase todos os templos de Petra, apenas vemos os seus dois andares superiores, o térreo está debaixo do pavimento.
O assombro é tanto que quase não sentimos forças para continuar. O que pode ser mais belo em Petra? Na realidade, penso que nada. É o segundo maior monumento da cidade. Após muita contemplação, lá viramos para a direita e, umas centenas de passos mais abaixo, entramos na cidade. O teatro, imenso, as Tumbas Reais, centenas de templos e túmulos recortados na pedra colorida. E o calor, o imenso calor que se faz sentir, agora que saímos do desfiladeiro. Viragem à esquerda, mais um quilómetro e surge-nos a única edificação da cidade por escavar: o templo romano de Júpiter. Noventa e nove por cento da cidade está ainda enterrada pelas areias do deserto e pelos seus próprios escombros, resultado dos inúmeros terramotos que a atingem com frequência.
Lá bem ao fundo, dois restaurantes, e o objectivo de uma viagem: para ver o que nunca tinha visto, há que subir oitocentos e quarenta e quatro degraus escavados nas vertentes irregulares da montanha. A subida para o Al Dayr, o Mosteiro. A subida é penosa, quase impossível. Os degraus são mal desenhados e irregulares, por entre paredes a ferver. Extensos areais planos dificultam o andamento. Já perto do final da subida, a rocha estreita para um escasso metro ladeado de uma queda mortal de duzentos e cinquenta metros no vazio de uma fenda da qual não vislumbramos fundo.
Mas chega-se lá acima. Cansados, com os pés em brasa, escorrendo suor. Em frente, uma acolhedora esplanada explorada pela última família de beduínos que habita Petra. Sombra fresca e água. Melhor ainda, chá a ferver, o antídoto perfeito para o deserto e sua secura mortal. Quase corremos para as mesas e cadeiras típicas debaixo da tenda beduína que forma um tecto fresco.
Depois, algo incomoda e fere o canto do olho. Viramos devagar a cabeça, pressentindo o momento. É o Al-Dayr, o Mosteiro. É difícil abarcar as suas colossais dimensões. Como pode estar uma coisa destas num local tão remoto, de tão difícil e perigoso acesso? O piso térreo está debaixo das areias, mas os dois que se mostram orgulhosamente chegam. As pessoas que têm a coragem de percorrer os duzentos metros de areias amareladas e escaldantes até ao seu interior parecem formigas. E pode admirar-se sentado, bebendo um chá fervente. Apenas uma vez senti aquela sensação de esmagamento, e foi em Gizé, há muito tempo. Antes de nova subida, apenas mais umas dezenas de metros, para ver mais um monumento grandioso, este erguido à bestialidade humana: a Palestina.
Esmagador, sem dúvida. Chamo também a atenção para as maravilhas que se escondem na Síria, e claro, o teu inimigo de estimação, Israel.
ResponderEliminarSão países a visitar, sem dúvida. A Síria é um belíssimo país com uma capital encantadora. No Líbano, encontra-se Baalbeck, um dos templos mais intrigantes de que há memória. Na Palestina, sem dúvida, Jerusalém é um ponto de referência, quiçá, o ponto de referência.
ResponderEliminarNão me considero importante o suficiente para ser considerado inimigo de Israel. Mas sou realista e tenho uma opinião que não escondo nem alinho em politicamente correctos. Como país de uma só etnia, Israel é um equívoco tremendo.
Cirrus:ontem ,por volta das três da tarde, deu um comentário no NATIONAL GEOGRAPHIC sobre os mistérios da construção de Petra,os conhecimentos do povo nabateu no campo da Arquitectura, da Geometria, da elevação das águas naqueles canais astronómicos...tudo sobre PETRA.
ResponderEliminarFiquei a saber mais do que quando lá fui, há anos,porque não suporto o calor e não saía do hotel, por nada deste mundo! Que burra que eu fui!
Abraço de lusibero
Maria
ResponderEliminarSem sacrifício, não podia ter visto a monumentalidade do sítio. Mas admito que não é fácil...
Não me dou nada bem com calor extremo, nem com subidas/descidas íngremes, mas confesso que fiquei com uma vontade enorme de superar essa minha fraqueza só para poder apreciar isto... Fabuloso!
ResponderEliminarEste texto está fabuloso. Brutalmente bom.
ResponderEliminarMais um para guardares, como tantos outros e mais tarde recordares.
O sitio é magnifico seguramente, é uma opinião unânime de quem já o visitou, infelizmente não foi o meu caso.
Pronúncia
ResponderEliminarA subida ao Mosteiro não é mandatória. O resto da cidade é, só por si, esmagadora. Também eu tenho problemas com vertigens, que, lá em cima junto às brechas, atacam forte. Bom calçado (nada de sandálias) e muita perseverança, pois... Vale a pena!
Forte
ResponderEliminarObrigado pelos elogios, mas a inspiração não é minha. É mesmo do local.
Conheço bem as pestes das vertigens por experiência própria... já fiquei completamente imobilizada por causa delas! Um horror...
ResponderEliminarMas se fosse para essas bandas acho que ia querer ver tudo a que tinha direito. Afinal não é uma viagem que se faça muitas vezes.
Depende da perspectiva... Suponho que, por esse prisma, se fores ao Egipto, provavelmente passarás lá um ano. No mínimo...
ResponderEliminarlindo.... tu das-me cá uma raiva... ó pá não sou mt de ter inveja mas tu deixas-me a fervilhar....
ResponderEliminarporuqe raio tens tu de falar destas maravilhas quando eu estou presa em casa, neste mundinho tão pequenino e só me apetece deixar tudo para trás e passar-me ao c*****!?!?!?
tou a brincar... :P
Anne
ResponderEliminarQue posso eu fazer? Olha que nunca escolhi um destino de férias para esturricar ao sol num condomínio fechado durante uma semana... Nem percebo como alguém consegue...
Também não acho piada a blocos de cimento que apelam à preguiça humana, mental e física, mas não digo que não gostasse de ir passar uma semanita num desses "paraísos" que só têm mar e sol, porque eu adoro o mar e a praia. mas claro que isso não se compara a todos os sítios históricos e maravilhosos espalhados pelo mundo, onde a "civilização" não atinge e onde podemos apreciar toda a beleza da criação humana e da natureza, claro. Não é à toa que uma das minhas profissões de sonho fosse ser historiadora, mais propriamente arqueóloga.
ResponderEliminarPois, eu penso que passar férias só para apanhar sol pode ser bom, mas a ser assim, pelo menos que nos deixem sair para o exterior do hotel. E nessas coisas, não há como os países árabes para podermos andar na rua a apurar os sentidos.
ResponderEliminarTambém eu gostava de ter formação na área da história, mas optaria por antropologia. Ainda penso um dia meter-me nessa aventura.