terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Os Sobredesenvolvidos


Não é novidade nenhuma que há uma crise internacional. É verdade que andamos todos a dormir, devem pensar os etíopes, os sudaneses e palestinianos. Crise? Qual crise? Nunca como agora se fala de crise, sem pensarmos naqueles que andam em crise, verdadeira crise, daquelas que matam, há décadas. Não interessa. Do alto dos nossos estômagos dilatados e montes de colesterol, proclamamos uma crise.

Há países que são mais atingidos pela crise que outros. Portugal deve andar pelo meio da tabela dos países mais atingidos. Sem dúvida alguma, os países menos atingidos pela crise são o Haiti, Moçambique, a Etiópia e o Darfur, parte ocidental do Sudão. Aí a crise não chegou. São os grandes vencedores desta crise, pois lá não se nota nada. Continua-se a morrer como dantes, por isso, estão no topo da tabela dos países que menos mudaram durante a grande crise internacional.

Mas há países que sofreram sobremaneira. Estou a pensar na Irlanda e na Islândia. São dois países interessantes, por razões diferentes. Os irlandeses devem ser dos seres mais chauvinistas que existem. Têm o país mais belo, a melhor cerveja, os prados mais verdes, a melhor música, os melhores espectáculos de dança e até o melhor whisky, quando sabemos que esse é o scotch, dali ao lado. Pela minha parte, estão bem longe disso tudo. Não são o país mais belo, bem longe disso, são apenas verdes, mas por razões climáticas. Não têm a melhor música porque... não, pronto! Não têm a melhor cerveja, pois essa deve ser bebida bem fresca e não morna como por lá (só de pensar dá-me vómitos), e quanto aos espectáculos de dança e sapateado, são tão impressionantes como ver um filme antigo de Fred Astaire, com a diferença que esse era só um em palco. Acho aqueles espectáculos deprimentes e chatos como o caraças, é como ouvir uma dezena de martelos pneumáticos com botas de fada...
Já os islandeses têm noção do país que têm: uma espécie de lagartagem, verde e branco, pasto de um lado e gelo do outro. São tristes e melancólicos e fizeram da Bjork uma heroína nacional, à falta de melhor.
Têm uma coisa em comum: estão ambos em crise profunda. Mas têm mais em comum. Ambos foram dados como grandes exemplos de desenvolvimento sustentado, países onde não foi preciso construir estradas ou linhas de comboio para haver desenvolvimento. Espantosos os milagres daqueles países, que nos fizeram durante anos a fio corar de vergonha e inveja.

E depois veio a crise. Afinal, a Irlanda e a Islândia caíram na crise, mais profundamente até que Portugal. Agora, surge a notícia de que podem vir a recorrer ao FMI, bem ao melhor estilo africano. Mas porquê? Que aconteceu?
Aconteceu a coisa mais simples que se possa imaginar: estes países simplesmente produziam uma simples coisa: serviços. Ora, como não são propriamente países turísticos, pois um é chato como uma panqueca e verde e pronto, e o outro é verde e branco mas frio como o caraças e nem hoteis tem, os serviços eram virados para outros sectores. Quais? Ninguém sabe muito bem, só se sabe que nem sequer estavam implantados nos respectivos países.
Ainda por cima, vai-se a ver e os altos níveis de vida destes países eram completamente artificiais, baseados num sistema de crédito que simplesmente faliu, deixando milhões de habitantes sobre endividados e... pobres.
Depois, claro, sem infraestruturas, sem estradas, sem linhas de comboio e até sem aeroportos minimamente decentes, desceram nas listas de países "recuperáveis", pois... não têm ponta por se lhes pegue, ou seja, não há investimento que resista a tantas demoras no escoamento físico de mercadorias, que, afinal e até ao momento, nunca foram produzidas pelos "milagres". Alguém conhece uma marca de telemóveis irlandesa, ou uma marca de roupa islandesa? Parece que não, parece que não existem. Nós não estamos muito melhor, mas temos o Vinho do Porto e a Salsa. Se, por aqui, as coisas estão mal, por lá parece que estão um pouco pior. Não me alegra, são situações que deviam, em todos os casos, ser evitadas. Olhemos a coisa pela positiva: pode ser que os "bifes" se interessem outra vez pela Irlanda e invadam o país para o salvar dos irlandeses. Quanto à Islândia, pode ser que o degelo do pólo Norte seja o suficiente para a apagar gradualmente do mapa e o pessoal se mude para paragens mais férteis, como a Gronelândia ou o Alaska.

Abriram falência. Pode ser que lhes sigamos as passadas, mas ainda cá estamos para lutar um pouco mais, até porque milagres, por cá, só os de Fátima e já ninguém os vê há 90 anos. Nós já estavamos em crise antes disto tudo e nunca pretendemos estar muito bem quando afinal dormíamos na parada e martelavamos números para as grandes revistas financeiras mundiais. Pelo menos uma vez, a mania das pequenezas foi realista...

14 comentários:

  1. Só quem não conhece os "Sigur Ros" para dizer, que na Islândia, endeusaram a Bjork à falta de melhor.

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  2. Também não sei de onde tirou a ideia dos irlandeses serem chauvinistas.

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  3. Sigur Ros Conheço, mas o público português não. Tem muitas dúvidas?

    Quanto aos irlandeses, depois da campanha para o célebre referendo do Tratado de Lisboa, em que tantos compatriotas nossos foram enxovalhados e agredidos nas ruas, creio que dúvidas não tenho. Lá chauvinistas são eles. E odeiam estrangeiros, agora. Como as coisas mudam, não é?

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  4. o texto está um espectáculo, fartei-me de rir, lolol, essa de espécie de lagartagem, tem maõzinha.
    Sinceramente o texto está fundamentalmente bem estruturado.
    Nós por outro lado temos auto estradas e temos o Vinho do Porto.
    Essa da Salsa tens de me explicar melhor????

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  5. fundamentadamente, queria dizer

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  6. A questão da Salsa é simples: é a mais internacional das marcas portuguesas. A par da Aerosoles, que só não apareceu porque quer deslocalizar... tá na moda...

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  7. Aqui em casa a Salsa, afinal é conhecida mas não era por mim.
    Considero que a crise está a ficar com as costas muito largas. Tudo é pretexto e justificação para despedir, corrigire exigir fora dos parâmetros legais. Tudo é pedido e imposto pois a crise assim o obriga. As empresas esquecem-se é que se enveredarem por esse caminho, e se o número de empregados atingir determinadas dimensões, as empresas também não vão escoar os produtos que produzem. Com o nivel de confiança nas últimas, ainda estou para saber quanto tempo vamos precisar para dar a volta ao texto.
    A propósito esta história da Quimonda é curiosa, como é possivel que uma empresa que estava nos píncaros da qualidade e da gestão se vê agora numa falência, sinceramente não entendo, mas se calhar também não é para entender.

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  8. Ah, pois, a Salsa... Já sabes para onde foram os cem euros que deste à filhota... Estou a brincar, claro!

    Estou para sair com qualquer coisa sobre a Quimonda, mas ainda não me saltou a "verve". Aqui há anos, fui a uma entrevista a essa empresa, que na altura era a Infineon. Foi surreal. Hei-de contar!

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  9. lol, não pá foi a minha mulher lolol
    que me contou, eu sou pouco dado a consumos. A miúda ainda não me crava lolol. Só livros e discos o resto pouco me diz. Olha já leste o clube bilderberg???
    desculpa lá isto não tem nada a ver com o post.

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  10. Por acaso não, mas é impossível passar ao lado do assunto, não é?

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  11. Tudo verde ? Então, e o mar ? Já lá foi? As escarpas não são verdes.
    São paisagens magníficas,gente à parte.

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  12. Eh pá, tá bem, também têm mar, afinal são uma ilha, não é? Quanto às escarpas, deixem lá isso, também as temos e bem bonitas! Além disso, é uma país muito monocórdico. Comem tudo cozido, imaginem lá!!!

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  13. Então, e o peixe frito ?

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  14. Peixe frito?! Isso é em Peniche, e na Nazaré e em Espinho e Ovar e enfim, por toda a nossa costa. O mais terrível prato português, não por ser pesado mas por ser cozido, é o dito à portuguesa.

    A diferença está aí: a excepção deles é a nossa regra. E vice-versa.

    Atenção, tudo isto é dito por quem nunca pôs os pés na Irlanda. Só estou a reinar com base naquilo que me dizem dois conhecidos que lá trabalham. As minhas paragens são mais mediterrânicas e bem mais quentes...

    Um abraço a todos

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