quinta-feira, 13 de agosto de 2009

É VERÃO, É NORMAL!

Foto Google - Castelo do Algoso

Há notícias que nos deixam assim. E assim não sei bem o que é. É aquela sensação vaga de que conhecemos algumas coisas que muitos desconhecem. O contrário também é válido, evidentemente.
Não é novidade alguma que há duas regiões pelas quais o autor deste blog nutre um sincero e absoluto amor, e onde passa ou já passou grandes quantidades do seu tempo. Uma região é global, é uma região do Mundo, e essa é o Médio Oriente. A outra, é cá dentro, em Portugal, e dá pelo nome de Trás-os-Montes.

Claro, pode duvidar-se da veracidade destas afirmações. Ou seja, pode sempre duvidar-se que Trás-os-Montes seja Portugal. E eu até posso concordar com isso. Num país com uma variedade incrível de paisagem e costumes, mais da metade da população apenas conhece duas regiões: Lisboa e a sul dela. Não, não me verão defender o norte, como alguns hipócritas de certas cidades do norte que só contribuíram para a miséria da própria região durante anos a fio, imputando as culpas à capital. Sou nortenho, não sou cego. Mas o facto permanece: há duas regiões portuguesas que os portugueses não conhecem - Pinhal Interior e Trás-os-Montes.

A região transmontana tem aquilo que de melhor se pode encontrar em Portugal - as melhores tradições, as mais grandiosas paisagens, a melhor música genuinamente portuguesa e a melhor comida (esta, de longe, lá muito longe, apesar da excelência gastronómica portuguesa). Só não tem uma coisa: água. Leiam esta notícia.

Tem graça, não tem?? Como pode a região por onde passa o mais caudaloso rio português passar sede no Verão? E que tem rios poderosos, como o Corgo, o Pinhão, o Tua, o Sabor... É que Trás-os-Montes é vítima do seu próprio isolamento e encanto. É aquela região que é visitada por alguns, conhecida por poucos e habitado por nenhuns. Mas é uma jóia ecológica. É onde as organizações ecologistas, quercuístas, zoofilistas, faunistas, caminhistas e outras istas gostam mais de protestar contra os constantes crimes contra as suas respectivas filias. Não interpretem isto como "o gajo é pela poluição!". Não se trata disso, e eu até separo o meu lixo e recuso-me a utilizar biocombustíveis para não aumentar as minhas emissões de CO2 advindas da minha locomoção diária.

Mas lembro-me, aqui há uns anos, que, do outro lado do rio, embargou-se uma obra de barragem, no rio Coa, para salvar umas garatujas paleolíticas que absolutamente ninguém vê ou mostra qualquer tipo de interesse na actualidade. Estão ao abandono. Agora, é a barragem do Baixo Sabor que devia ser embargada por eliminar o "rio selvagem". A barragem da Foz do Tua também deve ser embargada por causa da "paisagem protegida". E andamos nisto - entretanto, é "normal" não haver água nas aldeias de Bragança. Normal para quem?

Não deixa de ser interessante verificar qual a região transmontana mais visitada. Não andarei longe da verdade ao dizer que é o Azibo. Porquê? Porque tem o museu do Careto ali ao lado? Provavelmente não. Provavelmente será pela paisagem - proporcionada pela barragem, que veio, deste modo, ajudar a preservar a fauna e flora muito particulares daquela região. As duas grandes barragens projectadas terão três virtudes: originarão duas albufeiras lindíssimas (Ok, as regiões já são lindíssimas...), mas também diminuirão a nossa dependência energética bem como potenciará o aproveitamento das suas águas para consumo.

Vamos lá a ver quantos "istas" lá vão aparecer, quando cheirar a publicidade fácil. O mais importante é fazer barulho, o povo de Trás-os-Montes, se quiser beber água, que faça como quando querem ir ao médico - que vão a Verín, ou a Sanabria ou a Zamora. A água portuguesa é para aparecer nas fotos e não para beber!

Pobre do país que considera isto "normal". Pobre do seu povo que nem o seu país conhece.

15 comentários:

  1. Cirrus, conheço mais ou menos a região de Trás-os-Montes, não tão bem como tu, mas lá vou conhecendo alguma coisa. Até as gravuras de Foz Côa eu conheço, vê lá tu!

    Apesar de ser apologista de que é preciso preservar a paisagem, a fauna e a flora, os achados, a tradião, etc., também digo sempre que é necessário ponderar o que é a maior valia para o presente e futuro de uma região.
    No caso das gravuras, sinceramente, não me chocava nada que elas fossem retiradas do local onde estão (não era difícil) e a construção da barragem fosse então possível.

    Os transmontanos, são sem dúvida nenhuma sacrificados em nome de muitas coisas, e só resistem aqueles que têm mesmo amor à terra e fazem jus à "alma transmontana". E depois há quem se admire com a desertificação do interior! Eu cá não me admiro nada, apesar de a lamentar profundamente.

    Ecologistas, verdistas, querquistas e afins... tenho dois na família! E para mim (que também separo o lixo e essas coisinhas todas em prol do ambiente) acabam por se comportarem como verdadeiros fundamentalistas... condição que, sinceramente, não me agrada nadinha.

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  2. Não me parece que a região do Azibo seja a zona transmontana mais visitada. Talvez Bragança, ou Chaves, pelas suas riquezas monumentais e a próximidade com Espanha, aliadas às infraestruturas turísticas.
    Nem estou a ver pessoal do litoral fazer centenas de km por causa de uma praia fluvial localizada numa barragem, caso do Azibo.

    Quanto às gravuras, reconheço que estão mal aproveitadas/publicitadas no espaço exterior. Está ali um grande filão a ser melhor explorado, consequentemente gerador de riqueza.
    Lamento que as gravuras de V. N. Foz Côa sejam constantemente desconsideradas. Olha, façam como os talibãs, no Afeganistão, rebente-se à bomba, como fizeram com as estátatuas dos Budas!

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  3. Pronúncia

    Não sou a favor de destruir para apenas se ganhar dinheiro. Nem sou a favor de se acabar com as riquezas das regiões. Mas sou a favor que todos tenhamos os mesmos direitos, coisa que não acontece com os transmontanos.

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  4. Dylan, a resposta que dei à Pronúncia vale para ti também. Não sou realmente a favor de especulações económicas. Mas também não sou a favor de especulações ecológicas, para mais sabendo nós da dependência energética que temos. A Barragem do Coa já teria pago todo o filão que referes, e que, até à data, não existe. Não digo que as gravuras não tenham enorme valor, para mais sabendo da minha propensão para a história. Não podemos é confundir cultura com riqueza e muito menos com direitos humanos, como é o caso.
    Quanto aos Talibãs, destruíram uma grande reserva cultural por motivos religiosos, mas também sabemos que são doidos varridos. Mas, afinal, é o que acontece por esse mundo fora com tantas outras relíquias do passado, destruídas sem motivo aparente - veja-se a capital dos Aztecas, Tenochtitlán, a grande pirâmide de Cholula, ou as culturas inuit e ameríndias, todas destruídas apenas pela ganância.

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  5. Cirrus: não, não é normal! Eu conheço essa triste realidade ;mas, mais triste ainda, é esses "CAGA-LÉRIAS"não saberem o que fazer com o dinheiro que nos roubam!
    De manhã, na TSF, ouvi dizer que a Alemanha regista pequenos sinais de estar a superar a crise. Como quando nos dói um dente e parece que o outro, ao lado, também dói, essa saída da crise estendeu-se logo à boca do sócrates...OUVISTE,AMIGO, já começámos a sair da crise TAMBÉM!...

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  6. Já fui a Trás os Montes mas não conheço tão bem como outras regiões, o que acho é que o interior é verdadeiramente desprezado pelo poder politico. Talvez porque o número de votos cada vez seja menos.

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  7. Maria, pelos vistos os números são iguais para Alemanha, França e Portugal: 0,3% de crescimento no último trimestre.

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  8. Forte, sinceramente, não me parece ser isso. Parece-me que há um genuíno desconhecimento por parte da maior parte dos portugueses em relação a certas regiões, incluindo os políticos. Já te contei a história do meu colega que pensava que o resto do país é como o Barreiro...

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  9. Boa noite amigo. Ora aí está algo sobre o qual eu nunca me farto de fazer barulho! Que se condenem regiões inteiras para proveito de meia dúzia, ou sabes-se lá de quê.

    Na minha terra, há um rapaz mais ou menos da minha idade, pai de três filhos, que viveu de renda anos, até conseguir angariar uns tostões e comprar um casebre velho, onde deveria construir uma casita para acabar de criar os filhos.
    Quando começou as obras, há uma inteligente recém-formada em arqueologia ou no raio que a parta, vizinha do tal casebre, que se lembrou de ir para lá aos fins de tarde remexer nos alicerces da futura casa do homem.
    Olhe, reclama que encontrou la uns cacos não sei de quê, fez tal alarido que embargaram a obra ao rapaz. Este com a letra ao banco todos os meses, não pode pagar uma renda e está há mais de 2 anos a viver com a família no barraco que tinha construído para guardar as ferramentas da obra.

    Vê as tais mentalidaes?

    Um abraço
    Francisco

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  10. Cirrus

    Tens de me contar essa do teu colega que é de bradar aos céus.

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  11. Francisco, boa noite

    Sua terra ou nossa terra?... Não exactamente, mas originário de lá muito perto... E passava quase todos os dias na ponte da Varela...

    Bem, falando do post: pois, o problema não está em preservarmos a nossa cultura, o problema é queremos preservar coisas, às vezes sem grande interesse, em detrimento daquilo que devíamos preservar acima de tudo: as vidas das pessoas.

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  12. Forte, o meu colega veio trabalhar connosco para a delegação norte da companhia e ficou, em determinado segmento de mercado, com a zona a norte do Douro (que é a minha, acrescentando a Guarda). Quando chegou à famosa curva da IP5 que desemboca (visualmente) no Vale do Marão, assustou-se e quase se atirava para fora da estrada. Não precisava, dizia ele, de guia ou conselhos para conduzir em Trás-os-Montes, pois tinha estudado o mapa!! Depois saiu-se com essa - pensava que o relevo do país era mais como a zona entre o Barreiro e Pegões! Pensava ele que a Arrábida era uma serra muito grande!

    Bem, agora está mais habituado e até já o levei a subir Bornes a nevar!

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  13. Desta vez estamos completamente de acordo.

    A preservação das gravuras é importante, mas sinceramente, não teria sido possível retirá-las de onde estão e pouca gente as visita (além de que alguns dos locais nem sequer estão abertos ao público em geral e apenas a investigadores) e fazer um museu onde seriam colocadas?! De certeza que teriam mais visitantes, seriam mais rentáveis e a barragem poderia ter sido construída. Mas não, neste País é o oito ou o oitenta... e as populações que se danem e aguentem com o pouco que têm...

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  14. Nem mais, acaba por ser sempre um país de fundamentalistas. Dizes muito bem, o oito ou o oitenta!!

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