segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Prisão Minada


Vem isto a propósito da Faixa de Gazah - sim, com "h" no fim, que é mais fino e inclusivamente mais correcto e sem portuguesismos escusados tipo chauvinismo franciú.

Pois é, a Faixa de Gazah está a ser atacada. Novidade seria o contrário. Numa guerra que se afigura cada vez mais extensa, a roçar a eternidade, já há poucos argumentos que, de parte a parte, possam fazer alguma diferença. Alegam uns que têm vítimas civis, os outros que sim senhor, também nós. Uns dizem que lhes entraram pela porta dentro, os outros que têm herança ancestral com direitos retroactivos ao seu pedaço de deserto. Uns dizem que os outros são terroristas, os outros dizem que são vítimas de terrorismo de Estado. Enfim, no meio disto tudo estará uma verdade que já ninguém se esforça por compreender ou sequer descortinar. Não interessa. Já não interessa, ou talvez nunca tenha interessado. Sejamos realistas: em que são diferentes os palestinianos dos etíopes ou sudaneses?

Apeteceu-me escrever isto porque o presidente eleito dos EUA, a nação mais poderosa do planeta, que, por arrasto, tem os maiores pés de barro do mesmo (a Rússia acaba de o demonstrar, sem recurso à força), veio anunciar a constituição de uma equipa para analisar o problema. Uma equipa para analisar! Notável! Estamos então perante um episódio do Dr.House. Os especialistas sentam-se a uma mesa e analisam o problema. Barack Obama começa por negar, como fizeram todos os presidentes antes dele, a responsabilidade americana neste confronto. A Oeste, nada de novo. Esta atitude, mais do que os túneis que ligam Rafah ao Sinai, mina por completo toda e qualquer negociação ou tomada de posição.

Lembro-me, aqui há uns anos, que a Rússia invadiu a Tchechénia, uma região com sentimentos separatistas, cujos seguidores usavam do terrorismo para passar a sua mensagem. Na altura, caiu o Carmo e a Trindade, a Rússia foi vista como um inimigo da paz. Ali ao lado, na Turquia, o exército turco combate os separatistas curdos, rotulados pela ONU como organização terrorista, sob a designação de PKK. O mesmo PKK que ajudou os americanos a derrubar Saddam Hussein. Moral da estória?

Qual moral??

Agora, é o Hamas o problema. O ano passado foi o Hezbollah. Para o ano, pode ser o Egipto ou o Irão ou a Síria. Israel tem armas nucleares, embora não seja signatário do Tratado de Não-Proliferação das mesmas. Não é sancionado nem pressionado. Será que o facto de essas armas serem de fabrico americano tem algo a ver com o assunto? Poucas têm sido as vezes que ouço alguém dizer a verdade: Israel é um estado dos EUA. Ninguém diz. Mas sabemos que é verdade. Só ao cobro do Tio Sam este minúsculo estado tem vindo a alargar as suas fronteiras e aprisionado o povo que antes povoava as suas terras em dois campos de concentração, onde, assim, mantém um aparentemente inesgotável stock de mão de obra escrava que trabalha em troco de comida e, às vezes, um camião de medicamentos enviados pela ONU e que não é confiscado. Aparentemente inesgotável, pois a aviar-lhes desta forma, ele esgota mesmo. Triste sina. Ver as nossas terras confiscadas e morrer de fome. É o mesmo que nos entrarem pelo quintal dentro, expulsarem-nos da cama e meterem-nos no galinheiro. Depois, se amanharmos bem a terra, oferecem-nos os restos da refeição de ontem numa tigela de reles plástico, enquanto dormem pacificamente na nossa cama. Se pudéssemos, provavelmente, serraríamos os pés à maldita cama. Seríamos terroristas. Amanhã o nosso filho mais velho seria executado à nossa frente. No dia seguinte, atiraria pedras aos filhos dos usurpadores, até lhes acertar em cheio na cabeça. E assim por diante...

A prisão está cada vez mais minada, não só por túneis que vão do Egipto para Gazah, por onde, alegadamente, passam muitas armas, sem nunca se mencionar 90% da comida existente em Gazah, mas também e já pelo primeiro presidente negro da América.

Começa mal.

7 comentários:

  1. Amigo Cirrus:
    Vim ver a tua nova casa e gostei. Do post pois diz sem rodeios aquilo que penso e da casa pois será certamente um local de passagem sempre que me for possivel.
    As maiores felicidades
    um abraço
    kaos

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  2. Obrigado, podes sempre contar comigo.

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  3. Boa sorte para o blog.

    Eu também gosto da gente.

    Portugal : praias azuis, peixes raros,perdigueiros e serras da estrela,Pousão,Mário de sá Carneiro,Eugénio de Andrade...Bolos de comunhão com bonequinho em cima,granitos,muros de pedra,quintais, rosmaninho e alecrim aos montes, broas,sapateiros milagrosos,coretos,geleia de marmelo,sopa de milho, pessegos de São joão,Dos Prazeres um cemitério,
    cerdizeiras,muito raro...

    Abraço

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  4. Israel não usurpou nenhuma terra. Ambos os povos têm direito de estar naquele local, habitado há muitos anos atrás por centenas de tribos.
    Inclusivamente, na famosa Guerra dos Seis Dias", cobardemente atiçada pelos Russos, o povo judaico, em clara minoria, derrotou a Aliança Árabe, de um forma absolutamente humilhante.
    Agora, eu pergunto: como se sentiria se do lado de S. Mamede Infesta, lançavam uns "rockets" sobre a sua área de residência só porque beberam demais na noite anterior?

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  5. Como me sentiria não sei, mas se o meu caro amigo morasse em Leça, provavelmente arrasaria com S.Mamede e com o Hospital, já agora. E com o IPO.
    Sabe, isto de morar em campos de concentração não é lá muito confortável. Principalmente quando nos vemos, no exterior, ser espoliados de tudo o que já nos pertenceu. Até o Gás natural os israelitas se esqueceram de pagar à Faixa de Gazah. Quatro mil milhões dariam jeito a quem morre de fome sempre que Israel se lembra de fechar as fronteiras...

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  6. Caro Cirrus,

    Por isso mesmo não devemos tomar partido de nenhuma das facções.

    Abraço.

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  7. Meu caro Dylan,

    A questão não é tomar partido, até porque é perigoso tomar-se partido numa guerra como esta. A questão está em lamentar-se as perdas, em termos patrimoniais e pessoais, dos civis envolvidos. E aí, desculpe-me o amigo, mas os palestinianos vão muito à frente...

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LEVANTAR VOO AQUI, POR FAVOR