quarta-feira, 15 de julho de 2009

...OUTRA NA FERRADURA!


Hoje vi o título de uma qualquer publicação que me chamou a atenção. Não me perguntem qual a publicação, apenas passei os olhos nos escaparates e lá estava em letras bem gordas. Para me provar que até aquelas pessoas que eu considero extremamente radicais podem ter laivos de lucidez moderada, apelos interessantes e chamadas de atenção importantes. Falo de quem? Adivinhem lá... do Papa Bento XVI.

Lá dizia o título em gordas que Bento XVI considera o laicismo radical tão grave como os fundamentalismos religiosos. A minha primeira reacção foi simples, pensando cá para mim que era bem claro que a frase vinha de quem vinha e era óbvio que essa seria sempre a sua opinião. Mas depois dei comigo a pensar a duzentos à hora (o que é frequente e não é grave, grave é as palavras saírem a duzentos e dez...). Não sei exactamente qual o contexto em que Bento XVI profere estas palavras...

Mas uma coisa é certa - está mais que certo. A nossa sociedade laiciza-se com uma velocidade estonteante, o que não é anormal nem particularmente grave. O problema é que, a acompanhar a velocidade, está um outro factor, e esse, sim, grave. E esse é o radicalismo. Não é de hoje, mas de hoje cada vez mais, que nos afastamos das religiões. Na minha opinião, não há um problema em si mesmo, é apenas uma evolução natural do espírito humano, demasiado insaciável, hoje, para as incertezas e dogmas religiosos. Queremos sempre mais e é perfeitamente normal que assim seja. Ícaro também era assim e derreteu as asas na atmosfera superior, mas isso é outra história...

O problema é outro. O problema põe-se quando, a par desse afastamento da instituição religiosa, também acontece o afastamento das pessoas religiosas ou não-laicas. Quantas vezes isso já não aconteceu, até aqui, na blogosfera, em que muitas pessoas crentes em diversas fés e credos são deixadas a um canto apenas por professarem essa fé? É o novo pecado original. A indiferença é já, por si só, grave. Quando as coisas atingem níveis de violência física ou psicológica a coisa torna-se perversa, pois o combate pelo laicismo perde a sua razão de ser, ou seja, a capacidade de pensar por si só e de respeitar o pensamento do outro.

Porque hoje também temos "Evangelizadores Laicos", que professam tão ferozmente o Laicismo como outros professaram no passado a religião. O que os torna melhores? Pouco ou nada. Assim sendo, penso que as palavras de Bento XVI, apesar de lhes desconhecer o contexto, tocaram com mestria num dos grandes problemas da sociedade actual: o exacerbado orgulho no indivíduo e consequente desprezo pelas ideias dos outros. Para ser sincero, penso que Bento XVI tem toda a razão nesta questão.

Depois, pensei em mais uma questão: não estaria ele a referir-se à proibição do uso de vestes muçulmanas pelo governo francês (por acaso, laico)?

Será que o Papa está mais atento ao mundo (ainda mais, digo eu) do que pensamos??

11 comentários:

  1. Cirrus, o problema não é só o laicismo radical. O problema é a cultura exagerada do culto pelo individuo, seja laico ou não.

    Quanto à proibição de vestes muçulmanas só quero compartilhar uma situação que se passou comigo.
    Em Outubro, em Londres, entramos num armazém da Oxford Street e fomos abordados por um segurança porque uma amiga minha tinha o capuz do casaco enfiado na cabeça (estava um frio de rachar), mas a cara era perfeitamente visível, e ele obrigou-a a tirar o capuz, por questões de segurança, alegou. Acontece que o armazém estava atestado de árabes, elas com os lenços e meia cara tapada e eles também de capuzes e afins. Se a questão era segurança, então não deveriam ser todos obrigados a entrar nos armazéns de cara destapada, independentemente de serem ocidentais ou não???

    Gostei especialmente desta tua frase: "Mas depois dei comigo a pensar a duzentos à hora (o que é frequente e não é grave, grave é as palavras saírem a duzentos e dez...)"

    Muito interessante ;)

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  2. Em Inglaterra, pelos vistos, é quase proibido tocar num muçulmano, seja porque razão for, desde os enganos decorrentes do atentado. O que não se percebe, deixo isso bem claro. Isso é o 8.

    Se estou correcto, é precisamente por questões de reconhecimento e identificação que o Sarkozy alega querer abolir o lenço. Acontece que, a não ser que entre numa mesquita, ninguém nunca me obrigou a usar vestes muçulmanas em qualquer país árabe. Ou à minha esposa. Ou chapelinhos em Israel, diga-se. Isto é o 80.

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  3. concordo com Pronúncia, o que se passa hoje em dia é a sobrevalorização do indivíduo em relação a outros e a tudo o que o rodeia... Já não união, compaixão e muito menos humildade nas pessoas.
    Em relação à sede de conhecimento do ser humano acho que isso nunca irá mudar e ainda bem, mas há certas questões que nunca poderão ser respondidas...

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  4. Anne

    A questão que se põe é mesmo: será que podendo ser respondidas, essas questão devem ser respondidas?

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  5. Cirrus, concordemos ou não com a proibição de usar vestes árabes em França, a questão não é de agora. Já é velha e já é anterior ao Sarkozy.
    Ele alegar que é uma questão de segurança, tem o seu quê de verdade, mas sabemos muito bem que a razão principal não é essa.

    podem nunca te ter obrigado a usar vestes árabes, mas sabes bem que há países árabes onde isso acontece. Ainda ontem li uma notícia sobre uma jornalista sudanesa que foi presa e arrisca a uma pena de 40 chicotadas por usar roupa indecente, no caso... calças,
    Não foi aqui que li, foi num jornal português online, mas aqui também a podes ler http://aeiou.visao.pt/jornalista-arrisca-40-chicotadas-por-ter-vestido-calcas=f516299.

    Além disso lembro-me de reportagens de algumas jornalistas portuguesas em países árabes em que tinham que usar um lenço, tipo véu a cobrir-lhes parte do cabelo e dos ombros.

    O lenço para mim até é pacífico, é o País deles e quem os visita sujeita-se às normas deles. Pelo que considero que se a França decidir avançar com a proibição, os muçulmanos são os últimos a poderem reclamar, já que em alguns dos Países de onde eles são oriundos também impõe formas de vestir.
    Atenção, que não estou a defender que a França o faça..,

    Agora as chicotadas por causa das calças já é inaceitável. Assim como as burkas que são impostas às mulheres quer elas queiram quer não.
    Isto só para falar de formas de vestir, porque se partirmos para outros campos na forma como as mulheres são tratadas, então a minha indignação é total.

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  6. Pronúncia

    Há casos e casos. Quando me refiro a países árabes, refiro-me aos países do Médio Oriente, onde nunca vi nada disso. Aliás, já vi uma reportagem na Jordânia em que a jornalista usava lenço enquanto os scuds passavam lá em cima... O que é patético, andei lá à vontade por duas semanas e nunca olharam para nós de lado sequer. Não acredites em tudo o que vês. Nem no Irão a maioria das mulheres utiliza lenço.

    E também podes experimentar andar na rua com 45 graus à sombra sem lenço na cabeça...

    Quanto ao Sudão... desde quando isso é um país de direito? Não confundas justiça tribal com justiça de Estado, que, no caso, como bem sabes, e infelizmente, não existe. Há muitas formas de sermos tendenciosos. Quando entrares numa igreja de chinelos de dedo e top reduzido, fala comigo... ou são lá as nossas normas, e temos de as respeitar? Ou passamos a não respeitar nada, talvez?

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  7. Cirrus, como afirmei o uso do lenço obrigatório não me choca, e quando estava a escrever o meu comentário anterior até pensei que até é capaz de dar jeito por causa do sol (normalmente uso boné, mas se tivesse que ser o lenço, por mim tudo bem).

    São os costumes deles e se eu os visito tenho mais é que os aceitar, da mesma forma que se entrar numa sinagoga ou numa mesquita não posso usar mini-saia, nem calções, nem blusas decotadas, tenho que tirar os sapatos e lavar os pés à porta.

    Se um Sueco me diz que na terra dele, tiras os sapatos à porta e andas de meias ou descalço dentro de casa, quando o visito é isso que eu faço.

    Quando eu sou a visita tenho que cumprir os costumes da casa.

    Acontece que há costumes de alguns países árabes que para mim são inaceitáveis e que me causam grande indignação, no caso concreto, no que toca ao tratamento dado às mulheres. Se não os aceito então nem sequer me passa pela cabeça visitá-los... mas posso criticá-los no meu país, onde por enquanto a liberdade de expressão ainda vai existindo.

    Agora, nunca criticaria os costumes deles no próprio país deles. Ou os aceito e sujeito-me ou não os aceito e não os visito.

    Também não aceito é que tentem impor os costumes deles em países que não os seus. Aí têm de ser eles a sujeitarem-se aos costumes e lei vigente no país para onde emigram ou que visitam.

    Como diz o provérbio "Em Roma, sê Romano".

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  8. É uma forma simpática e diplomática de pôr as coisas.

    O que Sarkozy está a tentar impor não é nada do outro mundo, penso eu. E, como dizes, nada como preservar os costumes e usos da França em território francês. Não me choca absolutamente nada.

    Assim tivessem feito isso aos franceses fora da França e teríamos paz em grandes partes do Mundo. Mas nisso ninguém pensa. Nós somos sempre os civilizados. Os outros são... os outros, escumalha que nós até tivemos oportunidade de colonizar e explorar durante séculos, vinham lá agora usar lenços para a sagrada Europa!!! É preciso ter lata!

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  9. É só para mandar um abraço, Cirrus!
    Lusibero

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  10. Cirrus, a minha intenção nem foi ser simpática (apesar de por norma o ser) nem diplomática (apesar de tentar sempre a via diplomática para resolver conflitos).

    Na realidade, eu defendo a diversidade de culturas e penso que é possível coexistirem sem grandes atritos, mesmo sendo muito diferentes. O que é preciso é que se respeitem as diferenças.

    Não sou melhor nem pior do que ninguém, mas chateia-me quando, seja lá quem for, tenta impor-me os próprios costumes no meu País.

    E indigna-me que, em nome de determinados costumes, se trate com menos dignidade outro ser humano.

    Se nós, ocidentais, o fazemos?! Também fazemos... é verdade!
    Se já cometemos muitos erros no passado e continuamos a cometê-los?!
    Imensos!

    Especialmente no que toca a colonizações, evangelizações e outras coisas do género.
    Mas, felizmente, tenho consciência disso e posso criticar aquilo que não acho correcto.

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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